Sistema financeiro

Novo Banco espera lucro de pelo menos €650 milhões este ano, mas abaixo do recorde de 2023

Novo Banco antecipa um deslize nos resultados este ano, com o fim da escalada dos juros. Presidente repete intenção de fechar antecipadamente o mecanismo que o une ao Fundo de Resolução (e ao Estado)

ANTONIO PEDRO FERREIRA

A gestão do Novo Banco acredita que fechará o presente ano com um lucro superior a 650 milhões de euros, o que poderá representar um deslize face ao recorde alcançado em 2023, período em que registou um resultado líquido de 743 milhões de euros. Será, ainda assim, o quarto ano de resultados positivos na instituição, criada a partir do Banco Espírito Santo.

A expectativa em relação ao próximo ano está nas perspetivas que o Novo Banco tem para 2024 e que foram transmitidas aos investidores na conferência telefónica realizada esta sexta-feira, 2 de fevereiro, para apresentação das contas de 2023. São, diz o banco na apresentação, “fortes níveis de rentabilidade e geração de capital”, apesar do possível recuo de 13% do lucro.

O deslize previsto ocorre quando se prevê uma estabilização ou ligeira redução da principal fonte de proveitos, a margem financeira (que resulta da diferença entre juros recebidos em créditos e juros pagos em depósitos). Isto porque as Euribor, que influenciam os créditos, estão já a contar com deslizes futuros nas taxas de juro de referência do Banco Central Europeu. Mesmo assim, se houver menores receitas, a diferença será limitada, pelas contas do Novo Banco.

O produto bancário comercial – que soma a margem financeira e as comissões cobradas a clientes – foi de 1,4 mil milhões de euros em 2023, sendo que a gestão de Mark Bourke acredita que conseguirá, apesar dos menores juros, ultrapassar a fasquia dos 1,3 mil milhões de euros.

Nos indicadores para os quais traça metas, o Novo Banco refere ainda a expectativa de alcançar um rácio cost-to-income (que compara custos e proveitos) de cerca de 35% em 2024, sendo que ficou em 33% em 2023. Não esperando subidas no produto bancário comercial, terá de haver contenção dos custos, que crescerem 6,9% no ano passado.

Para 2024 o banco da Lone Star assume um custo do risco superior a 50 pontos-base, em linha com o até aqui registado (48 pontos, em 2023). Este indicador mede o peso das imparidades (dinheiro de lado para possíveis perdas futuras) no total da carteira de crédito.

Em 2023, e graças ao impulso dos juros do BCE (que os bancos em Portugal demoraram a refletir nos depósitos e que faz com que continuem a oferecer taxas mais baixas do que a média do euro), o Novo Banco conseguiu superar as metas que tinha definido – aliás, até chegou a revê-las em alta e, mesmo assim, ultrapassou-as. O que o banco espera conseguir também em antecipação às expectativas é que a sua dívida passe a ter nota positiva das várias agências de rating - a Fitch foi a primeira, esta quinta-feira.

Na conferência, Mark Bourke quis ressalvar que o Novo Banco (que opera com a marca novobanco) é um “negócio bem capitalizado, gerador de capital, e com posição de liquidez suficiente para apoiar famílias e pequenas e médias empresas”. Um banco “independente”, como o presidente do banco gosta de referir, para que tenha hipótese de ser ele a escolher o seu futuro.

Deixar “garantia” do Fundo para trás

Em relação à possível venda (em que o cenário preferencial é a colocação de parte do capital em bolsa), Mark Bourke foi parco em palavras, mas repetiu a ideia de que é “sempre uma boa ideia deixar o mecanismo de capital contingente para trás” – este acordo termina no fim de 2025, e é por ele que o Fundo de Resolução colocou 3,4 mil milhões de euros e poderá vir ainda a disponibilizar outros 485 milhões. Na prática, como os rácios de capital do banco estão sólidos, não é crível que seja ativado.

A única forma de esgotar as verbas desse mecanismo é por via dos casos em tribunal arbitral que opõem Novo Banco e o seu acionista Fundo de Resolução, sendo que o primeiro caso, que depois transitou para o tribunal judicial, já terminou, com decisão desfavorável para o banco (ficou sem receber 169 milhões que antecipava), como o Expresso noticiou.

O fim deste mecanismo permitirá ao Novo Banco livrar-se da proibição de distribuição de dividendos.