O Banco Montepio registou um lucro de 28,4 milhões de euros no ano passado, um resultado que representa uma descida de 16% em relação aos 33,8 milhões obtidos em 2022. Porém, estes números divulgados em comunicado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) foram muito determinados pela venda da operação em Angola; sem ela, os lucros teriam sido inéditos, à semelhança do que está a acontecer com a banca portuguesa e espanhola.
O efeito da venda do Finibanco Angola foi negativo, na ordem dos 116 milhões de euros, e acabou por limitar aquilo que seria o lucro alcançado em Portugal mais alto de sempre. Seriam 145 milhões, mais de quatro vezes acima dos 33,8 milhões de 2022.
“No ano em que celebra 180 anos de existência, o Banco Montepio divulga um resultado líquido consolidado de 28,4 milhões de euros e recorrente de 144,5 milhões de euros com referência ao exercício de 2023, representando este último a melhor rendibilidade alguma vez obtida pela instituição”, indica o comunicado publicado esta quinta-feira.
Margem de juros sobe
Tal como aconteceu em 2023 com a banca europeia, foi a margem financeira (diferença entre juros pagos em créditos e juros recebidos em depósitos) a beneficiar as contas, graças à subida da taxa de juro de referência do BCE, que conduziu a uma revisão em alta das prestações dos créditos, com o banco a demorar a refleti-lo nos depósitos.
Os juros renderam uma margem de 408 milhões de euros em 2023, quando pouco passava dos 250 milhões um ano antes. A carteira de crédito caiu para 11,7 mil milhões, enquanto os depósitos somaram para 13,4 milhões. O banco conseguiu ainda uma ajuda das comissões, que somaram 5%.
Com os juros em alta, as imparidades para crédito (reconhecimento antecipado de perdas nestes empréstimos) mais do que triplicaram, para 49 milhões.
Menos 400 trabalhadores
No ano passado, o banco presidido por Pedro Leitão concluiu a reestruturação, sendo que os custos operacionais subiram 4%, para 256 milhões, com aumentos nos gastos gerais e de pessoal e com utilização de mais de 8 milhões para financiar os cortes. Saindo de Angola e com reduções em Portugal, o Banco Montepio fechou 2023 com menos 423 trabalhadores, num total de 2983 funcionários. O banco refere que encerrou 14 balcões no ano passado.
“O Grupo Banco Montepio registou uma redução de 979 trabalhadores em termos consolidados desde o final de 2019, dos quais 703 no Banco Montepio e 276 nas subsidiárias, promovendo, deste modo, a simplificação da estrutura organizacional do Grupo”, indica o comunicado, alargando o período de análise para os três anos da reestruturação encabeçada por Pedro Leitão. A redução de pessoal e a simplificação da estrutura fazem parte desse caminho e, além do Finibanco Angola, o Banco Montepio está a vender a licença do seu Banco de Empresas Montepio, que aguarda ainda o aval do Banco Central Europeu.
Também a solidez cresceu: “Os rácios Common Equity Tier 1 e de Capital Total (fully implemented) ascenderam a 16,0% e 18,7%, respetivamente, o que representa um acréscimo de 2,8 p.p. e 3,0 p.p. face ao final do ano anterior”. O presidente do banco, Pedro Leitão, já assumiu numa entrevista ao Expresso que pretende, em 2024, distribuir dividendos aos acionistas (na esmagadora maioria, a Associação Mutualista Montepio Geral) pelo lucro de 2023.