Quatro dias podem fazer muita diferença numa negociação? Parece que sim, pelo menos a avaliar pelo tom das declarações dos líderes europeus esta segunda-feira, após a reunião do Eurogrupo. Se em termos de propostas concretas ainda não é possível saber em que ponto estão as conversações, pelo menos é certo que a tensão parece estar bastante mais reduzida.
Senão vejamos: após o último encontro dos ministros das Finanças da zona euro, a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, brindou os jornalistas com declarações afiadas, falando na necessidade de ter "adultos na sala" para poder chegar a um acordo com os responsáveis gregos.
Possivelmente em reação às declarações de Alexis Tsipras da semana passada, que acusou o FMI de ter "responsabilidades criminais" na situação grega, Lagarde não poupou nas críticas. Mas não foi a única. Também Jeroen Dijsselbloem, presidente do Eurogrupo e uma voz habitualmente crítica das posições gregas, fez avisos sérios: "A Grécia precisa de políticos que estejam preparados para dizer a verdade ao seu povo", declarou na quinta-feira.
Um tom que contrasta em muito com a conferência de imprensa de Dijsselbloem e Pierre Moscovici, comissário europeu dos Assuntos Económicos, desta segunda-feira. Apesar da reunião ter sido inconclusiva, Moscovici falou numa "base sólida", referindo-se às propostas de Atenas, dizendo que agora apenas é necessário mais tempo para analisar as questões técnicas e mais trabalho.
Também o holandês Dijsselbloem resistiu a lançar farpas aos gregos. Quando confrontado com a troca de propostas gregas na noite passada, o presidente do Eurogrupo desvalorizou por completo a polémica (que tinha sido levantada por alguns ministros, como o irlandês Michael Noonan): "Sim, havia duas versões, uma da noite passada e outra desta manhã. Mas eram muito semelhantes, por isso isto não é um grande problema".
Os níveis de agressividade baixaram muito, como analisa Vincenzo Scarpetta, do think tank "Open Europe", que destaca a diferença desta conferência de imprensa com as posições do Eurogrupo de Riga, a 24 de abril. Nessa altura, alguns jornais noticiaram que os líderes europeus apelidaram o ministro das Finanças Yanis Varoufakis de "amador" e "jogador", entre outros termos.
No entanto, nem tudo são rosas. Christine Lagarde, que há quatro dias exigia "adultos na sala", não se pronunciou esta segunda-feira. Segundo o Eurogrupo, a diretora-geral do FMI e Klaus Regling, responsável do Mecanismo Europeu de Estabilidade, iriam estar presentes na conferência de imprensa, mas acabaram por não aparecer.