Geração E

Como perder o Climáximo de apoiantes

O Climáximo ainda vai fazer com que as pessoas considerem o Galamba amoroso

A ação que os ativistas pelo clima levaram a cabo contra Fernando Medina teve efeitos verdadeiramente transformadores e inéditos: as pessoas riram-se de uma coisa que o ministro das Finanças disse. Conseguir que uma plateia ache piada ao choninhas circunspecto que nos cobra impostos é obra. Não sei se era isto que almejavam, mas o episódio deu cor a um governante cinzento.

Os ministros que ainda não foram alvo de pintura devem estar a exigir aos assessores que lhe agendem eventos públicos com executivos da BP ou da Castrol para ver se, um dia destes, levam com uma redentora bola de paintball. O Climáximo ainda vai fazer com que as pessoas considerem o Galamba amoroso, quando este levar com tinta e reagir com "deem-me só um momento, desta vez sou eu que vou ter de me fechar no WC".

Na mesma semana, uma jovem tentou colar-se ao interior de um avião que ia de Lisboa para o Porto. Não é o melhor sítio para se ser atrevido - se há classe profissional que sabe pôr pessoas nos seus lugares são as hospedeiras. No fundo, estes ativistas são como o Pedro Nuno Santos. Não apreciam o Medina, falam bastante alto e colaram-se à TAP.

Dias antes, membros do Climáximo tinham vandalizado uma pintura de Picasso que está exposta no CCB. Desconheço qual será a relação estreita entre a obra do pintor espanhol e o recurso a combustíveis fósseis. Pode ser ignorância minha. Na volta, o “Guernica” é gasóleo em tela.

A eficácia dos bloqueios de vias rodoviárias também é discutível, para além de perigosa para quem os leva a cabo. Os jovens ativistas são alvos fáceis na estrada, pelo que o protesto beneficiaria da ajuda de alguém com experiência vasta em desacatos no trânsito. Para desencorajar retaliações desproporcionais dos automobilistas a quem causam transtorno, os organizadores das ações deviam convencer um taxista a juntar-se à causa. Parece-me claro: o movimento ambiental precisa de um Jorge Climáximo.

Mas os ativistas não estragam o dia só às pessoas que têm de ir para o trabalho, também estragam o dia às pessoas que não precisam de trabalhar. Na semana passada, partiram uma montra na Avenida da Liberdade. Os clientes viram a tarde arruinada e viram-se forçados a ir de jato privado para a loja da Gucci mais próxima, que fica em Madrid. Sinto que estes jovens escolheram mal o alvo. É que, por um lado, alegam que estamos prestes a descer ao Inferno, por outro lado, partem a montra da Gucci. Toda a gente sabe que o Diabo veste Prada.