O número médio de horas de trabalho registou uma queda abrupta na pandemia de covid-19. Contudo, mesmo depois da recuperação após a pandemia, este valor continua abaixo dos níveis pré-pandemia, o que mostra a tendência geral que se tem observado na queda das horas trabalhadas. O fenómeno é particularmente sentido entre os homens e os jovens, revela um estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Depois da queda sentida durante a pandemia de covid-19, a “forte recuperação” nas horas trabalhadas deveu-se, essencialmente, devido ao aumento do emprego.
Ainda assim, “a média de horas trabalhadas (a margem intensiva) permaneceu abaixo dos níveis pré-pandémicos”, como evidencia o estudo. O que não é de estranhar, pois “o número médio de horas de trabalho nas economias desenvolvidas tem registado uma tendência decrescente de longo prazo desde o século XIX, tendo diminuído para metade entre 1870 e 2000 na Alemanha, por exemplo”.
Segundo o estudo, “a diminuição das horas trabalhadas em toda a Europa reflete provavelmente as preferências” das pessoas.
O decréscimo nas horas trabalhadas é particularmente sentido nos homens (em particular, os que têm filhos mais pequenos), ainda que continuem a trabalhar, no geral, mais horas que as mulheres. Esta queda deve-se, entre outros fatores, ao aumento das licenças (como a parental).
A diminuição das horas trabalhadas é também sentida nos jovens trabalhadores, o que se justifica, segundo o FMI, com o “aumento da percentagem de jovens que frequentam a escola”.
Assim, o estudo conclui que esta tendência “reflete principalmente a redução de horas dentro dos grupos de trabalhadores” e não uma mudança estrutural nas empresas. Adicionalmente, o FMI conclui que “as quedas nas horas reais correspondem às quedas nas horas desejadas [de trabalho]”.
E no futuro?
A probabilidade é que as horas efetivamente trabalhadas continuem a cair nos países europeus. As políticas futuras podem atenuar a tendência, mas é improvável que a invertam totalmente.
Algumas políticas que podem aumentar o número de horas trabalhadas e que vão ao encontro do desejo dos trabalhadores são, entre outras, “medidas mais específicas para ajudar as mães que trabalham a tempo parcial e que gostariam de mudar para empregos a tempo inteiro” e “políticas ativas do mercado de trabalho para melhorar a correspondência entre os trabalhadores a tempo parcial involuntários e os empregos a tempo inteiro disponíveis”.
O estudo do FMI também deixa o aviso: “É importante que os regimes contributivos de pensões e outros regimes de proteção social, como o seguro de desemprego, não incentivem indevidamente o trabalho a tempo parcial através de fórmulas de prestações que atribuam um crédito excessivo aos períodos de trabalho a tempo parcial”.