O local do exílio do rei emérito Juan Carlos I já é conhecido, segundo vários meios de comunicação espanhóis, entre eles o muito monárquico diário “ABC” e o catalão “La Vanguardia”. Trata-se da República Dominicana, onde reside também o multimilionário empresário (e amigo íntimo) Pepe Fanjul. Ou seja, o ex-monarca não regressou a Portugal, onde já viveu, nem foi para a Nova Zelândia, que um dia apontou como destino caso um dia tivesse de deixar o seu país.
A viagem terá ocorrido no fim de semana. Juan Carlos deixou Madrid no domingo, após escrever ao filho a anunciar a partida. Dali foi de carro até ao Porto, onde apanhou o avião no aeroporto Francisco Sá Carneiro com destino a Santo Domingo, na República Dominicana. O Expresso tentou confirmar a viagem junto da ANA Aeroportos de Portugal, até ao momento sem sucesso.
A saída de Espanha foi anunciada segunda-feira, através de uma carta enviado ao filho, Filipe VI, e tornada pública pela Casa Real. O homem que reinou entre 1975 e 2014 explica que não quer prejudicar o reinado do sucessor, que subiu ao trono após a sua abdicação, em 2014. Foi então que lhe foi atribuído o título de rei emérito, que o jornal “El País” considera agora poder estar em causa.
As notícias desta terça-feira parecem afastar a hipótese aventada nessa noite pela TVI24, segundo a qual Juan Carlos regressara ao Estoril, palco do seu exílio juvenil no século XX. A informação chegou a ser reproduzida por meios de comunicação espanhóis.
O “ABC” admite que o ex-rei, que anunciou segunda-feira que abandonava Espanha para não prejudicar o reinado do filho Filipe VI (que lhe sucedeu por abdicação em 2014), possa ter aceite um convite de um amigo na República Dominicana. A sua posição em Madrid, onde vivia no mesmo palácio da Zarzuela que é residência oficial do atual chefe de Estado, tornara-se insustentável após a revelação das suas manobras financeiras, em parte denunciadas pela sua antiga amante Corinna Larsen.
Rainha Sofia fica em Madrid
O maior amigo de Juan Carlos nas Caraíbas, escreve o “ABC” , é o empresário do açúcar Pepe Fanjul, residente em Miami. É proprietário do complexo Casa de Campo, em La Romana (República Dominicana) e de várias casas que poderá disponibilizar ao exilado. São amigos há décadas e até partilham laços familiares: uma tia-avó de Fanjul casou com um tio de Juan Carlos.
“La Vanguardia” escreve que Juan Carlos ficará alojado na Casa de Campo durante umas semanas, sem intenção de fazer do recinto sua morada permanente. Na missiva a Filipe VI, o antigo chefe de Estado explica que sai do país “perante a repercussão pública gerada por certos acontecimentos passados da [sua] vida privada”, mas não revela o destino nem se a mudança é definitiva.
Quem não acompanha a viagem transatlântica do antigo monarca é a sua mulher. A rainha emérita Sofia permanecerá em Madrid, onde vive com a irmã Irene da Grécia. Juan Carlos e Sofia fazem vidas separadas há muitos anos, embora residam no mesmo palácio e apareçam juntos em algumas cerimónias oficiais. A mãe do atual rei deve manter a sua agenda institucional, como acontece desde que o marido abdicou.
O anúncio da partida de Juan Carlos apanhou Sofia em Palma de Maiorca, local tradicional das férias da família real espanhola. Estava com a irmã e a filha mais velha, Elena, prevendo-se que os reis Filipe e Letizia se desloquem para o mesmo destino em breve, com as filhas Leonor e Sofia.
Exílio pode não ser definitivo
O “ABC” frisa que Santo Domingo pode não ser o destino final de Juan Carlos. Foi numa conversa privada com dirigentes do jornal madrileno que o então rei terá dito que, caso tivesse de exilar-se, escolheria a Nova Zelândia. A preferência por este país dos antípodas dever-se-ia à gastronomia e às condições para praticar vela.
Outro jornal de Madrid, “El Mundo”, cita amigos anónimos de Juan Carlos, que garantem que este está “bem de ânimo”. Um deles lança dúvidas sobre a duração do exílio: “Disse-nos com toda a normalidade que talvez volte em setembro”.
Ao anunciar a partida de Espanha, o antigo monarca prometeu estar à disposição das autoridades judiciais caso desejem interrogá-lo a respeito das suspeitas que sobre si recaem. O amigo citado por “El Mundo” clarificou, porém, que não é a isto que se referia ao mencionar um possível regresso.
Aviso prévio ao Governo... ou parte dele
Segundo o jornal digital espanhol OK Diario, a decisão de Juan Carlos foi tomada uma semana antes da partida e revelada pelo rei Filipe VI ao primeiro-ministro Pedro Sánchez. O Executivo espanhol reagiu ao anúncio do autoexílio sem mencionar Juan Carlos, limitando-se a louvar o “sentido de exemplaridade e transparência que sempre guiaram o rei Filipe VI”.
O governante socialista quererá manter boas relações com o chefe de Estado, num equilíbrio sempre ténue devido ao republicanismo militante (que as revelações sobre Juan Carlos vieram reforçar) do seu parceiro no poder, o Podemos. Esta formação esquerdista demarcou-se do discurso governamental, exigindo antes que não se deixasse Juan Carlos “fugir” sem ter saldado contas com a justiça.
O líder do Podemos e vice-primeiro-ministro Pablo Iglesias falou nas redes sociais de “fuga para o estrangeiro”, a seu ver “uma atitude indigna de um ex-chefe de Estado” que “deixa a monarquia numa posição muito comprometida”. Irene Montero, ministra da Igualdade e mulher de Iglesias, assegura que o seu partido não foi informado da iminente partida de Juan Carlos.
Sánchez e o seu Partido Socialista Operário Espanhol juntaram-se à direita parlamentar em junho para travar a criação de uma comissão de inquérito aos atos do ex-rei. A proposta fora feita pelo Podemos e recebera o apoio de partidos de esquerda e forças nacionalistas catalãs, bascas e outras.