Geração E

As Forças Armadas e os cidadãos estão afastados. O Serviço Militar Obrigatório pode ser uma solução?

Irá o serviço militar obrigatório permitir resolver o problema da falta de recursos humanos, tornando as nossas Forças Armadas eficientes? E será o Estado financeiramente capacitado para sustentar, com o melhor equipamento e as melhores condições, um dispositivo militar com o dobro ou o triplo de militares no ativo?

Com o advento da guerra na Europa, um tema há muito esquecido ressurgiu: a prontidão das Forças Armadas Portuguesas para enfrentar os desafios da segurança global. Este debate envolve tanto civis quanto militares e a conclusão tem sido que os recursos das Forças Armadas são insuficientes para lidar com as necessidades e compromissos internacionais assumidos por Portugal. A escassez de recursos humanos tem sido especialmente problemática, levantando, mais recentemente, a discussões sobre a reintrodução do serviço militar obrigatório.

Surge então a questão: será que a imposição do serviço militar pode reduzir o distanciamento entre as Forças Armadas e a sociedade civil?

Ter a noção que Portugal tem de contribuir com as suas forças militares para os compromissos globais em matéria de segurança e defesa é crucial para compreender os riscos para a defesa nacional e as respostas que é necessário adotar.

Tendo em conta esses compromissos, consideremos as expectativas em relação ao soldado português, que é um produto do investimento estatal em formação e treino e deve, por isso, dominar os equipamentos e usufruir de condições ideais para minimizar riscos, evitando colocar a sua vida em perigo.

Duas questões, consequentemente, se levantam: irá o serviço militar obrigatório permitir resolver o problema da falta de recursos humanos, tornando as nossas Forças Armadas eficientes? E será o Estado financeiramente capacitado para sustentar, com o melhor equipamento e as melhores condições, um dispositivo militar com o dobro ou o triplo de militares no ativo?

Na minha perspetiva, a obrigatoriedade do serviço militar para os jovens portugueses não irá melhorar a eficiência das Forças Armadas; pelo contrário, poderá dispersar investimentos, levando a condições de trabalho ainda mais precárias para os militares profissionais. Isso resultará na perda do potencial profissional de muitos jovens em outras áreas, que também é crucial para o país.

Desta forma, e com vista a inverter a tendência de isolamento da Defesa Nacional do debate público, há um caminho a percorrer. Um caminho que tenha em vista uma estratégia de longo prazo, que seja imune a eleições, a mudanças de governos e a partidos no poder.

Uma estratégia que vise valorizar as carreiras militares em Portugal, que permita uma maior e melhor progressão e retenção de quadros nas nossas Forças Armadas. É necessário, ainda, colocar o Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA) e os Governos em coordenação, para projetar de forma mais eficiente uma estratégia comum da comunicação das Forças Armadas, visando maximizar a sua imagem junto da sociedade portuguesa.

Da mesma forma, tornar conjuntas as mensagens-chave de cada ramo, para construir uma narrativa que fomente a identidade da nossa Defesa Nacional e que contribua para o sentimento de pertença à mesma. Tudo isso irá resultar num aumento generalizado da sensibilidade nacional face às questões de Segurança e Defesa nacional e europeia.

Ao mesmo tempo, deve haver uma maior aposta no desenvolvimento de uma Economia de Defesa capaz de assegurar uma alta competitividade do tecido empresarial português. Numa altura em que a Comissão Europeia lança concursos milionários na área da Defesa, cabe aos Estados-Membros adotar uma estratégia de abrir esse mercado às empresas portuguesas, permitir uma cooperação mais alargada com o EMGFA e a Academia, para promover o estabelecimento de um tecido empresarial mais resiliente. Tal irá obviamente resultar na criação de um setor económico e industrial mais qualificado, mais especializado e com maior ligação intraeuropeia. Isso permite dar um largo passo na retenção de jovens especializados em Portugal, um problema com o qual nos debatemos há várias décadas.

Acima de tudo, é crucial evitar fazer comparações da situação portuguesa com a capacidade de mobilização de um regime ditatorial russo que se envolveu numa operação militar rapidamente transformada numa guerra de atrito. Nenhum decisor político russo estava desejoso em começar uma guerra de escala continental, no entanto, o facto da Rússia se ter posicionado na via da industrialização militar massiva apenas prova que conquistar a Ucrânia é uma questão de vida ou morte para um Império falido.