Geração E

Estratégia para a vitória ucraniana e a derrota do regime que quer destruir a União Europeia

A única forma de isolar a Federação Russa é permitir que a Ucrânia controle o seguimento das operações militares. Resta-nos a questão: como devemos armar a Ucrânia e quais objetivos devemos perseguir, em conjunto com ela, para garantir a segurança no continente europeu?

Para a Rússia, todas as estratégias são viáveis quando se trata de enfraquecer o Ocidente. Quanto mais capaz for de cultivar a semente da instabilidade, melhor será para Moscovo, que ganha capacidade negocial com muitos países. Isso pode ser observado nos inúmeros acordos que a Rússia tem assinado, sobretudo com países africanos. É verdade que essa abordagem simples que a Rússia utiliza contrasta com a robustez técnica a que as negociações de tratados com a União Europeia e com os EUA exigem.

Dito isto, a Ucrânia é, neste momento, o centro de gravidade da Política Externa Russa. A única forma de isolar a Federação Russa é permitir que a Ucrânia controle o seguimento das operações militares. Resta-nos a questão: como devemos armar a Ucrânia e quais objetivos devemos perseguir, em conjunto com ela, para garantir a segurança no continente europeu? À primeira vista, o leitor poderá vislumbrar uma resposta aparentemente clara, mas quero aprofundar essa reflexão considerando as presunções que limitam a nossa visão da possibilidade de uma vitória ucraniana e os termos em que essa vitória poderá ocorrer.

Tal aprofundamento serve para evitarmos estar perante a árdua decisão de considerar o término da guerra através de negociações, que implicaria a aceitação, por parte da Ucrânia, da ocupação russa, em troca de uma aparente paz. Refiro-me a uma aparente paz, pois é previsível que a Rússia aproveitasse qualquer interregno negocial para se reorganizar e planear novo ataque.

Esta premissa deve constituir o fundamento de todas as decisões políticas que visem a paz na Ucrânia. Não podemos ocultar-nos atrás da alegação de despreparo para um conflito no continente europeu, pois somente o agressor se prepara, com o intuito de surpreender o atacado. É evidente que a Rússia investiu anos a preparar-se para este conflito.

O desenrolar da Segunda Guerra Mundial ilustra este ponto: a Alemanha Nazi planeou meticulosamente a guerra, enquanto os Aliados foram forçados a adaptar-se e, eventualmente, saíram vitoriosos. O presente deve espelhar o passado; as desvantagens que enfrentamos diante da Rússia devem ser superadas para apoiarmos a Ucrânia na conquista da vitória. Assim, poderemos garantir a derrota de um regime que procura minar a unidade europeia, forjada ao longo de décadas.

Este ponto é crucial para a formulação da nossa estratégia em relação à Rússia. Não sou pioneiro ao afirmar publicamente que, para neutralizar a ameaça russa, é imperativo assegurar uma vitória ucraniana. O nosso objetivo deve ser claro: derrotar a Rússia. Armamos a Ucrânia não apenas por solidariedade, mas porque a derrota russa é essencial. Tal desfecho abalaria significativamente o regime de Putin, podendo precipitar o seu fim. É vital abandonar a noção de um ‘jogo duplo’, onde, por um lado, fornecemos armamento à Ucrânia e, por outro, hesitamos em enfraquecer a Rússia.

Existem duas razões fundamentais para esta abordagem. A primeira é histórica: a Europa ainda não superou o trauma do Tratado de Versalhes de 1919, que encerrou a Primeira Guerra Mundial, e receia qualquer noção de humilhação. No entanto, este paralelismo histórico é inaplicável, pois a Rússia voluntariamente escolheu o caminho da guerra, sustentando a sua economia com o intuito de fortalecer o seu aparato militar. A decisão foi dos seus líderes imperialistas, não uma imposição externa. A retórica anti-NATO adotada é uma estratégia astuta para justificar suas ambições imperialistas.

A segunda razão é tática. Devido ao receio de escalada do conflito, o Ocidente tem sido cauteloso em permitir que a Ucrânia utilize armamento fornecido para atacar alvos dentro do território russo. Como resultado, as Forças Armadas Russas estabeleceram uma extensa rede de bases aéreas ao longo da fronteira com a Ucrânia, facilitando ataques aéreos contra o território ucraniano. Para se defender eficazmente, a Ucrânia necessitará de lançar ataques com mísseis ATACMS contra essas bases, forçando a Rússia a recuar e dificultando assim a continuação dos bombardeamentos intensivos.

Em suma, a abordagem face ao conflito na Ucrânia deve ser inequívoca e determinada. A história ensinou-nos que a indecisão ou a tentativa de jogar em dois tabuleiros apenas prolonga o sofrimento e impede a obtenção de uma paz duradoura. A vitória da Ucrânia não é apenas uma questão de justiça, mas também um imperativo estratégico para a segurança europeia e a estabilidade global. Devemos, portanto, apoiar a Ucrânia com convicção, fornecendo-lhe os meios necessários para repelir a agressão e assegurando que a Rússia compreenda que a guerra não é um caminho viável. Só assim poderemos construir um futuro onde a soberania das nações seja respeitada e a paz prevaleça.