Internacional

Alec Baldwin volta à sátira e Trump fica novamente muito, muito enervado

Trump já tinha mostrado a sua pouca permeabilidade ao humor. Em dezembro do ano passado, precisamente por causa do “Saturday Night Live”, o Presidente dos EUA sugeriu que a “legalidade” da programação da NBC fosse “testada nos tribunais” porque “de certo não pode ser legal humilhar e difamar

JUSTIN LANE/EPA

São pouco mais de 30 segundos mas foram suficientes para o enervar - outra vez. Donald Trump, Presidente dos Estados Unidos, recorreu ao Twitter para criticar o programa “Saturday Night Live” e pedir “retribuição” e “uma investigação” aos seus conteúdos satíricos. “Aqui está o verdadeiro conluio”, avisou, numa referência à investigação que decorre sobre as possíveis ligações da sua campanha aos russos, antes das eleições presidenciais de 2016 e que Trump considera uma “caça às bruxas”.

Alec Baldwin voltou a fazer-se passar pelo Presidente, numa interpretação que, como já vem sendo hábito, arrasa a internet e possivelmente também uma parte do ego de Trump. Demasiado bronzeado, cabeleira loira, sempre a fazer beicinho no fim das frases e utilizando apenas o leque vocabular de um aluno do primeiro ano da escola primária, Baldwin ridiculariza o Presidente melhor do que qualquer outro ator que tenha tentado a proeza. E ele acusa sempre o toque.

Desta vez chamou ao “Saturday Night Live” um programa que “só serve para fazer tiro-ao-alvo aos Republicanos” e disse que “não tem piada nenhuma”. No último episódio, Baldwin utilizou o discurso no qual Trump anunciou que iria declarar uma emergência nacional para poder garantir financiamento para o muro que quer construir com o México, para a sua paródia.

“Nós precisamos do muro.Temos enormes quantidades de drogas a entrar pela nossa fronteira a sul ou ‘a linha escura’ como muita gente já me pediu que não lhe chamasse”, brincou Baldwin. “Todos sabem porque é que tenho de fingir que há uma emergência, certo? Tenho de fingir porque me apetece fingir. É muito simples. Muro funciona. Muro ficamos mais seguros. Não é preciso ser inteligente para entender isto - de facto é mais fácil de entender se não formos lá muito inteligentes”, disse ainda, exagerando os trejeitos de Trump.

A declaração do estado de emergência deverá ser soterrada em processos judiciais que podem dificultar ou pelo menos adiar durante muitos meses as intenções de Trump em construir o muro, se algum chegar a construí-lo. Algumas destas ações legais chegarão até ao Supremo Tribunal, onde os conservadores estão em maioria. Baldwin também brincou com esse facto: “Vou levar já com processos em cima e como as sentenças não serão em meu favor isto vai até ao Supremo e aí eu vou ligar ao meu amigalhaço Kavanaugh e vou dizer: ‘Está na hora de pagar o favor aqui ao Donaldzinho’”.

Trump já tinha mostrado a sua pouca permeabilidade ao humor. Em dezembro do ano passado, precisamente por causa do “Saturday Night Live”, o Presidente dos Estados Unidos sugeriu que a “legalidade” da programação da NBC fosse “testada nos tribunais” porque “de certo não pode ser legal humilhar e difamar". Na resposta, tanto nessa altura como agora, centenas de pessoas enviaram tweets a Trump nos quais se lia simplesmente: “Viva a 1.ª Emenda!”, o artigo da Constituição dos Estados Unidos que garante a liberdade de expressão.

Alguns nomes conhecidos da comunicação social norte-americana, como Peter Baker, correspondente na Casa Branca do “New York Times”, disse na sua conta no Twitter que “nenhum outro Presidente em décadas ameaçou com “retribuição” nenhum canal de tv por causa de uma sátira”.