De qualquer cadeira do extenso auditório principal da Gulbenkian, conseguimos vislumbrar o seu jardim. A fauna e flora, por onde passeiam namorados, amigos, turistas e bons malandros, são o fundo estético perfeito para qualquer atuação, dando sintonia a tanta melodia que por lá passa. Contudo, são poucas as ocasiões que em palco se apresenta quem tem em toda a sua natureza o nosso ecossistema.
Centenas de convidados de várias posições dão cor aos lugares, para assistir a um evento anual especial: a entrega do Prémio Gulbenkian para a Humanidade 2023. Nesta quarta edição foi decidido premiar três iniciativas do Sul Global e os seus impulsionadores de três continentes: Bandi “Apai Janggut”, líder comunitário tradicional da Indonésia; Cécile Bibiane Ndjebet, ativista e agrónoma dos Camarões e Lélia Wanick Salgado, ambientalista, designer e cenógrafa do Brasil.
Cada um com o seu discurso desperta o interesse da plateia. No fim, Marcelo Rebelo de Sousa, visivelmente tocado pelas palavras proferidas e olhando nos olhos do Protocolo de Estado, constata, de forma improvisada, que seria tão melhor a nossa forma de estar na vida e na política se nos focássemos no essencial, tal como os premiados o fazem. Todos os que saíram daquele auditório sentiram que testemunharam um momento especial.
No dia seguinte, lá estava novamente a convite da Fundação, para um debate com os vencedores. Depois de uma sessão com uma grande troca de ideias, ao felicitar os representantes da tribo indígena indonésia digo-lhes que um dia gostaria de ver o seu trabalho no terreno. Imediatamente, e da forma mais acolhedora possível, respondem-me: “vem, porque serás muito bem-vindo e serás recebido em festa”. Ouvindo estas palavras que soaram ao presságio do Mister Fernando Santos em 2016, ficou ali decidido que não se tratava de uma promessa vã. Em apenas um mês iria ao seu encontro.