A Convenção Nacional Democrata entra esta quinta-feira (madrugada de sexta em Lisboa) no seu quarto e derradeiro dia, após duas intervenções marcantes do antigo Presidente Barack Obama e da candidata do partido à vice-presidência dos EUA, Kamala Harris. A passadeira (virtual, por causa da pandemia de covid-19) será estendida a Joe Biden, que tem como principal tarefa impedir a reeleição de Donald Trump a 3 de novembro. “Este é o momento do Joe em que poderá mostrar que não é ‘sleepy’ [‘sonolento’, como que lhe chama Trump] nem demasiado velho para ser Presidente”, antecipa John Aldrich, professor de Ciência Política da Universidade Duke.
“Esta é a oportunidade de Biden para marcar a sua diferença relativamente a Trump, que discursará na próxima semana no Comité Nacional Republicano, e apresentar uma visão mais otimista, determinada e inclusiva”, acrescenta o académico ao Expresso. O gestor de relações públicas Russell Schaffer concorda: “Esta noite todos os olhos estarão em Biden. Os republicanos vão rezar para que ele cometa um erro, para que se confunda, para que misture palavras, para que pareça cansado e fraco. Os republicanos colocaram as expectativas tão baixas nele que, independentemente do que fizer, sairá como vencedor”, diz ainda.
O gestor ouvido pelo Expresso acredita que Biden falará “bastante dos seus anos como vice-presidente e como senador”, mas também da sua vida pessoal: “a perda trágica da sua primeira mulher e de uma filha em 1972 e a morte do seu filho Beau em 2015”. “Biden é capaz de falar sobre dor e perda de uma forma que poucos políticos conseguem. Mais importante: tem de falar sobre o que fará como Presidente. Como estará o país depois de Trump? Como tenciona restaurar a nação? Biden tem simultaneamente de tranquilizar e excitar os americanos”, defende.
Esta quarta-feira era a noite da confirmação de Harris como a candidata democrata à vice-presidência, o que naturalmente aconteceu, mas Obama ‘roubou’ o show à senadora da Califórnia. Foram dele as palavras mais contundentes contra o seu sucessor, Trump. “Esta Administração demonstrou que destruirá a nossa democracia se isso for necessário para ele vencer”, acusou Obama, num discurso filmado em Filadélfia, a cidade onde a Constituição americana foi redigida e assinada. E também acusou Trump de transformar o cargo mais importante do país em “mais um ‘reality show’ para obter a atenção que deseja”.