Internacional

Juan Carlos voou de Espanha para Abu Dhabi, escreve o jornal “ABC”

Após uma semana de intensa especulação, o jornal madrileno pró-monárquico, que situava Juan Carlos de Borbón na República Dominicana, revela o plano de voo do rei emérito, que afinal partiu com destino aos Emirados Árabes Unidos. O Governo espanhol e a Casa Real continuam sem emitir qualquer informação sobre o seu paradeiro

Após décadas de prestígio, o ocaso de Juan Carlos I tem sido embaraçoso para o filho Felipe VI
PHILIPPE MARCOU/AFP/GETTY IMAGES

O rei emérito Juan Carlos de Espanha terá voado, segunda-feira, para Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, revela esta sexta-feira o jornal “ABC”, de tendência pró-monarquia. A mesma publicação que noticiou que o antigo monarca se encontrava na República Dominicana revela agora o plano de voo detalhado de Juan Carlos, segundo o qual este descolou pelas 10 da manhã de Vigo (Galiza), num jato privado.

Embora o plano de voo indicasse a rota Paris-Abu Dhabi, o avião passou a noite de domigno em Vigo, tendo partido da capital francesa ao meio-dia. No dia seguinte saiu da cidade galega com pelo menos cinco passageiros, segundo o diário madrileno: quatro escoltas e alguém da máxima confiança de Juan Carlos.

O Governo espanhol e a Casa Real continuam sem emitir qualquer informação sobre o paradeiro de Juan Carlos. Indicam que só o próprio poderá divulgá-lo, caso deseje.

A aeronave, de modelo Bombardier Global 6500 com matrícula 9H-VBIG, foi alugada à empresa TAG Aviation na sua sede em Malta. Tem, segundo o “ABC”, autonomia de voo de mais de 11 mil quilómetros.

Sabia-se que Juan Carlos estivera na Galiza, em Sanxenxo, local que apreciava por ali praticar vela e onde se encontrou com amigos. Circulou a informação de que teria ido dali para o Porto, divergindo depois as notícias entre as que o situavam em Portugal (nomeadamente em Azeitão ou na linha de Cascais) e na capital dominicana, Santo Domingo.

O “ABC” escreve que a viagem, de 6038 quilómetros, demorou sete horas e 13 minutos e terminou no aeroporto Al Bateen, reservado a voos privados. Dali o grupo de Juan Carlos terá ido de helicóptero para o luxuoso Hotel Emirates Palace, recinto de 850 mil metros quadrados que é propriedade do Governo dos Emirados Árabes Unidos.

O jornal admite que Juan Carlos possa ainda deslocar-se à República Dominicana antes de regressar a Espanha (algo que, segundo amigos, admite fazer já em setembro). Estará à espera do final da temporada dos furacões nas Caraíbas para passar uns dias no recinto Casa de Campo, propriedade do seu amigo e empresário do açúcar Pepe Fanjul, que já prometeu em público estar disposto a recebê-lo.

Malas com milhões

O rei emérito já ficou neste hotel, tendo visitado várias vezes o país desde que abdicou, em 2014, e mantendo boas relações com a respetiva família real. A última viagem de Juan Carlos aos Emirados fora em novembro de 2019, para assistir ao grande prémio de fórmula 1. O ex-monarca era presença assídua nos países do Golfo Pérsico. Sete anos antes assistira à mesma prova no Kuwait, ao lado da então amante Corinna Larsen, empresária alemã cujas revelações desencadearam o escândalo que acabou por levá-lo a decidir sair de Espanha.

O Emirates Palace é praticamente à prova de paparazzi e é numa das suas seis suites presidenciais, à razão de 11 mil euros por noite, que o rei emérito de Espanha estará alojado. O jornal adianta que não sai do hotel devido à temperatura de 40ºC e sensação de 50ºC.

Abu Dhabi é, curiosamente, um dos países de onde o rei emérito é acusado por Larsen de trazer avultadas quantias de dinheiro em malas. A alemã, que o acompanhou em algumas dessas viagens, afirmou que Juan Carlos vinha deste emirado ou do Bahrein com “cinco milhões” na mala, aproveitando o facto de poder transitar por corredores diplomáticos. As suas afirmações estão em gravações realizadas por um antigo comissário da polícia, José Manuel Villarejo, hoje em prisão preventiva e acusado de corrupção.

Juan Carlos é investigado na Suíça e em Espanha a respeito de 65 milhões de euros que depositou num banco helvético. Um procurador suíço suspeita que se tratasse de uma comissão paga pelo rei da Arábia Saudita por o rei emérito ter convencido o consórcio espanhol que realizou as obras do comboio de alta velocidade Meca-Medina a reduzir o preço da empreitada.

Acusado pela esquerda espanhola de fugir à Justiça, Juan Carlos fez saber que está à disposição das autoridades caso queiram interrogá-lo. Não há nenhum processo em tribunal aberto contra o ex-rei.