Uma pessoa olha para a situação em Gaza e aquilo que lhe ocorre é, naturalmente, "sem pressas! Isto o que é preciso é ter calminha".
O primeiro-ministro, Luís Montenegro, revelou que Portugal "não está em condições" de reconhecer a Palestina. Desculpem lá, não estamos em condições, estamos muitíssimo cansados. As discussões sobre o que se pode ou não dizer no Parlamento deram cabo de nós. Para além disso, o debate sobre o IRS jovem também nos mandou muito abaixo. Em Gaza, a política fiscal é mais fácil, porque quase todos os contribuintes têm menos de 35 anos. Que sorte.
Gostávamos muito de reconhecer, temos muita pena, mas fica para a próxima. Se estivéssemos em condições, reconheceríamos, mas não estamos. É capaz de ser ressaca. Deixem-nos só mandar vir McDonald’s e tomar um Guronsan. Liguem-nos mais tarde, pode ser que já estejamos em condições de reconhecer.
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, afirmou que “nunca houve nenhum Governo que fizesse tanto pelo reconhecimento da Palestina como este”. Percebem? Somos uns verdadeiros campeões! Ou seja, não reconhecemos a Palestina, mas somos os melhores do Mundo a fazer tudo para que a Palestina seja reconhecida. Aliás, seria de uma gritante imodéstia reconhecer a Palestina. Os outros países - que não fizeram nada pelo reconhecimento da Palestina sem ser efetivamente reconhecê-la - iam sentir-se inúteis. Os outros que a reconheçam: nós assistimos, eles marcam de baliza aberta. Preferimos trabalhar nos bastidores, não gostamos das luzes da ribalta. Não somos cobardes, somos só tímidos.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, disse que "ainda não é o momento para Portugal reconhecer a Palestina". Calma, cidadão! Não é uma questão de "se", mas sim de "quando". A política externa portuguesa é definida pela frase “epá, a ver se nos lembramos de reconhecer a Palestina, um dia destes”. Uma espécie de “claro que te vou pedir em casamento, querida! Mas sabes que tenho andado a mil”. Uma questão de timings, o que é compreensível. Uma pessoa olha para a situação em Gaza e aquilo que lhe ocorre é, naturalmente, "sem pressas! Isto o que é preciso é ter calminha". Realmente, faz algum sentido reconhecer agora a Palestina, quando grande parte do território está irreconhecível?
Há só um inconveniente nisto de adiar indefinidamente o reconhecimento da Palestina: na altura em que nos apetecer reconhecer, pode já não haver palestinianos. Certo, a Espanha já reconheceu. A questão é que, em Portugal, metem-se agora os feriados dos Santos Populares e infelizmente não nos dá jeito. É chato, há que reconhecer.