Nas eleições de 2017, o SPD caiu para a sua votação mais baixa desde 1933. Agora, as sondagens colocam o partido de centro-esquerda a rondar os 14%, ora ligeiramente acima, ora ligeiramente abaixo do Alternativa para a Alemanha (AfD, de extrema-direita). À frente dele nas intenções de voto estão a coligação conservadora CDU/CSU e os Verdes. É neste cenário desfavorável que os sociais-democratas escolhem este sábado o seu novo líder, que terá como primeira tarefa decidir se abandona ou mantém a coligação de Governo com a CDU da chanceler Angela Merkel.
“Na realidade, não é uma eleição mas um procedimento de nomeação, de recomendação”, precisa Arndt Leininger, investigador de Sociologia Política da Universidade Livre de Berlim. “A verdadeira eleição terá lugar na convenção do partido no próximo fim de semana. Claro que a expectativa é que os delegados na convenção elejam a dupla preferida da maioria dos votantes”, acrescenta ao Expresso.
Após os maus resultados nas eleições regionais e europeias e uma corrida à liderança que dura há meio ano, alguns militantes do partido mais antigo da Alemanha já manifestaram vontade de deixar o Governo e reconstruir o SPD na oposição. No entanto, saltar da coligação no poder poderia levar a eleições antecipadas ou a um Governo minoritário. Qualquer um dos cenários é desfavorável quer para os sociais-democratas, quer para os conservadores.
Olaf Scholz, o herdeiro “pragmático” do rigor orçamental de Schäuble
O SPD não está numa trajetória eleitoral ascendente, bem pelo contrário, enquanto a CDU faz contas à vida para saber como será a era pós-Merkel, que, após 14 anos aos comandos da maior economia europeia, não voltará a ser chanceler. A escolha dos sociais-democratas é entre as duas duplas apuradas numa votação no mês passado – uma liderada pelo ministro das Finanças, Olaf Scholz, a outra por Norbert Walter-Borjans, ex-titular da pasta das Finanças no estado da Renânia do Norte-Vestefália.
Adam Bartha, diretor do EPICENTER – Centro de Informações de Política Europeia, saúda que “pela primeira vez desde 1993, todos os membros do SPD têm a oportunidade de votar nos seus líderes, um duo de candidatos formado por um homem e por uma mulher”. O resultado não é claro, ainda que Scholz, acompanhado pela ex-deputada estadual Klara Geywitz, surja como favorito e conte com o apoio do ‘establishment’ do SPD. Apresentado como um centrista e herdeiro do rigor orçamental de Wolfgang Schäuble, o atual ministro não se encontra entre os que defendem romper a coligação com Merkel. A dupla “Scholz e Geywitz pertence à ala mais moderada do partido, que aprovou reformas necessárias, mas politicamente difíceis, no passado”, descreve Adam Bartha ao Expresso.
“Scholz é um peso-pesado do partido, conhecido pela sua abordagem pragmática da política, que manteve os sociais-democratas na coligação governativa e assegurou, enquanto ministro das Finanças, que a Alemanha mantinha sólidas políticas fiscais”, prossegue Bartha. Mas deixa o aviso: “Com o lento crescimento económico e o aumento dos encargos burocráticos para as empresas, o país pode precisar de mais do que a continuação de um tipo de política estável.”
Borjans, o Robin dos Bosques, o “agitador” da ala esquerda
Borjans, que forma dupla com a deputada Saskia Esken, não pede necessariamente uma rutura mas pretende renegociar o acordo da coligação governativa, celebrado em 2018, de forma a que este incida mais na justiça social e no investimento – se necessário, com défice orçamental. O candidato à liderança não tem dado tréguas a quem foge dos impostos através de contas bancárias na Suíça, o que já lhe valeu a alcunha de Robin dos Bosques.
“A eleição da dupla Borjans e Esken irá certamente agitar a coligação, uma vez que ambos pertencem à ala esquerda dos sociais-democratas. Eles pressionarão por mais intervenção estatal, pelo aumento dos impostos e ocasionalmente usarão retórica populista. Embora eles não tenham anunciado formalmente a intenção de retirar o SPD da coligação, os dias que restam do atual Governo estariam certamente contados”, refere o diretor do EPICENTER.
Do lado da CDU, há relutância em renegociar o acordo mas os conservadores pretendem manter-se no poder até às próximas eleições. “Merkel e a CDU têm uma clara preferência por Scholz e Geywitz porque eles deverão garantir a continuação da coligação até 2021. E a maioria dos cidadãos apoia isto”, sinaliza, por sua vez, o investigador de Sociologia Política. “A CDU fez uma série de concessões a Scholz para o ajudar na votação. Contudo, se Borjans e Esken vencerem, a CDU poderá ter de fazer mais concessões para convencer o novo duo líder do SPD a manter-se na coligação”, adverte Arndt Leininger.
Após o anúncio da dupla vencedora, por volta das 18h locais (17h em Lisboa) deste sábado, segue-se a confirmação na convenção do partido, no final da próxima semana, durante o qual irá votar-se o destino a dar à coligação governativa. “Qualquer que seja o resultado, é difícil prever quais serão as reações no interior do SPD. Houve e continua a haver muitos conflitos internos dentro do partido”, conclui o investigador universitário ouvido pelo Expresso.