A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado brasileiro aprovou esta quarta-feira um requerimento que convida o jornalista Glenn Greenwald, do site "The Intercept", a depor acerca da divulgação das polémicas mensagens trocadas na Operação Lava Jato.
O requerimento aceite é da autoria do senador Randolfe Rodrigues do Partido Rede, e ainda não tem uma data definida.
"Os senadores querem que o jornalista --- editor do site responsável pela divulgação das conversas envolvendo o ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro com procuradores pela aplicação Telegram --- preste esclarecimentos sobre as mensagens trocadas enquanto ele atuava como juiz do grupo de trabalho da Lava Jato em Curitiba", declarou o Senado na sua página da internet.
Glenn Greenwald lidera o portal de jornalismo de investigação "The Intercept", e é o jornalista a quem o ex-analista norte-americano Edward Snowden revelou os programas de espionagem da Agência de Segurança Nacional norte-americana (NSA, na sigla em inglês).
Desde o dia 9 de junho, o "The Intercept" tem publicado uma série de reportagens sobre alegadas mensagens secretas obtidas de uma fonte anónima, que terão sido trocadas entre Moro e procuradores da Operação Lava Jato, à época quando era o juiz responsável por analisar os processos da investigação em primeira instância.
Segundo o portal, as conversas lançam dúvidas sobre o desempenho de Moro nos processos da Lava Jato, nomeadamente no julgamento que levou à prisão do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Esta não será a primeira vez que o jornalista será ouvido por parlamentares brasileiros.
No semana passada, Greenwald compareceu na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados para falar acerca das mensagens. Na ocasião, ele afirmou, citado pela imprensa local, que "em qualquer país democrático" Moro sofreria consequências graves devido à sua conduta, como a perda do cargo de ministro ou proibição para exercer a função pública.
Na terça-feira, Moro esteve presente numa audiência conjunta da CCJ, Comissão de Direitos Humanos e da Comissão de Trabalho, convocada para que o atual ministro da Justiça falasse sobre as reportagens do "The Intercept".
No entanto, o ex-magistrado manteve o discurso adotado desde o início da polémica, de que existe uma "tentativa criminosa" de invalidar condenações da Lava Jato, frisando que não reconhece a autenticidade das mensagens.
Porém, apesar de declarar que não reconhece e não se lembra de ter trocado tais mensagens, Moro nega a existência de irregularidades no conteúdo divulgado.
Sergio Moro, ministro da Justiça e Segurança Pública, ganhou notoriedade como juiz da operação Lava Jato, por condenar empresários, funcionários públicos e políticos de renome como o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo o "The Intercept", as conversas privadas revelam que o ex-juiz sugeriu ao procurador e responsável pelas investigações da Lava Jato, Deltan Dallagnol, que alterasse a ordem das fases da operação, deu conselhos, indicou caminhos de investigação e deu orientações, isto é, teria ajudado a acusação, o que viola a legislação brasileira.