Há um acordo histórico de paz à vista entre os Emirados Árabes Unidos e Israel, que aceitou suspender o plano de declarar a soberania sobre os territórios da Palestina ocupados. O acordo foi mediado pelos Estados Unidos, divulgado num comunicado conjunto de Washington e Abu Dabi, e também difundido pelo presidente norte-americano, Donald Trump, na sua conta no Twitter.
As autoridades de Israel e dos Emirados Árabes Unidos vão reunir nas próximas semanas para firmar acordos bilaterais e estabelecer projetos conjuntos a nível de investimentos, turismo, tecnologia, telecomunicações ou ligações aéreas, além da abertura de embaixadas.
Segundo Mike Pompeo, secretário de Estado norte-americano citado pelo jornal "La Razon", este é um "enorme" passo com vista "ao caminho correto" e no sentido de Israel e os Emirados Árabes normalizarem as suas relações.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, classificou o estabelecimento de relações diplomáticas com os Emirados Árabes Unidos como um "dia histórico", enquanto Abu Dhabi disse tratar-se de uma "vitória" da diplomacia.
"Yom histori (dia histórico)", escreveu Netanyahu, em hebraico, na rede social Twitter, comentando a declaração de Donald Trump sobre a normalização de relações entre Israel e os Emirados e Israel. Segundo Trump, a iniciativa anunciada esta quinta-feira faz parte do plano de paz norte-americano para o Médio Oriente.
O príncipe herdeiro de Abu Dhabi salientou que o acordo inclui o fim da anexação israelita de novos "territórios palestinianos". "Numa ligação entre o Presidente Trump e o primeiro-ministro Netanyahu, um acordo foi alcançado para encerrar qualquer anexação adicional de territórios palestinianos", escreveu o xeque Mohammed bem Zayed Al Nahyane, também no Twitter.
Opinião contrária foi já expressa pelo porta-voz do Hamas, que acusa os Emirados de "esfaquearem" os palestinianos pelas costas, ao chegar a acordo com Trump e Israel, enquanto a Autoridade Palestiniana fez duras críticas ao arranjo. Hanan Ashrawi, que reagiu também no Twitter em nome da Autoridade Palestiniana, considerou que "Israel foi recompensado por não declarar abertamente o que tem feito à Palestina de forma ilegal e persistente desde o início da ocupação".
Os Emirados Árabes Unidos saíram da sombra das "negociações secretas e normalização com Israel", acrescentou Ashrawi. A dirigente do Comité Executivo da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) referiu-se ainda à longa ocupação israelita do território palestiniano, que começou em 1967.
"Que nunca experimentem a agonia de terem o seu país roubado; que nunca se sinta a dor de viver em cativeiro sob ocupação; que nunca testemunhem a demolição de sua casa ou o assassínio dos seus entes queridos. Que nunca vendam os teus 'amigos'", respondeu assim ao xeque dos Emirados Árabes Unidos, que elogiou o acordo nas redes sociais.
O movimento islâmico palestiniano Hamas, que controla a Faixa de Gaza, rejeitou o acordo, alegando que "não serve à causa palestiniana de forma alguma". "Isso encoraja a ocupação (israelita) a continuar, negando os direitos do povo palestiniano e aumentando as agressões contra nós", afirmou o porta-voz do Hamas, Hazem Qassem. O Hamas governa a Faixa de Gaza.
Por seu lado, os Emirados disseram que o acordo para normalizar relações com Israel foi um "passo ousado" que vai alcançar "uma solução de dois Estados" para o povo palestiniano.
"A maioria dos países vai ver isto como um passo ousado para alcançar uma solução de dois Estados, dando tempo para negociações", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros, Anwar Gargasg, em conferência de imprensa, acrescentando que "rapidamente" os dois países vão proceder à abertura de embaixadas.
O conflito entre Israel e os Emirados Árabes Unidos sobre a Palestina remonta ao século XIX, quando colonos judeus começaram a migrar para a região juntando-se a outros judeus remanescentes de invasões. Sendo os judeus um dos povos do mundo que não tinham um Estado próprio, tendo sempre sofrido por isso várias perseguições, foram movidos pelo projeto de sionismo, no objetivo de refundar na Palestina um estado judeu.
Mas a Palestina, habitada há milénios por judeus, estava ocupada nos últimos séculos por uma maioria árabe, sobretudo de pessoas oriundas da Síria. O conflito entre judeus e árabes sobre o território da Palestina perdurou no século XX, pelo que o novo acordo entre Israel e os Emirados Árabes Unidos se perfila como um marco histórico.