Geração E

Dos 8 aos 80, da Europa à América Latina: as Pousadas de Juventude ainda são a escolha dos jovens, mas não só

Crianças de um colégio vindo de Bragança, espanhóis fãs de Rammstein e peregrinos que fizeram o caminho de Santiago. Foram estas as pessoas que o Expresso encontrou ao pequeno-almoço na Pousada de Juventude do Parque das Nações. Mas poderiam ser outras: as idades dos que por aqui passam são variadas, apesar da vantagem dos mais jovens, e as nacionalidades também

Espaço de convívio da Pousada da Juventude do Parque das Nações após as obras de requalificação
D.R.

Dos 8 aos 80. Talvez pudéssemos descrever assim as idades daqueles que tomavam o pequeno-almoço na Pousada da Juventude do Parque das Nações. Um conjunto de hóspedes diverso, para a pousada que ganhou uma nova ‘cara’ recentemente - e à qual outras se seguirão. A rede de alojamento, uma das mais antigas em operação em Portugal, e também com maior dispersão geográfica pelo território do país, entrou em 2023 com números recorde e pode chegar à marca de mais de 500.000 hóspedes até ao fim do ano.

A entrada na unidade lisboeta é calma - nem parece que pusemos um pé dentro de uma pousada ou alojamento - sem a receção típica da hotelaria. Talvez porque, nesta pousada, acontece muito mais do que apenas dormir. A Pousada está integrada no Centro de Juventude de Lisboa (e um dos poucos de Portugal), onde há vários espaços: centro de informações, auditórios, refeitório, espaço criativo, gabinete de saúde, entre outros.

Mas ao subir umas escadas para a zona da pousada começa-se a sentir a energia típica da hotelaria à hora do pequeno-almoço, com muito movimento.

Crianças que não passam dos 10 anos a rezar são o primeiro grupo que o Expresso encontra. Vêm de Bragança, do Colégio Sagrado Coração de Jesus. São “finalistas” do primeiro ciclo e a viagem repete-se todos os anos, para as crianças do quarto ano, explicou ao Expresso a diretora, Elza Martins.

O objetivo é “verem aquilo que foram aprendendo durante os anos”, mas nem sempre o destino foi Lisboa. Fátima, Costa da Caparica e Coimbra foram alguns dos destinos pelos quais já passaram alunos deste colégio. Por Lisboa, visitaram o planetário, o oceanário, a zona histórica, “um bocadinho de tudo”. Porém, nem sempre é fácil gerir as 22 crianças que foram - “e falharam 3 ou 4, que não vieram à última hora, por ansiedade” -, mas “elas têm regras e sabem quando cumprir as regras”.

E já é a segunda vez que ficam numa Pousada da Juventude, “uma vez em Coimbra e desta vez aqui”. Além de sentir que é um bom espaço para as crianças, a diretora do colégio também referiu que é importante o “preço, pois os pais têm de pagar muita coisa”.

Mas o facto desta pousada estar recentemente remodelada não passou despercebido. Segundo Elza Martins este alojamento “é muito melhor” que o de Coimbra, que disse estar “mesmo em más condições” e a precisar de obras.

O plano de requalificação

E as obras hão-de chegar, eventualmente, mesmo que a passo de caracol. Este ano, em janeiro, foram anunciadas obras em três pousadas que estavam fechadas desde 2012 (Guarda, Portalegre e Vila Real) e na do Parque das Nações, de Lisboa. Mas o plano é “a 12 anos conseguir intervir em todas as pousadas”, revelou ao Expresso Miguel Perestrello, presidente da Direção da Movijovem (cooperativa que gere as Pousadas da Juventude, o Cartão Jovem e o IntraRail).

De acordo com o responsável, das 43 pousadas, sete estão concessionadas - ou seja, a requalificação destas pousadas depende dos seus concessionários. Mas as restantes dependem da Movijovem e já estão divididas em três níveis de prioridade. O primeiro nível é composto pelas pousadas de Lisboa, Porto, Gerês e Algarve - zonas que “têm mais procura, mais desgaste e que têm casa cheia [usualmente]”.

Já o segundo nível é composto por “pousadas que têm uma infraestrutura em boas condições de utilização, mas que necessitam de atualização”.

Mas há um desafio, como lembrou o líder da cooperativa: os concursos públicos.

E o longo prazo de requalificação de todas as pousadas deve-se, em parte, ao facto de a Movijovem ter de reinvestir o dinheiro na sua rede. Por isso mesmo Lisboa foi a primeira - entre as pousadas em funcionamento - a ver estas obras. “Esta pousada é das mais importantes a nível de resultados financeiros, o que é importante para uma rede que tem de ser autosuficiente”, disse. Assim, permite que outras pousadas possam não só ter obras, como existir. É também por isso, que as mais procuradas estão no primeiro nível de prioridade para as obras, pois acabam por ter maior retorno", explica.

Além do mais, as obras nesta pousada acabaram mesmo a tempo da Jornada Mundial da Juventude, que acontece em Lisboa no início de agosto. E esta pousada vai contar com casa cheia nesses dias, segundo as informações prestadas ao Expresso.

Zona de pequeno-almoço após as obras de requalificação da Pousada da Juventude no Parque das Nações

Uma pousada além da juventude, além fronteiras

Nem só de crianças e jovens se enchem os quartos desta e de outras pousadas espalhadas pelo país.

“A nossa principal faixa etária são os jovens entre os 18 e os 30 anos, porque também combina com a nossa atividade do Cartão Jovem”, disse Miguel Perestrello. Segundo dados mais concretos fornecidos ao Expresso pela Movijovem, 50% dos utilizadores têm entre 21 e 40 anos e cerca de 25% têm menos de 21 anos.

Mas “não há limitação de idade” e também “é comum” vermos pessoas mais velhas entre os hóspedes. Isto acontece sobretudo entre os hóspedes estrangeiros, refere o presidente da Movijovem. De acordo com este responsável, esta cultura de pousada/hostel não está presente entre os mais velhos no caso do público português.

E são alguns destes mais velhos - ainda que esta palavra seja muito abrangente na faixa etária - que o Expresso viu ao pequeno-almoço, e com quem falou.

Ao lado de um jovem que ainda não tinha chegado aos 30 anos, mas que já tinha uma longa barba, estava um homem de barbas brancas. David, o mais novo dos dois espanhóis, explicou que estavam ali devido ao concerto dos Rammstein no Estádio da Luz e ao festival “Evil Live” de rock/metal que se deu no Altice Arena. Ambos preferem hóteis para as suas férias, mas a pousada “estava perto do recinto [Altice Arena] e é mais barata” que outros alojamentos na zona.

Na esplanada ao pé da zona de pequeno-almoço, entre mesas cheias de crianças, destacam-se algumas com adultos, nomeadamente alguns com roupa e mochilas típicas de caminhada. Dinair, do Brasil, e Gualtiero, de Itália, já passaram dos 30 - um há mais tempo que o outro - mas ficaram nesta pousada após fazerem o caminho de Santiago.

Dinair veio para Lisboa pois o seu voo de regresso ao Brasil parte da capital portuguesa. Não costuma vir para a Europa, devido ao preço dos voos, mas quando viaja no Brasil e na América Latina costuma ficar em alojamentos semelhantes. Escolhe este tipo de alojamento “por questões financeiras”, mas se por um lado a questão do dinheiro parece ser limitadora, defende que, socialmente, ficar nestes alojamentos “é libertador”.

O mesmo nos diz Gualtiero, que costuma escolher este tipo de alojamentos pelos preços, mas também para “poder encontrar e falar com pessoas novas”. Mas em relação à pousada de Lisboa, diz que faltou “simpatia”.

De Espanha, do Brasil e de Itália. Apesar de os clientes nacionais serem os principais hóspedes a ocupar as camas das Pousadas de Juventude (cerca de 215 mil dormidas até ao início de junho), há pessoas de todo o mundo. Segundo os dados da Movijovem, Espanha (25.155), Brasil (22.158), França (19.906) e Alemanha (15.258) completam o ‘top 5’ de nacionalidades que mais procuram as Pousadas de Juventude.

Corrigido às 10h19, 13 de julho.