Internacional

Dez vidas negras que não importaram nos últimos 15 anos nos EUA

George Floyd foi o último de vários afro-americanos que morreram violentamente às mãos da polícia, nos Estados Unidos. Nestes dez casos, ocorridos ao longo dos últimos 15 anos, quase sempre os agentes ficaram impunes

“As vidas negras importam”,defende-se neste cartaz, em Washington, durante uma manifestação em memória do afro-americano George Floyd, assassinado por um polícia em Minneapolis
Yasin Ozturk / Anadolu Agency / Getty Images

SEAN BELL
A 25 de novembro de 2006, horas antes de se casar, Sean Bell, de 23 anos, foi morto quando o seu carro foi alvejado 50 vezes por cinco agentes da polícia de Nova Iorque. O afro-americano tinha saído do Club Kalua, um clube de strip na zona de Queens, onde celebrara a sua despedida de solteiro com dois amigos. Um deles envolveu-se numa altercação à saída do clube, despertando a atenção da polícia. Os amigos ficaram gravemente feridos. Dos cinco agentes envolvidos, três foram julgados e declarados inocentes. O Club Kalua já não existe: o espaço é agora um local de oração.

OSCAR GRANT
Era 1 de janeiro de 2009 e o metro que chegava de São Francisco vinha apinhado de gente que tinha ido festejar a passagem de ano à cidade. A polícia recebeu um alerta de confrontos e acorreu à estação de Fruitvale, em Oakland. Na plataforma, vários passageiros foram detidos, entre os quais o afro-americano Oscar Grant, de 22 anos. Enquanto o algemavam, deitaram-no no chão, de bruços, com um agente de joelhos sobre o seu corpo. Pouco depois, outro polícia alvejou-o nas costas. O momento foi captado por vários telemóveis de passageiros. O agente foi condenado a dois anos de prisão, mas beneficiou de uma redução de pena. Este caso inspirou o filme “Fruitvale Station — A Última Paragem”, de 2013.

TRAYVON MARTIN
Aproveitando uma pausa nas aulas, Trayvon Martin, de 17 anos, que vivia com a mãe em Miami Gardens (Florida), foi passar uns dias com o pai, em Sanford, no mesmo estado. A 26 de fevereiro de 2012, quando ia pela rua, foi alvejado mortalmente por um vigilante do condomínio que antes tinha alertado o 911 (o 112 europeu) para a presença na área de uma “pessoa suspeita”. Em tribunal, o segurança alegou legítima defesa e foi ilibado.

ERIC GARNER
Estava numa rua de Staten Island, um bairro de Nova Iorque, quando começou a ser rondado por um grupo de polícias que o acusavam de vender ilegalmente cigarros avulsos. No momento da detenção, ofereceu resistência e um agente envolveu-lhe o pescoço com um braço, estrangulando-o. “I can't breathe” (Não consigo respirar), ouviu-se onze vezes num vídeo que registou o incidente. Perdeu a consciência e foi levado para o hospital, onde foi declarado morto. O caso ocorreu a 17 de julho de 2014 e motivou protestos de rua. A família de Eric Garner recebeu uma indemnização do município de Nova Iorque no valor de 5,9 milhões de dólares (5,2 milhões de euros), mas o agente nunca foi julgado. Apenas alvo de um inquérito disciplinar que concluiu no seu despedimento, cinco anos depois.

MICHAEL BROWN
A 9 de agosto de 2014, Michael Brown, de 18 anos, morreu atingido por seis tiros no peito enquanto lutava com um polícia de 29 anos, em Ferguson, nos subúrbios de St. Louis (Missouri). O agente tinha-se lançado no encalce do jovem, após ser detetado nas câmaras de vigilância de uma loja de conveniência a roubar cigarrilhas. A polícia defenderia que o jovem comportou-se de forma “agressiva” com o agente. Segundo o relato de uma testemunha, Michael teria erguido os braços e pedido para o agente não disparar. “Hands up, don’t shoot”, foi o grito que mais se ouviu nos protestos que se seguiram, em Ferguson, e que degeneraram em violência, pilhagens e muita destruição. O agente nunca foi julgado.

TAMIR RICE
Tinha 12 anos e estava a brincar num parque público de Cleveland (Ohio) quando foi alvejado fatalmente. A polícia tinha sido chamada ao local por um transeunte que alertou para a presença de um homem que não parava de “tirar uma arma das calças e de a apontar às pessoas". A pistola de Tamir era um brinquedo, uma réplica quase fiel de uma arma de airsoft. Dois polícias chegaram ao local e um deles disparou quase de imediato. Foi despedido, mas não julgado. Este caso aconteceu a 22 de novembro de 2014.

FREDDIE GRAY
Foi preso na rua, sem oferecer resistência, por agentes da polícia de Baltimore (Maryland), a 12 de abril de 2015, que depois justificaram a detenção alegando que ele estava em posse de uma faca. Durante a viagem dentro da carrinha da polícia, ficou inanimado e foi levado para o hospital. Morreu sete dias depois, de lesões na espinal medula. Tinha 25 anos. Seis polícias foram levados a julgamento: uns foram inocentados, outros viram cair a acusação.

PHILANDO CASTILE
Seguia de carro com a namorada e a filha desta, de quatro anos, quando foi mandado parar pela polícia, em Falcon Heights (Minnesota), a 6 de julho de 2016. Enquanto mostrava os documentos, o afro-americano de 32 anos disse ao agente que tinha uma arma no carro. O agente ficou nervoso, gritou repetidamente “não a tire para fora” e disparou sete tiros à queima-roupa, acertando cinco em Castile. O agente, de 29 anos, foi acusado de homicídio e descarga imprudente de arma de fogo. Foi absolvido.

AHMAUD ARBERY
Tinha 25 anos e foi morto a tiro a 23 de fevereiro de 2020, em Glynn County (Geórgia) quando fazia “jogging” perto de casa. Começou a ser perseguido por uma “pickup”. Dentro, dois homens (pai e filho), que moravam na zona, estavam armados. Um carro que seguia atrás filmou o encontro fatal. Uma investigação apurou que, após Arbery ser atingido, um dos homens subiu para cima do seu corpo e disse: “Maldito negro.” Os dois homens foram detidos apenas 74 dias depois, após o vídeo ter sido divulgado e se ter tornado viral nas redes sociais. Ahmaud Arbery tinha 25 anos.

BREONNA TAYLOR
A 13 de março, por volta da meia-noite, três agentes à paisana invadiram a casa de Breonna Taylor, em Louisville (Kentucky) por suspeitas de tráfico de droga. A técnica de emergência de 26 anos morreu durante o tiroteio que se seguiu entre o seu namorado e os agentes, atingida por oito balas. No local, não foi encontrada qualquer estupefaciente.