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52% dos brasileiros querem destituição de Bolsonaro, aponta sondagem

O desencanto é evidente: 64,4% dos inquiridos desaprovam a atuação recente do Presidente (apenas 30% estão satisfeitos). Por outro lado, após a demissão do Governo, o ex-ministro da Justiça Sergio Moro regista uma taxa de aprovação de 57%

Sérgio Moro e Jair Bolsonaro
EVARISTO SA/AFP/Getty Images

Uma sondagem no Brasil dá conta de que, pela primeira vez, a maioria da população é favorável à saída do Presidente, conta o “El País”. De acordo com o estudo, resultado de 2.000 inquéritos, 52% dos brasileiros apoiam a destituição (ou impeachment) de Jair Bolsonaro. O trabalho é da autoria da Altas Político, que se apresenta como uma plataforma para tratamento de dados e engajamento político, e diz respeito ao período entre 24 e 26 de abril.

O desencanto é notório: 64,4% dos inquiridos reprovam a atuação recente do Presidente (apenas 30% estão satisfeitos). “Há uma queda sem precedentes da imagem positiva que o Presidente tinha na nossa série histórica”, analisou ao “El País” Andrei Roman, fundador do Atlas Político. “Pela primeira vez, observamos uma maioria a favor [do impeachment], num momento em que se começa a discutir mais sobre isso, o que pode criar uma pressão popular sobre o Congresso.”

Para além da crise sanitária, das mortes e dos casos confirmados e por confirmar, e da consequente sova na economia, Bolsonaro terá ainda de se preocupar com um monstro que criou: Sergio Moro. O ex-juiz federal e até há pouco ministro da Justiça, que apresentou a demissão na quinta-feira por interferência política do Presidente, tem agora uma taxa de aprovação de 57%.

A gota de água para Moro foi a substituição do diretor-geral da Polícia Federal (PF), Maurício Valeixo, com quem o ministro havia trabalhado em Curitiba, durante a ‘Lava Jato’. Quando anunciou ao país a sua saída, na sexta-feira, Moro fez acusações graves contra Bolsonaro, a quem acusou de querer interferir nas investigações. O Presidente negou e disse que tinha poder para destituir ministros e outros. De acordo com a sondagem mencionada acima, 68% dos inquiridos não concordam com a exoneração de Valeixo. Porém, talvez seja outro o indicador mais preocupante para o chefe de Estado brasileiro: 72% concordam com as críticas feitas por Moro ao Presidente.

A troca na direção da PF levou a uma espécie de quebra de protocolo pois, apesar de ser nomeado pelo Presidente, o diretor-geral dessa força é tradicionalmente uma escolha do ministro da Justiça. De acordo a "Folha de São Paulo", Bolsonaro estará a tentar junto do Supremo Tribunal Federal a nomeação de Alexandre Ramagem, um amigo do filho Carlos.

Esta brecha na confiança e relação entre Sergio Moro e Jair Bolsonaro poderá levantar fantasmas do passado recente, já que no início do ano o então ministro da Justiça era tido como um dos favoritos da população para a corrida presidencial, agendada para 2022.

"Não tenho esse tipo de ambição (de ser Presidente)", disse Moro num programa televisivo, em meados de janeiro. "Temos de ter os pés no chão. Existe a frase antiga e famosa que diz: 'sic transit gloria mundi'". Ou seja, toda a glória no mundo é transitória, de acordo com a tradução latina. "Esses assuntos de popularidade vêm e vão, eles passam, e o importante para mim é fazer o meu trabalho como ministro da Justiça e foi isso que estabeleci com o Presidente. Acho que estamos no caminho certo", disse então Moro. "Os ministros do Governo existem para apoiar o Presidente. Essa é a maneira natural."

Intenções e ambições à parte, no arranque de 2020 o Instituto Datafolha dizia que o nível de confiança em Moro fixava-se nos 33%, na altura 11 pontos percentuais acima de Jair Bolsonaro. Em dezembro, o mesmo instituto revelou que a taxa de aprovação de Moro era de 53%, muito acima dos 30% de Bolsonaro.