O ministro brasileiro da Transparência, Fiscalização e Controle, Fabiano da Silveira, acabou por se demitir do cargo ao início da noite de segunda-feira. A divulgação de conversas em que Silveira critica a operação Lava Jato e orienta a defesa de investigados nos desvios de fundo da Petrobras, como o presidente do Senado, Renan Calheiros, foi decisiva para a sua queda.
Michel Temer ainda garantiu que o ministro responsável pelo combate à corrupção ficaria no cargo, mas a ameaça de demissão de 23 diretores estaduais do ministério e a pressão da opinião pública tornaram a posição insustentável. Como Silveira não tinha nomeado um secretário de Estado, Temer resolveu manter o ministro de Dilma Rousseff, Carlos Higino, à frente do ministério até que seja escolhido um novo nome.
O autor das gravações agora divulgadas pela TV Globo foi mais uma vez o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado cujas conversas com Romero Jucá levaram à sua demissão da pasta do Planeamento na semana passada. Numa das conversas revelada pelo “Folha de São Paulo” Jucá sugere o afastamento de Dilma Rousseff para travar a Lava Jato.
Além de Jucá, homem forte de Temer – foi ele que o substituiu na presidência do PMDB e um dos artífices do processo de destituição de Dilma - as conversas reveladas pelo jornal incluíram também outros responsáveis do partido como Renan Calheiros e o ex-Presidente José Sarney. A tónica da gravações era a mesma: afastar Dilma para “estancar a sangria” da Lava Jato.
Entre a Disney e um filme de terror
O ex-senador Delcídio do Amaral, autor da maior “delação premiada” até há pouco conhecida (mais de 30 políticos de todos os partidos envolvidos) disse que a sua denúncia era “da Disney, comparada à de Machado”.
Por oposição, a perceção do filme de terror que parece avizinhar-se, já levou os assessores de Temer a sugerir, ainda na sexta-feira, afastar no espaço de um mês os seis ministros envolvidos na Lava Jato. E em círculos próximos do presidente interino, receia-se também que sejam divulgadas conversas do próprio Michel temer com Sérgio Machado.
O cenário adensa-se com a confirmação que Marcelo Odebrecht, o presidente da maior construtora brasileira, já negociou uma “delação premiada”. A notícia foi adiantada pelo “ Folha de São Paulo” e diz que o estatuto de arrependido formalizado na quarta-feira passada. Emílio Odebrecht, pai de Marcelo, também deverá participar na denúncias. O mesmo que disse antes da prisão do filho em junho de 2015 : “Terão de construir mais 3 celas: para mim, Lula e Dilma”. Porém, o jornal adianta que “as denúncias não serão seletivas” e que deverão ser citados cerca de 50 políticos de partidos como o PT, PMDB e PSDB.
Seis ministros citados
Além de Romero Jucá e do ministro do Turismo, Henrique Alves, Michel Temer tem mais seis membros do seu executivo citado na “superplanilha” da Odebrecht. Trata-se de um conjunto de folhas de cálculo apreendido pela polícia em março que contém os financiamentos dados a políticos. Na lista estão: o ministro dos Ngeócios Estrangeiros, José Serra (PSDB); Saúde, Ricardo Barros (PP); Educação, Mendonça Filho (DEM); Desenvolvimento Social e Agrário, Osmar Terra (PMDB); Cidades, Bruno Araújo (PSDB) e Defesa, Raul Jungmann (PPS).
Na altura da apreensão, o juiz Sérgio Moro disse que era cedo para tirar conclusões sobre a legitimidade dos financiamentos. O que a “oficialização” da denúncia, deverá já ter resolvido.
Uma possível denúncia de Eduardo Cunha, considerado por muitos como arquiteto da destituição de Dilma, é outra das grandes sombras que paira sobre a cabeça de Temer. O presidente da Câmara dos Deputados suspenso pelo Supremo Tribunal há menos de um mês avisou na altura que não cairia sozinho. O relatório que propõe a sua destituição é entregue hoje na comissão de Ética do Parlamento. E segundo a imprensa brasileira, a sua “delação premiada” já estará pronta há bastante tempo.