Horizonte 2030

“É preciso que o preservativo se torne sexy outra vez”, mas isso não chega para prevenir o VIH

Cerca de metade dos adolescentes admite não utilizar sempre este método contracetivo, um dado que preocupa os responsáveis políticos. Campanhas de sensibilização e mais literacia são essenciais, bem como generalização da testagem nos cuidados de saúde primários. Estas foram as conclusões do primeiro debate Horizonte 2030, organizado esta tarde pelo Expresso com apoio da ViiV

Maria Antónia Almeida Santos (PS), Ricardo Baptista Leite (PSD), Joana Cordeiro (IL), Bernardino Soares (PCP) e Moisés Ferreira (BE) participaram no primeiro debate do ciclo Horizonte 2030
José Fernandes

O sucesso alcançado nas últimas três décadas com a estratégia nacional para o VIH/SIDA, com a redução de casos de infeção e avanços no tratamento de quem já vive com o vírus, é apontado como elemento que favorece menor preocupação da população em relação à infeção. “É preciso que o preservativo se torne sexy outra vez”, apontou esta tarde o ex-presidente da Câmara Municipal de Loures, Bernardino Soares, em referência à queda da utilização deste método contracetivo entre os mais jovens. Os dados comprovam que quase metade dos adolescentes admite não utilizar sempre o preservativo durante as relações sexuais, indicador que os responsáveis políticos dizem não compreender.

Naquele que foi o primeiro debate do projeto Horizonte 2030 - organizado pelo Expresso com apoio da ViiV Healthcare - participaram representantes do PS, PSD, Iniciativa Liberal, PCP e BE que sublinharam a importância de reforçar campanhas de sensibilização junto da população. Porém, apontaram os especialistas presentes na audiência, não é suficiente. Será necessário, dizem, voltar a encarar a epidemia de VIH como uma prioridade pública e política, robustecendo o orçamento disponível para esta área e melhorando a coordenação entre instituições públicas, como a DGS, e as organizações de base comunitária.

Andreia Pinto Ferreira, da Associação Ser+, considera "completamente absurda" a ideia de falar em comportamentos de risco, já que favorece o estigma. A responsável diz ainda ser "frustrante" ver "sempre as mesmas caras", ao nível político, a falar publicamente sobre VIH
José Fernandes

O próximo encontro público será dedicado ao tema “Rastreio e Diagnósticos” e tem data marcada para 21 de junho.

Conheça as principais conclusões:

Cuidados de saúde primários

  • Sensibilizar os profissionais de saúde para a importância de incluir a testagem à infeção por VIH nas análises rotineiras é, sugere Moisés Ferreira, do BE, um passo importante para aumentar a capacidade de deteção precoce. No entanto, apontaram os participantes, será fundamental garantir meios humanos e financeiros.
  • “Temos 1,3 milhões de pessoas sem médico de família”, apontou o deputado do PSD Ricardo Baptista Leite, que considera irrealista “acreditar que vamos conseguir resolver este problema só por via das instituições formais da saúde”. Unir esforços com as associações desta área, mas também com o sector privado e social, foi um dos caminhos apontados.
  • Moisés Ferreira propõe o alargamento das consultas de planeamento familiar a outros grupos populacionais para além das mulheres em idade fértil, mas, acima de tudo, a transformação em consultas de saúde sexual. “A educação sexual tem de estar nas escolas e tem mesmo de ser educação sexual”, acrescenta o dirigente.
  • A par da promoção da utilização do preservativo, apontada por Bernardino Soares, os presentes apelaram a que a profilaxia pré-exposição (PREP) esteja acessível a um maior número de pessoas. Atualmente, refere Joana Cordeiro, da Iniciativa Liberal, “estamos a conseguir 10% das pessoas [com necessidade] em tratamento” preventivo.
  • A disponibilização de dados atualizados e rigorosos da realidade da infeção por VIH em Portugal, por parte da Direção Geral da Saúde, é fundamental, acreditam os intervenientes. Os últimos dados disponíveis dizem respeito a 2019, já que o sistema utilizado para o registo de novos casos não esteve disponível durante a pandemia de covid-19. “Foi uma questão de não atualização do sistema informático. É ridículo que assim tenha sido”, observou Moisés Ferreira.