Chamou-lhe uma “visão mais ampla da história”. O ministro da Educação brasileiro defendeu a necessidade dos manuais escolares reverem a matéria lecionada nas escolas sobre o golpe militar de 1964 - que o responsável pela tutela, tal como o Presidente Jair Bolsonaro, insiste que não existiu. “Haverá mudanças progressistas”, prometeu Ricardo Vélez Rodríguez, para que as “as crianças possam ter a ideia verídica, real”.
“Quem colocou o presidente Castelo Branco no poder não foram os quartéis. Foi a votação no Congresso, uma instância constitucional, quando há a ausência do Presidente. Era a Constituição da época e foi seguida à risca. Houve uma mudança de tipo institucional, não foi um golpe contra a Constituição da época, não”, defendeu o ministro da Educação em entrevista à revista brasileira “Valor Económico”. “Haverá mudanças progressivas na medida em que seja resgatada uma versão da história mais ampla. O papel do MEC [ministério da Educação] é garantir a regular distribuição do manual escolar e preparará-lo de forma tal que as crianças possam ter a ideia verídica, real, do que foi a sua história”, defendeu ainda.
O ministro que acredita que os eventos da época foram “uma decisão soberana da sociedade brasileira” e que os anos que se seguiram de ditadura não foram mais que “um regime democrático de força”, recorda o jornal “Folha de São Paulo”, já tinha tentado alterar os manuais escolares, eliminando a obrigação das referências bibliográficas. Pressionado, acabou por recuar.
As declarações surgem num momento de instabilidade dentro do Ministério da Educação. Segundo a imprensa brasileira, Ricardo Vélez Rodríguez está em risco de ser afastado e esta declaração pública terá sido uma reação desesperada para se aproximar do posicionamento de Bolsonaro, que várias vezes negou publicamente a existência do golpe militar. Recentemente, foi nomeado para número dois da tutela um militar muito próximo do Presidente e, embora o ministro da Educação negue que se trate de um intervenção, especula-se quais os objetivos de nomear o tenente-brigadeiro Ricardo Machado Vieira para o cargo. “É uma colaboração fraterna e efetiva. E o sr. brigadeiro é uma pessoa que trabalha na equipa”, disse Vélez Rodríguez.