Aqui há uns tempos discutiu-se que os jovens - e vamos concentrar-nos em idades entre os 15 e 35 anos- estavam a adiar cada vez para mais tarde o início da vida sexual. Mas ainda antes, podemos já começar por discutir o que é este conceito de “início da vida sexual”.
É verdade, podemos discutir, certamente. Continuamos a usar o conceito de virgindade, que é um conceito obsoleto. Embora nunca tenha feito sentido, vamos assumir que na sua época terá tido algum sentido. E virgindade, que é um conceito além do obsoleto, é repressor da sexualidade feminina, da sexualidade das vulvas deste mundo. As pessoas assumem que a virgindade está diretamente associado à quebra do hímen, que é uma pequena membrana que pode estar ou não à porta da vagina. Esta membrana pode rasgar-se ao longo da vida de diversas formas que não têm diretamente a ver com sexo ou com a entrada de um pénis na vagina. É um conceito repressor porque é de controlo da sexualidade feminina, da sexualidade das mulheres e das vulvas. Isto não existe para os homens, o certificado de virgindade foi sempre uma coisa, e continua a ser em algumas culturas e religiões, só imposta às mulheres e que não faz qualquer sentido porque, de facto, não é o hímen que diz se já tiveste ou não uma primeira experiência sexual. Até porque uma primeira experiência sexual podem ser muita coisa. Uma mulher que seja lésbica, por exemplo, que nunca tenha uma relação sexual com penetração, então seria virgem a vida toda? Não faz sentido. Esta visão da virgindade é repressora da sexualidade feminina e é falocêntrica: é sobre um pénis a entrar em vaginas. Já se discute muito o que será isto da ideia da primeira experiência sexual. Podes ver como primeira experiência sexual a primeira masturbação, por exemplo, que é uma experiência sexual contigo. Também podes ver como primeira experiência a primeira experiência com outra pessoa, mas se foi sexo oral foi na mesma uma primeira experiência sexual. Não é a entrada do pénis numa vagina que define uma primeira experiência sexual.
Exclusivo
“A educação sexual continua a ser focada no risco, no perigo, na mentalidade de pecado e devia estar focada nos prazeres”
Começo da vida sexual, masturbação, educação sexual, pornografia, violência e consentimento são alguns dos temas que surgiram na conversa do Expresso com Tânia Graça. Em entrevista, a psicóloga, sexóloga e ativista, fala do conceito de virgindade que, “além de obsoleto”, é castrador da liberdade feminina. “Não existe para os homens, o certificado de virgindade foi sempre uma coisa só imposta às mulheres”, critica. Esta é a primeira de uma série de entrevistas sobre quem é, o que quer e o que pensa a geração entre os 15 e os 35 anos