Às 23h (menos uma hora em Portugal continental) desta segunda-feira, cerca de quatro horas e meia depois do início do incêndio, este já estava em vias de ser controlado mas ainda se ouviam cânticos religiosos nas ruas de Paris.
A igrejas tocaram os sinos e os católicos rezaram e cantaram por Notre-Dame, a simbólica Catedral e monumento que, certamente por ser de entrada gratuita (só o seu rico museu, no interior, era de entrada paga), é o mais visitado de França e que ficou quase completamente devastada.
As causas do incêndio ainda não eram conhecidas a essa hora e apontava-se para um acidente, talvez ligado às obras de restauro na nave central, que estavam em curso. Só dentro de algum tempo se saberá exatamente o que provocou a tragédia.
Houve muitas manifestações de emoção entre as milhares de pessoas que encheram pontes, ruas e praças nos arredores da Ilha da Cité (onde está a Catedral), incluindo políticos, governantes, polícias e bombeiros.
O próprio Presidente Emmanuel Macron (que adiou a sua prevista comunicação ao país para tentar resolver a dura crise dos “coletes amarelos”) estava visivelmente comovido quando se referiu, às 23h30, à Notre-Dame como o “epicentro” da vida francesa. O chefe de Estado prometeu a reconstrução rápida do templo.
Enquanto ele falava, os bombeiros (foram mobilizados 400 para combater as chamas) ainda estavam em ação e multidões continuavam presentes nos arredores do Chatelet, das praças do Hotel de Ville e de Saint-Michel. Os turistas e franceses continuavam a fotografar e a filmar - e muitos deles choravam ou entoavam cânticos religiosos.
Desde o fim da tarde, mesmo jornalistas não conseguiram reter as lágrimas enquanto entrevistavam pessoas destroçadas, a rezar, ou quando encaravam alguns fiéis a chorar e a tremer, em choque, quase em transe.
Muitos dos que assistiram no local à destruição quase total do interior da Catedral e observaram a nuvem de fumo e de cinza que cobriu a zona mais central de Paris eram estrangeiros.
Por todo o mundo houve manifestações de solidariedade por Notre-Dame. Macron e Hidalgo receberam aliás mensagens calorosas de muitos locais do globo.
Mas o que este repórter nunca esquecerá é o sofrido clamor que ouviu esta segunda-feira quando o pináculo das traseiras caiu. “Ó!... Não!”
Foi um grito doloroso e espontâneo que parecia vir de uma multidão com uma só alma. A Catedral de Notre-Dame, que esta segunda-feira ficou quase completamente destruída, é um tesouro da Humanidade, muito mais do que um símbolo da fé ou de Paris. O que aconteceu foi um drama para o mundo inteiro.