O Presidente norte-americano, Donald Trump, usou na quarta-feira um privilégio executivo destinado a impedir que os democratas tenham acesso ao relatório do procurador especial Robert Mueller, sobre o alegado conluio entre Trump e Moscovo nas eleições presidenciais de 2016, na íntegra.
É a primeira vez em toda a sua presidência que Trump recorre a este mecanismo, que pode ser acionado pelo presidente ou outros membros do governo para impedir intimações ou outras intervenções por partes dos poderes legislativo e judicial relacionadas com a divulgação de informação. De acordo com a CNN, que teve acesso a uma carta enviada por William Barr a Trump, foi o próprio procurador-geral que pediu para ser acionado o mecanismo.
A decisão é anunciada no mesmo dia em que o Comité de Justiça da Câmara dos Representantes vota uma recomendação à Câmara dos Representantes para que esta considere que o procurador-geral William Barr desrespeitou o Congresso ao ter-se recusado a comparecer numa audiência marcada para 2 de maio na Câmara dos Representantes, onde os democratas estão em maioria.
O procurador tinha sido intimidado a comparecer na referida sessão e, aí, explicar a forma como geriu o relatório de Mueller, o qual, na perspectiva dos democratas e antigos procuradores que estiveram em funções em presidências democratas mas também republicanas, contém material incriminatório suficiente para formalizar uma acusação contra Trump por obstrução à justiça e abuso de poder. Daí que se continue a insistir na divulgação na íntegra do documento e sem informação censurada.
A possibilidade de Trump vir a recorrer a este privilégio para travar as exigências dos democratas já tinha sido avançada na terça-feira pelo Departamento de Justiça. Nesse momento, o presidente do Comité de Justiça da Câmara dos Representantes, o democrata Jerrold Nadler, disse esperar que o Congresso não feche os olhos ao “comportamento” de uma administração que, nas suas palavras, “não segue qualquer lei”, e afirmou que o comité a que preside também vai “investigar os responsáveis que estão a permitir que este esquema de encobrir informação se mantenha”.
A Casa Branca respondeu às declarações e, através da sua porta-voz Sarah Sanders, fez saber que “não irá, assim como o procurador-geral William Barr, obedecer às exigências ilegais e irresponsáveis do presidente Nadler”, que “está simplesmente desesperado para distrair as atenções dos americanos da agenda bem-sucedida e conquistas económicas” do Presidente Donald Trump.