Finanças pessoais

Juros dos novos depósitos tiveram maior aumento de sempre em 2023, mas continuam abaixo da média do euro

Já quase ninguém faz aplicações em depósito com prazos superiores a dois anos. Esmagadora maioria do dinheiro vai para aplicações até um ano, que melhoraram a remuneração ao longo do ano

Sean Gallup

A taxa de juro média dos novos depósitos a particulares disparou em 2023. A banca portuguesa foi, aliás, a segunda da zona euro em que o aumento foi mais expressivo no ano passado. Só que há algo que explica isso: era também a segunda da região que tinha as taxas mais baixas no fim de 2022. Ou seja, houve uma recuperação da remuneração dos depósitos em Portugal, mas continua abaixo da média da união monetária.

Em dezembro, a taxa de juro média dos novos depósitos fixou-se em 3,08%, uma subida face aos 2,98% de novembro, revelam as estatísticas divulgadas pelo Banco de Portugal esta quinta-feira, 1 de fevereiro. É a taxa média de novos depósitos mais elevada desde julho de 2012.

“A taxa de juro média dos novos depósitos a prazo de particulares aumentou 2,73 pontos percentuais (pp) entre dezembro de 2022 e dezembro de 2023, de 0,35% para 3,08%. Este é o maior aumento anual observado desde o início da série, em 2003”, indica a autoridade bancária. Só a Letónia teve um maior incremento.

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O que esconde o maior aumento de sempre

Só que este aumento no ano passado esconde algo relativo ao ano anterior: no fim de 2022, Portugal tinha a segunda taxa média mais baixa do euro, que então se encontrava em 1,47%, bem acima dos 0,35% nacionais. “Com este aumento, Portugal passou da segunda posição mais baixa em dezembro de 2022, para a 13.ª posição em dezembro de 2023, ainda assim, abaixo da taxa média observada para este conjunto de países (3,29%)”, segundo o comunicado desta quinta-feira do Banco de Portugal.

Foi um atraso que os bancos portugueses demoraram a corrigir, só o fazendo depois de apelos políticos e incluindo do próprio Banco de Portugal, já que muito antes já os créditos tinham sido atualizados à luz das novas Euribor. Ainda assim, uma correção sem que igualem a média do euro. Nos depósitos de particulares, a Grécia apresenta o mais baixo valor, com 1,84%, seguida da Eslovénia, com 1,94%, enquanto a Estónia tem 4,24%, a taxa mais elevada, logo seguida pela Itália, com 3,9%, indicam os dados do Banco Central Europeu.

Este atraso nos depósitos, conjugado com a automática revisão dos contratos de crédito indexados às Euribor, fez com que os bancos tivessem margem de negócio inédita e tenham registado lucros recorde em 2023: esta sexta-feira, o Novo Banco e o Santander Totta vão apresentar as suas contas. Em Espanha, onde a taxa de juro média dos novos depósitos é até inferior à nacional (2,57%), Santander, BBVA e Bankinter apresentaram lucros nunca antes alcançados.

Dados do Banco de Portugal revelam que Portugal continua aquém do euro nas remunerações dos depósitos, tanto de particulares, como de empresas
José Carlos Carvalho

Já quase ninguém aplica acima de dois anos

Com a melhoria da remuneração ao longo do ano, houve uma maior procura por depósitos, sobretudo na segunda metade do ano, já após o corte da remuneração dos juros dos certificados de aforro decidido pelo Ministério das Finanças. “O montante de novas operações de depósitos a prazo de particulares totalizou 94 mil milhões de euros em 2023, quase o dobro do registado em 2022 (49,4 mil milhões de euros)”, indica o supervisor.

Ao longo do ano, a esmagadora maioria dos novos depósitos passaram a ser com prazos até um ano. Representavam 97% das aplicações em dezembro, contra 73% em abril. As maturidades acima de dois anos, que chegaram a 9% em maio, estavam em 0,6% no fim do ano, revelam os dados do Banco de Portugal.

Até um ano, a taxa subiu ainda em dezembro, de 3% para 3,1%. Nos prazos de 1 a 2 anos, já há recuo da taxa: de 2,67%, em novembro, para 2,64%, em dezembro. Depois de um recuo no prazo mais longo, houve agora uma subida.

Mexidas da taxa de juro do Banco Central Europeu, liderado por Christine Lagarde, demoraram a refletir-se nos depósitos
FADEL SENNA/AFP via Getty Images

Portugal segundo pior nos novos depósitos à ordem

O BCE mostra que Portugal é, entre os países do euro, o segundo com pior remuneração nos depósitos à ordem, com possibilidade de mobilização imediata. A taxa de juro média em Portugal é de 0,02%, só acima do Chipre, que nada paga.

No Luxemburgo, esta taxa está em 1,52%, sendo o único com um valor acima de 1%. A média do euro é de 0,37%.

Empresas abaixo da média do euro

Entretanto, “a remuneração média dos novos depósitos a prazo de empresas passou de 0,97% em dezembro de 2022 para 3,46% em dezembro de 2023, o que corresponde a um aumento de 2,49 pp”. Em novembro, era de 3,4%, revelando uma estabilização desta taxa, que se encontra em valores inéditos desde 2011.

Apesar desta subida, também aqui a média do euro é superior: 3,72%. Ainda assim, suficiente para captar maior procura.

“As novas operações de depósitos totalizaram 76,7 mil milhões de euros, mais do que triplicando relativamente a 2022 (21,5 mil milhões de euros)”, assinala ainda o supervisor.