Não são mágoas de ontem as que marcam a identidade do povo americano. Sabem o que é uma guerra civil, como viveram a segregação racial levada ao extremo da escravatura por longos anos. Sejam feridas nunca saradas ou pela multi-culturalidade que fundou as bases da construção da cultura americana, certo é existirem diferenças muito acentuadas de credos, raças e heterogeneidade que culminam quase sempre em confronto. Por vezes apenas verbal, muitas vezes físico.
No passado dia 25 de Maio, mais uma vez, um cidadão afro-americano morreu por um comportamento negligente das forças policiais. Um agente da polícia de Minnesota prendeu a respiração a George Floyd durante cerca de oito minutos, pressionando-lhe o pescoço contra o chão, com um joelho, sem o atender ao seu pedido para o largar. "I can't breathe", disse, repetidamente. Não conseguia respirar. Foi ouvido e visto num vídeo gravado por um telemóvel. Tinha 46 anos.
As respostas não demoraram a chegar e fizeram-se notar por protestos, ruas tomadas de assalto, carros e lojas vandalizadas, tudo para se fazer notar a contestação para com as forças policiais e os atos de força muitas vezes excessivos. Ao todo, contabilizou a "CNN", serão pelo menos 25 cidades espalhadas por 16 estados, uma delas Minneapolis (Minnesota), cidade onde George Floyd morreu, onde os protestos eclodiram.
O presidente americano, Donald Trump, já recorreu ao seu meio de comunicação favorito para vir defender as forças de autoridade. "Deixem o melhor de Nova Iorque ser o melhor de Nova Iorque", escreveu no Twitter, utilizando a expressão "New York's Finest", usada tipicamente para descrever a polícia da cidade - "não há ninguém melhor, mas têm de poder fazer o seu trabalho", acrescentou.
No entanto, no melhor pano cai a nódoa - provérbio popular português -, e num vídeo captado nas ruas de Nova Iorque durante as manifestações, dois carros das forças policiais avançaram em direção à multidão. A barricada, feita pelos protestantes - que arremessavam objetos contra a polícia -, foi derrubada à força. Não há notícias de ferimentos resultantes deste episódio, mas terá sido mais uma "acha" para a fogueira entre forças de segurança e manifestantes.
A mesma polícia de Nova York já está a investigar o ocorrido. O prefeito Bill de Blasio disse que o incidente está sob investigação, mas alertou que a polícia pode não ter escolha nestes cenários: "Não vou culpar os policias que estavam a tentar lidar com uma situação absolutamente impossível. As pessoas que estavam a andar em direção ao carro das forças de segurança fizeram-no de forma errada e acabaram por criar uma situação insustentável". Ainda acrescentou que “existe a possibilidade de haver incitadores à violência no meio das manifestações, mas que esses não representam os moradores da cidade de Nova Iorque".
A congressista da câmara dos representantes dos Estados Unidos por Nova Iorque, Alexandria Ocasio-Cortez, veio a público condenar as declarações do prefeito Bill de Blasio ao dizer que não culparia a polícia por estar só a fazer o seu trabalho. Escreveu na rede social Twitter que os comentários "foram inaceitáveis" e que " este é um momento que exige liderança e responsabilidade". A esta crítica juntaram-se outros políticos do estado de Nova Iorque.