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Relatório dos serviços secretos dos EUA mostra que príncipe saudita aprovou o assassínio de Khashoggi, segundo a Reuters

De acordo com a Reuters, que cita quatro fontes próximas da investigação, o relatório da CIA apresenta provas de que Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro saudita, não só aprovou o assassínio do jornalista Jamal Khashoggi, como “provavelmente” o ordenou. O documento deverá ser divulgado ainda esta quinta-feira

O príncipe herdeiro Mohammed bin Salman lidera o Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita
Getty Images

O príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman, terá aprovado o assassínio, em 2018, do jornalista Jamal Khashoggi. É essa a conclusão do relatório realizado pelos serviços secretos dos EUA sobre a morte do jornalista, segundo os meios de comunicação que tiveram entretanto acesso ao mesmo. O relatório, que tem por base informações recolhidas sobretudo pela Agência Central de Informação (CIA), deverá ser divulgado esta quinta-feira pelo Governo norte-americano.

De acordo com a Reuters, que cita quatro fontes próximas da investigação, o documento apresenta provas de que Mohammed bin Salman não só aprovou o assassínio do jornalista saudita, como “provavelmente” o ordenou. “A divulgação pública (do relatório) marcará um novo capítulo nas relações dos Estados Unidos com a Arábia Saudita e uma diferença clara entre a política do Presidente Joe Biden e a do ex-Presidente Donald Trump”, disse a emissora NBC, indicando ter tido também acesso ao relatório.

Joe Biden, presidente dos EUA, deverá conversar “em breve” com o rei Salman, pai de Mohammed, conforme adiantou na quarta-feira Jen Psaki, porta-voz da Casa Branca, em declarações a jornalistas. Segundo a porta-voz, o relatório será divulgado pela diretora nacional de informação, Avril Haines, sendo intenção de Biden “reajustar” a relação com Riade face à postura da anterior administração norte-americana, algumas vezes acusada de ter fechado os olhos à questão dos direitos humanos em relação ao seu aliado próximo. “Isto significa que não ficará em silêncio, dirá alto e bom som quando estiver preocupado com as violações dos direitos humanos, com a falta de liberdade de imprensa e de expressão”, adiantou.

Restringir a entrada nos EUA de líderes sauditas seria “passo pequeno mas significativo”

Já na semana passada Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, havia dito que a divulgação do referido relatório seria acompanhada de outras ações, no sentido de responsabilizar todos aqueles que estiveram envolvidos no crime. Não foi dito na altura, contudo, que ações seriam essas. Num artigo de opinião publicado recentemente no site da CNN, Abdullah Alaoudh, professor e filho de um conhecido clérigo saudita e prisioneiro político que foi condenado, aliás, à pena de morte na Arábia Saudita, e Michael Eisner, antigo procurador, pedem ao Governo dos EUA para aplicar “sanções específicas” de modo a pressionar a Arábia Saudita no sentido de acabar com a proibição de saída de dissidentes e seus familiares do país.

Tal medida, argumentam, iria “dar um sinal aos sauditas e à comunidade internacional de que os EUA estão do lado da sociedade civil e bem distantes das políticas de apoio a déspotas da administração de Donald Trump”. Outro “passo pequeno mas significativo” seria restringir a entrada em território norte-americano de líderes sauditas.

Jamal Kashoggi, saudita de 59 anos, residente nos Estados Unidos e cronista do jornal The Washington Post, foi assassinado no consulado do seu país em Istambul (Turquia), a 2 de outubro de 2018, por agentes sauditas. O Senado norte-americano, que teve acesso às conclusões dos serviços de informações, considerou na altura que o príncipe herdeiro era “responsável” pelo assassínio.

Riade inicialmente negou qualquer responsabilidade, mas mais tarde disse que o jornalista foi morto acidentalmente por agentes que tentavam extraditá-lo. A versão oficial da Arábia Saudita é que esses agentes, ligados a Mohammed bin Salman, agiram por conta própria e que o príncipe não esteve envolvido. Oito pessoas foram condenadas na Arábia Saudita pela morte de Khashoggi, cinco das quais à pena capital. Mais tarde estas sentenças foram comutadas para 20 anos de prisão.