Europeias 2019

Francisco Guerreiro: “Pode ser que se venha a estudar um ‘efeito PAN’”

Ainda que a maioria do eleitorado do PAN tenha até 40 anos de idade, o candidato ao Parlamento Europeu acredita que possam estar a “ganhar um espaço mais transversal, fruto do descontentamento das pessoas que já não se revêem nos partidos tradicionais”. Os plásticos e o tratamento de resíduos foram os temas do dia, apontando o dedo a “falhas” na educação ambiental em Portugal

Francisco Guerreiro, cabeça de lista do PAN às Europeias, e André Silva, deputado do partido, no bairro Quinta da Lage, na Amadora
RUI MINDERICO

Leonor tem 15 anos, sabe o que é o PAN e reconhece a cara de Francisco Guerreiro, cabeça de lista do partido às Europeias, que apareceu ao seu lado a distribuir panfletos no Campo Pequeno, em Lisboa. A mãe já lhe tinha falado do partido, sobretudo por se preocuparem com o ambiente as alterações climáticas, os mesmos temas que fizeram Leonor Gaspar faltar às aulas no Liceu Francês na primeira greve climática estudantil. E que a vão levar à segunda greve, marcada para esta sexta-feira.

Fazer chegar menos plástico a casa foi uma iniciativa da mãe, conta Teresa Rosa. Mas hoje são os três filhos a instituir novas regras. “Deixaram de comer bolachas e beber sumos, por causa das embalagens de plástico”, conta. “Também já não temos garrafões em casa. E no bar da escola, conseguimos que passassem a ter sacos de papel e jarras de água em vez de garrafas de plástico”, acrescenta Leonor.

A mãe diz que “seria ótimo” se o PAN conseguisse eleger um eurodeputado e as sondagens apontam para essa possibilidade. “São mais novos e vão de encontro a uma mentalidade mais jovem e a outras preocupações”, diz. “O problema é que raramente se ouve falar neles. Mesmo nos debates, durante a campanha, têm pouco espaço e pouco tempo de antena.”

Da paragem de autocarro junto ao Metro do Campo Pequeno, onde estavam no final da tarde desta quinta-feira, veem-se as caras de quase todos os candidatos ao Parlamento Europeu em grandes outdoors. O do PAN não aparece em nenhum deles, mas o contacto é mais direto e além dele também André Silva, deputado na Assembleia da República, anda a distribuir panfletos na rua, de All Star e saco de pano ao ombro.

Essa imagem contrasta com as campanhas habituais e coincide com o facto de a maioria do eleitorado do partido ter idades até aos 35 ou 40 anos. “Acreditamos, porém, estar a ganhar também um espaço mais transversal fruto do descontentamento das pessoas que já não se revêem nos partidos tradicionais, na sua postura e no seu funcionamento”, aponta Francisco Guerreiro. “Até pode ser que daqui a uns anos se venha a estudar um ‘efeito PAN’.”

“Vejam lá se ganham!”, diz-lhes um rapaz, depois de pedir um panfleto e uma selfie. “Somos o único partido fora do sistema com possibilidade de eleger um eurodeputado. Mas é preciso ir lá votar”, repete André Silva, que também ouve queixas sobre a “bandalheira” que a campanha europeia está a ser. “Falam de política como falam de futebol, não é?”, pergunta-lhe.

Educação ambiental “tem falhado”

Com a campanha para as Eleições Europeias quase no fim, Francisco Guerreiro e André Silva dedicaram o dia ao tratamento de resíduos e reciclagem. Visitaram a estação de tratamento de resíduos sólidos Tratolixo, em Mafra, que gere o lixo de quase um milhão de habitantes dos concelhos de Sintra, Cascais, Oeiras e Mafra. Só no ano passado receberam 456 milhões de toneladas de resíduos - quase três quartos (72%) correspondem a lixo indiferenciado.

A parte mais importante desse tratamento é a digestão anaeróbia, ou seja, a transformação dos resíduos em biogás. No final do processo, conseguem produzir um composto, usado por exemplo nas vinhas, mas que não é aplicável à produção agrícola alimentar por conter resíduos como plástico ou vidro. “Pareceu-nos problemática essa presença de plásticos e microplásticos na produção de composto”, sublinhou Francisco Guerreiro, defendendo uma maior utilização de fundos europeus para este tipo de tratamento de resíduos.

Já a visita ao centro de triagem da ValorSul. no Lumiar, permitiu-lhes ver o mar de plásticos diferentes que são colocados no Ecoponto amarelo e que têm de ser separados. “Reciclar bem não chega para reduzir o impacto avassalador do que consumimos. Temos de reduzir o consumo e essa mensagem não está a passar”, aponta o cabeça de lista do PAN. “Além disso, a questão da educação ambiental tem falhado. Há uma falta de investimento contínuo nestes programas de educação.”

Além disso, a probabilidade de Portugal não conseguir cumprir as metas de reciclagem estabelecidas pela Comissão Europeia começa a ser real. Até 2022 é preciso aumentar para 50% o lixo que é reciclado (atualmente a percentagem é de apenas 38%) e ainda reduzir a deposição em aterro para 10% até 2035 (ronda agora os 32%).

“Parece-nos muito difícil atingir as metas. Há uma trajetória de crescimento da economia, com cada vez mais consumo e maior quantidade de resíduos. Falta educação, sensibilização, redução do consumo, ter mono-embalagens ou embalagens com menos materiais diferentes, e uma visão integrada sobre a importância de fazer a separação de resíduos. Há muito a fazer e o período de tempo é curto.”

A campanha do PAN termina esta sexta-feira com uma presença na greve climática dos estudantes, no Marquês de Pombal, e uma visita ao Centro de Recuperação de Animais Silvestres de Lisboa.