Conselho Superior: era este órgão, com cinco membros votantes (e outros quatro sem poder de voto), que comandava o Grupo Espírito Santo (GES). Desse grupo mais restrito houve três falecimentos: António Ricciardi, Mário Mosqueira do Amaral (que morreu pouco antes da resolução do BES) e José Manuel Espírito Santo; restam Ricardo Salgado, hoje com Alzheimer, e Manuel Fernando Espírito Santo. José Manuel Espírito Santo foi o primeiro falecido que estava apontado pelo Ministério Público e a Comissão Liquidatária como culpado pela insolvência do BES, o que faz com que tal facto tenha efeitos em tribunal. José Manuel faleceu este ano, em fevereiro, “sem testamento, doação ou qualquer disposição de última vontade quanto aos seus bens”, razão pela qual o Ministério Público, no âmbito da liquidação do BES, quer chamar os seus herdeiros (a mulher e os quatro filhos) ao processo, já que ali se discute a culpa da insolvência e tal poderá ter efeitos patrimoniais (a Comissão Liquidatária pede verbas aos ex-gestores como forma de compensação pelo buraco que o BES apresenta). Será o tribunal a decidir se os 11 nomes propostos, onde está Salgado e a sua equipa, foram culpados pela insolvência e se terão de restituir os milhões reclamados pela Comissão Liquidatária.
Em fevereiro de 2022, o último processo de contraordenação do Banco de Portugal contra Ricardo Salgado chegou ao fim. A última das sanções foi a relativa aos financiamentos através do veículo Eurofin (esquema utilizado que delapidou o BES em €1,3 mil milhões) e à exposição do BES ao BES Angola, que deixou um buraco de €3,5 mil milhões. Houve recursos, mas tudo já transitou em julgado. No que ao ex-banqueiro diz respeito, ficaram por pagar — nos quatro processos de que foi alvo pelo supervisor da banca — €8 milhões. Ricardo Salgado não pagou as coimas aplicadas nem as da CMVM, justificando com os bens arrestados à luz dos processos-crime; mas outros visados têm vindo a pagar, como é o caso de Amílcar Morais Pires, o ex-administrador financeiro, e também ocorreu com o seu primo, falecido, José Manuel Espírito Santo. Além destes processos, Salgado enfrenta ainda acusações de crimes, e são muitos: 65 são imputados só no megaprocesso BES/GES, entre os quais associação criminosa, corrupção ativa, falsificação de documento, burla qualificada e branqueamento de capitais. Há outros casos ainda sem terem chegado a julgamento, mas Ricardo Salgado arrisca pena de prisão de oito anos, pela condenação na Operação Marquês, por abuso de confiança do BES. Atualmente, os advogados de Salgado invocam que o ex-banqueiro tem Alzheimer, tentando evitar, em particular, o cumprimento da pena de prisão efetiva.