Expresso 2000

Três ou quatro semanas de costas voltadas, por José N. Celorico

José N. Celorico

Estávamos no princípio de 1973 em Nampula, Moçambique. Tinha sido colocado no quartel-general da Região Militar de Moçambique, após ter comandado, durante cerca de 18 meses, uma campanha na ZOT (Zona Operacional de Téte), onde, naturalmente, não chegava qualquer jornal.

O meu primeiro contacto com o Expresso deu-se casualmente. Ao passar pelo quiosque perto da messe de oficiais, deparei com um jornal com um título e um aspeto visual que despertou a minha atenção.

Fiquei leitor assíduo desde os primeiros números de tal modo que às segundas-feiras, ao fim da manhã, quando jornal ali chegava, a compra do Expresso era obrigatória e a sua leitura feita com alguma sofreguidão. Se a memória não me falha, são desse tempo as análises políticas e económicas feitas por Sá Carneiro e Sarsfield Cabral, além das notícias sobre a Ala Liberal na Assembleia Nacional e os artigos de Pinto Balsemão e Miller Guerra.

Quando, em maio de 1973, terminada a comissão de serviço, regressei à metrópole, continuei a adquirir o Expresso onde quer que me encontrasse. A leitura do jornal tornou-se um ato obrigatório. É feita uma síntese objetiva dos acontecimentos da semana, além dos artigos de opinião, normalmente sensata, dos seus colaboradores.

Calma no Verão Quente

Estou a recordar-me do ano de 1975, especialmente no período entre o 11 de março e o 25 de novembro, em que o Expresso, passando ao lado das notícias sensacionalistas e do tamanho gráfico desmesurado dos títulos na quase totalidade dos órgãos de comunicação social escrita, conseguia, de forma calma, sintética e rigorosa, informar os seus leitores do que se passava no país. Não que algumas vezes, e em casos de pormenor, pudesse haver alguma falta de rigor na utilização da terminologia castrense, o que é perfeitamente desculpável.

Mas - e há sempre um "mas" - fiquei chocado quando o Expresso publicou, a propósito da posição da hierarquia da Igreja Católica sobre o uso do preservativo, uma caricatura do Papa João Paulo II, o que motivou que não tivesse adquirido o jornal durante 3 ou 4 semanas. Foram os únicos números do Expresso que não li, já lá vão decorridos 38 anos.

José N. Celorico

Coimbra  

  1. A opinião dos leitores
  2. Um apoio na vida pessoal e profissional, por Almor Serra
  3. O Expresso só à 2ª (ou mesmo à 3ª de manhã), por Santiago Macias
  4. Velhos problemas muito atuais, por Raul da Silva Pereira
  5. Papel por todos os cantos da casa, por Margarida Cunha
  6. Saudades de outros tempos, por João Bernardo Lopes
  7. Uma pedrada no charco, por João Pinto
  8. O medo de contar verdades incómodas, por António Silva Carvalho
  9. Leitura com música, por José Rodrigues Franco
  10. Em busca do humor, por Maria José Azevedo
  11. 'Conselhos' do Expresso para negócios de família, por José Manuel Bastos