“Levantei-me para ir trabalhar e não pude, só conseguia chorar e não percebia sequer porque estava a fazê-lo”. Nesse dia, Joana percebeu que algo não estava bem. Não foi a um psicólogo, nem a um psiquiatra. O som da urgência hospitalar condizia com o seu estado de espírito: confusão. Ia, maquinalmente, respondendo às perguntas que lhe faziam.
Tinha 19 anos quando, durante a licenciatura, começou o primeiro estágio. Desde então, nunca mais parou de trabalhar… até agosto deste ano, quando, aos 22 anos, lhe foi diagnosticado um burnout: “Uma síndrome resultante de stress crónico no trabalho que não foi gerido com êxito”, segundo a definição da Organização Mundial de Saúde (OMS).
“Fiz análises ao sangue, exames aos pulmões, por causa da dificuldade em respirar, até ecografias, porque ninguém conseguia perceber a desregulação do meu sistema digestivo”, conta a estudante universitária Constança Martinho. “Vinha tudo ‘limpo’, ninguém sabia dizer o que se passava”, recorda.
Era abril de 2021. No primeiro ano da licenciatura e em confinamento, “não podia fazer mais nada para além de estudar”, diz. No “último dia da fase de exames”, depois de uma semana em que “tinha tido cinco”, esteve “quatro horas e meia sentada em frente ao computador, sem ir à casa de banho, beber água ou comer”. “Quando acabei o exame, fechei o computador e deitei-me. Fiquei naquela posição até às oito da noite, quando a minha mãe chegou a casa”, conta. O exame tinha acabado às duas e meia da tarde.
Um diagnóstico pouco consensual
No hospital e no centro de saúde, ninguém encaminhou Constança Martinho para um psicólogo, nem ela procurou esta ajuda. Na altura “não se falava do assunto”. Foi só quando recorreu a uma médica no privado que percebeu que tudo teria sido espoletado por “um episódio de um princípio de burnout”.