O primeiro-ministro de Israel chamou a si, esta semana, a condução dos ministérios da Defesa e da Imigração e Integração. Com esta acumulação de funções, Benjamin Netanyahu fica responsável, durante a semana de trabalho (e em sentido figurado), por um ministério por cada dia útil já que, para além destes três cargos, ele é ainda ministro dos Negócios Estrangeiros e da Saúde.
“Certamente que não é bom que o primeiro-ministro detenha tantas pastas”, diz ao Expresso Natan Sachs, diretor do Centro de Políticas sobre o Médio Oriente do Brookings Institution, Washington D.C.. “Neste caso, há uma combinação de três situações. [Desde o início], Netanyahu manteve os Negócios Estrangeiros para si, o que enfraquece o ministério consideravelmente em comparação com o gabinete do primeiro-ministro.”
Em relação ao da Saúde, que ele detém desde 28 de novembro de 2017, “é dirigido por um vice-ministro, e ele é ministro só no papel. Os restantes [que herdou no passado domingo] são resultado da última crise política, ou seja, Netanyahu é ministro por defeito após a renúncia dos titulares. É bem possível que ele designe ministros para alivia-lo, incluindo um ministro dos Negócios Estrangeiros.”
Desde que o atual governo iniciou funções, a 14 de maio de 2015, Netanyahu já tinha, pontualmente, assegurado as pastas das Comunicações, da Cooperação Regional, da Economia e Indústria e do Interior. “É comum os primeiros-ministros israelitas ficarem com várias pastas após crises na coligação governativa e a saída de ministros”, explica ao Expresso Aluf Benn, editor chefe do diário israelita “Haaretz”.
“Historicamente, os primeiros-ministros também asseguraram o ministério da Defesa durante 27 dos 70 anos de vida de Israel.” Aconteceu com David Ben-Gurion, Menachem Begin, Yitzhak Rabin e Shimon Peres, por exemplo.
Trégua é “rendição ao terrorismo”
Netanyahu ficou com a pasta da Defesa após a demissão do ultranacionalista Avigdor Lieberman, apresentada no dia 14 em protesto com a forma como o primeiro-ministro geriu a última crise na Faixa de Gaza. Três dias antes, os serviços secretos israelitas tinham averbado um fracasso quando comandos infiltrados no território palestiniano — para uma missão não especificada — foram detetados pelo Hamas, o movimento islamita que controla Gaza.
Perseguidos enquanto fugiam, foram “protegidos” por fortes bombardeamentos de caças israelitas, de que resultou a morte de sete palestinianos, incluindo um comandante do Hamas. Na operação, morreu também um tenente-coronel israelita.
O Hamas não foi brando na resposta e lançou sobre território israelita a ‘chuva’ de foguetes mais intensa desde a guerra de 2014. Uns foram intercetados pelo escudo antimísseis Cúpula de Ferro, outros atingiram áreas civis, matando uma mulher, em Ashkelon.
Um vídeo tornou-se popular nas redes sociais: disparado pelo Hamas, um rocket Kornet — um míssil antitanque de fabrico russo — atinge um autocarro militar israelita, criando a sensação de que o Hamas ‘batera o pé’ ao poderoso Tsahal (Forças de Defesa de Israel).
Israel retaliou com bombardeamentos em Gaza durante alguns dias. que mataram mais cinco palestinianos. Quando se temia uma nova guerra em Gaza, foi assinada uma trégua — uma “rendição ao terrorismo”, acusou Avigdor Lieberman, no mesmo dia em que se demitiu de ministro da Defesa.
“Netanyahu é um ‘falcão’ em muitas coisas, incluindo ao nível do compromisso com os palestinianos, o que torna o conflito israelo-palestiniano muito mais difícil de resolver”, comenta Natan Sachs. “Mas ao contrário da imagem que tem, ele não é aventureiro ou alguém muito interessado em ir para a guerra. Ele é primeiro-ministro há muito tempo [entre 1996 e 1999 e desde 2009], mas teve apenas um grande conflito — em Gaza, em 2014 — o qual, na verdade, ele também não queria. Netanyahu descobriu que os eleitores gostam de um líder que soa como um ‘falcão’, mas não de um líder que os mande para a guerra.”
A opção de Netanyahu por uma trégua com o Hamas afastou, por momentos, o espectro de uma nova guerra na região, mas trouxe instabilidade política ao executivo que lidera. A decisão não foi unânime dentro da frágil coligação governamental — composta por cinco partidos (Likud, Kulanu, Lar Judaico, Shas e Judaísmo Unido da Torah) e apoiada no Parlamento (Knesset) por 61 de 120 deputados — e voltou a ser notícia, em Israel, a possibilidade de antecipação das eleições agendadas para 5 de novembro de 2019.
“Estamos numa situação particularmente complexa ao nível da segurança”, afirmou Netanyahu, no domingo, num discurso transmitido pela televisão. “Em tempos como estes, não se derruba um governo. É irresponsável... Estamos numa batalha intensa e, no meio de uma batalha, não abandonamos os nossos postos. No meio de uma batalha, não fazemos política. A segurança da nação está para além da política.
Uma sondagem divulgada na terça-feira revelou que para 58% dos inquiridos não foi a segurança do país que levou Netanyahu a afastar a hipótese de eleições antecipadas, mas antes motivações de ordem política.
“Netanyahu pode ganhar ou perder com eleições antecipadas”, conclui Natan Sachs. “Por um lado, é suspeito em vários casos de corrupção, e poderia sair beneficiado se ganhasse umas eleições antes de os enfrentar. Por outro, as suas últimas movimentações em Gaza — procurando um cessar-fogo com o Hamas — foram muito impopulares em Israel, uma vez que foram acompanhadas por foguetes mortais disparados pelo Hamas que apenas foram parcialmente retribuídos. Mais tempo [no poder] permitirá a Netanyahu distanciar-se disso.”