Apesar do impacto da crise sanitária na atividade assistencial, particularmente forte no decorrer de 2020, o número de testes rápidos ao VIH aumentou no ano passado. De acordo com os dados da Direção Geral da Saúde (DGS), foram realizadas cerca de 300 mil testagens nos cuidados de saúde primários, a que se juntaram 25 mil nas organizações de base comunitária. Ainda assim não é suficiente, defendem os peritos. “É importante que o teste do VIH esteja ao alcance de todos, mas sabemos que há grupos sociais que continuam a ficar para trás”, lamenta a diretora da Escola Nacional de Saúde Pública.
Os grupos a que se refere são, por exemplo, migrantes em situação irregular, que enfrentam mais obstáculos no acesso aos cuidados de saúde. Sónia Dias recorda que este é um dos principais métodos de “prevenção e controlo da infeção”, até porque “a deteção precoce garante que as pessoas estejam em tratamento, tenham melhor qualidade de vida e que se reduza a transmissão do vírus”. Reduzir é, de facto, a palavra-chave que resume os objetivos definidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) até ao final da década, altura em que se pretende que praticamente não existam novos diagnósticos.
“O rastreio e deteção precoce do VIH é uma das principais ferramentas para a prevenção”, afirma Sónia Dias, diretora da Escola Nacional de Saúde Pública
Mas se é verdade que o simples gesto de picar o dedo pode salvar vidas e ajudar ao controlo da epidemia, o rastreio assume ainda mais importância em Portugal, um dos países da União Europeia (UE) com maior taxa de diagnósticos tardios – quase 50% dos casos são detetados em fase avançada de infeção. Este não é, contudo, um problema exclusivamente português. Outros países europeus, e não só, têm tido dificuldade em diagnosticar mais cedo entre heterossexuais e a população mais idosa, que têm, apontam as organizações de base comunitária, menor perceção do risco. Neste campo, os especialistas pedem mais “promoção de literacia em saúde”, de forma que toda a população, independentemente da sua exposição ao risco, receba informação credível e científica, mas também que possa compreender a importância da testagem.
Uma das soluções passa pelo reforço das estratégias de rastreio “em contextos de proximidade”, acredita a professora Sónia Dias. Para isso será importante garantir a “melhoria do acesso aos cuidados”, que são “cruciais” para assegurar mais equidade na saúde. Outra alternativa, sugerida pela diretora de infeciologia do Hospital Dr. Fernando da Fonseca, passa pela disponibilização a preços baixos de autotestes rápidos para o VIH nas grandes superfícies e nas farmácias. “Permite às pessoas gerir a sua situação, era fundamental que [o que aconteceu com os autotestes para o covid-19] fosse alargado ao VIH”, defendeu Patrícia Pacheco em entrevista recente ao Expresso.
Este e outros caminhos serão debatidos por um painel de especialistas em saúde durante a segunda conferência do ciclo Horizonte 2030, uma iniciativa do Expresso com apoio da ViiV Healthcare, que acontece já na próxima terça-feira, dia 12. Na primeira conferência, realizada a 31 de maio, o tema em destaque foi a prevenção do VIH. Pode ouvir o debate na íntegra no podcast em baixo.
325.000
foi o número de testes de rastreio ao VIH realizados ao longo de 2021 nos cuidados de saúde primários (300 mil) e nas organizações de base comunitária (25 mil). É um aumento de 26% face a 2020
Horizonte 2030: Rastreio e Diagnóstico
O que é
Ao longo de 18 meses, o projeto Horizonte 2030, criado pelo Expresso com o apoio da ViiV Healthcare, vai promover a discussão em torno dos desafios no diagnóstico e tratamento do VIH/SIDA. Para isso, o semanário constituiu um Conselho Consultivo que reúne representantes de pessoas que vivem com VIH, médicos e outros especialistas, que reúnem uma vez por trimestre para delinear caminhos em direção ao cumprimento dos objetivos propostos pela Organização Mundial de Saúde – a eliminação de novos casos de infeção em 2030.
Quando, onde e a que horas?
Acontece na próxima terça-feira, dia 12 de julho, a partir das 17h30. A conferência será transmitida em direto, via streaming, na página de Facebook do Expresso.
Quem são os oradores em destaque?
- Representante da Direção Geral da Saúde (DGS);
- Sónia Dias, diretora da Escola Nacional de Saúde Pública;
- Dulce Salzedas, jornalista da SIC.
Porque é que este tema é central?
“Rastreio e Diagnóstico” é o mote para a segunda conferência do projeto Horizonte 2030, que contará com a participação de especialistas em saúde. Ao longo da tarde, serão analisados os principais desafios na identificação de novos casos de VIH, em particular após dois anos de pandemia que deixou o SI.VIDA – a plataforma nacional de registo de infeções – sem atualização. O que precisa o país de fazer para encontrar casos de infeção em fase precoce? Que estratégias podem ser implementadas para melhorar o rastreio? Estas e outras questões que encontrarão resposta durante o evento organizado pelo Expresso com apoio da ViiV Healthcare.
Como posso ver?
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