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Ursula Von der Leyen: “Este é o momento para a Europa liderar o caminho e sair desta fragilidade para a vitalidade”

No seu primeiro discurso sobre o Estado da União, Ursula Von der Leyen elegeu o pilar da Saúde como prioridade no atual contexto da pandemia. Defendeu que a UE deve aproveitar esta oportunidade para inaugurar uma nova fase de “vitalidade” e que é preciso cumprir o Acordo Verde Europeu. Pelo meio houve também recados para o Reino Unido devido ao Brexit. “O acordo não pode ser alterado unilateralmente, ignorado ou revogado. É uma questão de lei, confiança e boa fé”, alertou

A presidente da Comissão Europeia quer que a união aduaneira seja elevada a um novo patamar
POOL

A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, admitiu que a pandemia não dá sinais de enfraquecimento e defendeu que esta é a altura de a Europa inaugurar um novo caminho rumo à recuperação económica.

"Este é o momento para a Europa liderar o caminho e sair desta fragilidade para uma nova vitalidade", afirmou Usula Von der Leyen, após ter dirigido palavras de agradecimento a todos os trabalhadores europeus que estiveram na linha da frente de combate à covid-19, num discurso que durou mais de uma hora.

Profissionais, segundo a presidente da Comissão Europeia, cuja "coragem" e "sentido de dever" devem inspirar todos os europeus. "Um dos espíritos mais corajosos da nossa época, Andrei Sakharov, um homem tão admirado deste Parlamento sempre falou da sua convicção na força escondida do ser humano. Nos últimos seis meses, os europeus deram prova de toda essa confiança desde cuidadores em lares, médicos e enfermeiros", realçou.

Falando num "vírus milhares de vezes mais pequeno do que um grão de areia" que mostrou "o quão frágil é a vida", Ursula von der Leyen considerou que o atual contexto levou também à redescoberta dos valores comuns europeus: cujos indivíduos foram obrigados a sacrificar a liberdade individual em prol da segurança e da saúde de todos.

Mas alertou que o clima é ainda de "enorme incerteza" e que o cenário poderá agravar-se na Europa. "Nós sabemos que os números [da pandemia] podem sair rapidamente de controlo. Por isso, temos de continuar a lidar com a Covid-19 com extremo cuidado, responsabilidade e unidade", observou.

Pilar da Saúde é prioridade

No topo das prioridades está o reforço dos fundos destinados à Saúde e a discussão de mais competências para a UE nesta área, que resulta de "lições" retiradas da atual crise pandémica. Recorde-se que o aumento das verbas na Saúde proposto por Bruxelas foi travado pelos lideres europeus em julho. A este propósito, a presidente da Comissão Europeia aproveitou para anunciar que irá convocar uma Cimeira Global da Saúde, em 2021, na Itália.

Reconhecendo que é vital encontrar uma vacina contra a Covid-19 segura e acessível, Von der Leyen frisou que a UE continuará apoiar a investigação científica e defendeu a cooperação entre países nesta área. "O nacionalismo em relação às vacinas coloca vidas em risco, já a cooperação salva vidas", sustentou.

Tão ou mais importante, sublinha Ursula, será que os Estados-Membros no plano económico garantam condições para estabelecerem Salários Mínimos. Neste âmbito, Bruxelas irá apresentar uma "proposta para apoiar os países europeus" com vista este objetivo.

Acordo Verde Europeu

Para Von der Leyen, "nunca a confiança no euro foi tão forte", sendo fundamental que a UE aproveite esta oportunidade para levar a cabo reformas estruturais e completar a União Bancária. Além disso, adiantou que Bruxelas deverá propor uma nova estratégia para o futuro da Zona Schengen.

A nível ambiental, a presidente da Comissão Europeia disse que é preciso cumprir o Acordo Verde Europeu (European Green Deal) com vista a travar o aquecimento global. Sublinhou que mesmo durante a quarentena, o planeta continuou a aquecer e que é vital uma ação rápida e decisiva, anunciando uma nova meta de redução das emissões em 55% até 2030 para atingir a neutralidade climática duas décadas depois.

"2030 é uma meta ambiciosa, mas alcançãvel e benéfica para a Europa. Não existe ação mais urgente para a aceleração do que aquela que diz respeito ao nosso frágil planeta. O Pacto Verde Europeu é o modelo para fazer essa transformação", disse perentória.

Um “novo início” com o Reino Unido

Relativamente ao Brexit, Von der Leyen apelou ao Reino Unido e a Boris Johnson para cumprir o acordo com a União Europeia e citou até a antiga primeira-ministra Margaret Thatcher para defender que a confiança é a base de uma aliança forte.

“O acordo não pode ser alterado unilateralmente, ignorado ou revogado. É uma questão de lei, confiança e boa fé. Não sou só eu que o digo. Lembro as palavras de Margaret Thatcher: 'A Grã-Bretanha não quebra tratados. Seria mau para nós, mau para as relações com o resto do mundo, e mau para qualquer tratado futuro sobre o comércio'", considerou.

A presidente da Comissão Europeia não deixou também de aproveitar para criticar a administração Trump, com o lema "EUA em primeiro lugar", garantindo que o velho continente nunca assumirá postura semelhante. Ainda assim, assegurou que a "União Europeia irá sempre acarinhar esta relação transatlântica entre dois parceiros que partilham alguns valores e ideais comuns".

O discurso que inaugura a rentrée do Parlamento Europeu partiu de uma iniciativa de Durão Barroso enquanto presidente da Comissão Europeia durante o seu segundo mandato, em 2009. O objetivo é fazer o balanço do ano anterior e antecipar os desafios para o próximo ano: desta vez terá como pano de fundo o Plano de Recuperação Europeia na sequência da pandemia.

Mas foram abordados também outros temas que marcam a atualidade europeia, como o combate às alterações climáticas e política de migração e asilo.

O debate está a ter lugar em Bruxelas e não em Estrasburgo, uma vez que a cidade francesa é considerada atualmente pelas autoridades uma zona de elevado contágio de infeções por covid-19.

(Em atualização)