Uma minoria de membros do conselho do Banco Central Europeu (BCE) discordou da proposta de Philip Lane, o economista-chefe, para manter inalterados os juros na reunião de 11 de abril, confirmam as atas que foram publicadas esta sexta-feira. A proposta de Lane acabaria por ganhar um “consenso alargado” de que, por prudência, se deveria esperar pela reunião seguinte, a 6 de junho, para apreciar a evolução da inflação e decidir sobre um primeiro corte de juros.
Christine Lagarde, a presidente do BCE, já havia informado, na conferência de imprensa que se seguiu à reunião, sobre essa divisão explícita dentro do conselho.
O BCE acabou, na reunião de 11 de abril, por deixar os juros em 4,5% quanto à taxa de refinanciamento e 4% em relação à taxa de remuneração dos depósitos do sector bancário nos cofres do sistema de bancos centrais do euro.
Os argumentos da minoria
“Alguns membros sentiram-se suficientemente confiantes de que os três critérios da função de reação do Conselho do BCE justificavam uma redução nas taxas diretoras já na presente reunião”, referem as atas. A minoria que discordava da análise de Philip Lane argumentou que, desde o último aumento da taxa diretora em setembro de 2023, “a descida da inflação esperada já implicou mais um novo aperto na orientação da política monetária, com as taxas reais atualmente próximas do pico do ciclo”.
“Além disso, considerava-se que as taxas diretoras provavelmente permaneceriam em território restritivo durante algum tempo, enquanto os efeitos da atual orientação de política restritiva continuariam a ser sentidos mesmo após o início da fase de flexibilização. Foi também observado que a redução do balanço do Eurosistema estava a ter um impacto contracionista na economia”, referem as atas.
A minoria também argumentou com “considerações de gestão de risco, achando que o equilíbrio dos riscos mudou recentemente”. Segundo explicaram, “o risco de ficar abaixo do objetivo [de 2%] na inflação e de eventualmente ter de pagar um preço demasiado elevado em termos de declínio da actividade [económica] era agora encarado como sendo pelo menos tão elevado como o risco de agir demasiado cedo e ultrapassar o objetivo no médio prazo”.
A corrida ao primeiro corte de juros
Os bancos centrais da Suécia e da Suíça foram os primeiros a cortar juros nas economias desenvolvidas depois de um ciclo de subidas para enfrentar o surto inflacionista. O Banque Nationale Suisse desceu em 25 pontos-base (um quarto de ponto percentual) a taxa diretora a 21 de março. Os juros estão agora em 1,5%, a segunda taxa mais baixa do mundo, depois da do Banco do Japão (que está num intervalo entre 0% e 0,1%).
Já em maio, esta semana, o Sveriges Riksbank, o banco central sueco, decidiu cortar os juros, também, em 25 pontos-base, descendo a taxa diretora para 3,75%.
Na corrida ao primeiro corte nas próximas reuniões em junho estão o Banco do Canadá (BoC), o Banco Central Europeu (BCE), o Norges Bank (NB, banco central da Noruega) e o Banco de Inglaterra (BoE). Os mercados de futuros projetam a possibilidade de o Canadá se antecipar ao BCE no próximo corte de juros em junho.
Os mercados de futuros projetam a possibilidade de o Canadá se antecipar ao BCE no próximo corte de juros em junho.
Com reunião a 5 de junho, há uma probabilidade de 65% que o Banco do Canadá dê o passo de aprovar um primeiro corte de 25 pontos-base, segundo o BAX Prices, da Bolsa de Montréal. Com a taxa atualmente em 5%, as projeções para os futuros do portal Macromicro apontam para uma descida da taxa do BoC até 4,36% no final do ano. O que acomoda, pelo menos, dois cortes.
No dia seguinte, reúne-se o conselho do BCE, tendo o vice-presidente Luis de Guindos já considerado que “é um facto consumado” um primeiro corte, se a trajetória da inflação na zona euro não surpreender negativamente. Pablo Hernández de Cos, o governador do Banco de Espanha, secundou, esta semana, a posição de Guindos.
No grupo dos ‘falcões’ (adeptos de uma política monetária mais austera), que são a esmagadora maioria no conselho, Pierre Wunsch, governador do Banco Nacional da Bélgica, declarou, na quarta-feira, que o corte em junho está praticamente assegurado, mas quanto a um corte seguinte recomenda prudência. Wunsch aponta para uma redução acumulada de meio ponto percentual até final do ano, mas os futuros projetam um corte acumulado de mais de 80 pontos-base, com a taxa de remuneração dos depósitos a cair no final do ano para 3,17%, segundo o portal Macromicro. Atualmente está em 4%.
A 20 de junho, o Norges Bank reúne-se, com os futuros a apontarem para uma probabilidade de 68% de um primeiro corte. E, no mesmo dia, em Londres, o Banco de Inglaterra estará suspenso das declarações do governador Andrew Bailey, esta quinta-feira, de que não está excluído um primeiro corte a 20 de junho, ainda que não seja um facto consumado. As probabilidades no mercado de futuros apontam para uma descida até final do ano dos juros dos atuais 5,25% para 4,58%, o que antecipa duas descidas, pelo menos, segundo o portal Macromicro.
Não são esperadas decisões de descida dos juros nas reuniões da Reserva Federal norte-americana (Fed) a 12 de junho e do Banco da Reserva da Austrália a 18. O mercado de futuros aponta para uma probabilidade de quase 50% para o primeiro corte da Fed ser aprovado só a 18 de setembro, segundo a plataforma da CME. Para a Austrália, as projeções para final do ano apontam para uma taxa diretora praticamente igual à atual de 4,35%.