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BCE inflexível e esquivo: juros altos ainda sem cortes à vista

O Banco Central Europeu, na sua primeira reunião do ano, decidiu manter as taxas diretoras sem alteração e reafirmar que a estratégia é deixá-las em níveis suficientemente restritivos pelo tempo que for necessário. Mercados apostam em abril para o primeiro alívio

Ralph Orlowski/Getty Images

Na primeira reunião do ano, o Banco Central Europeu (BCE) decidiu manter inalterados os juros e reafirmar a estratégia que tem sido seguida de não antecipar a intenção e o calendário de cortes nos juros.

“Com base na sua atual avaliação, o Conselho do BCE considera que as taxas de juro diretoras do BCE estão em níveis que, se forem mantidos por um período suficientemente longo, darão um contributo substancial para esse fim [de fazer descer a inflação para o objetivo de 2%]. As futuras decisões do Conselho do BCE assegurarão que as taxas diretoras serão fixadas em níveis suficientemente restritivos durante o tempo que for necessário”, refere o comunicado publicado esta quinta-feira.

Deste modo, a taxa de juro aplicável às operações principais de refinanciamento e as taxas de juro aplicáveis à facilidade permanente de cedência de liquidez e à facilidade permanente de depósito permanecerão inalteradas em 4,50%, 4,75% e 4,00%, respetivamente.

O BCE considera que a política seguida, desde o início do ciclo de subida dos juros em julho de 2022 está a surtir efeito: “A informação que tem vindo a ser disponibilizada confirmou amplamente a anterior avaliação das perspetivas de inflação a médio prazo. Excetuando um efeito de base em sentido ascendente na inflação global relacionado com os produtos energéticos, a tendência descendente da inflação subjacente [excluindo as componentes mais voláteis do índice de preços, como a energia e a alimentação] prosseguiu e os anteriores aumentos das taxas de juro continuam a ser transmitidos de forma vigorosa às condições de financiamento. As condições de financiamento restritivas estão a refrear a procura, o que está a ajudar a reduzir a inflação”.

Recorde-se que, nos últimos doze meses, a inflação na zona euro abrandou de 8,6% em janeiro para um mínimo de 2,4% em novembro, tendo subido ligeiramente para 2,9% em dezembro. No caso da inflação subjacente, desceu de um máximo de 5,7% em março para 3,4% em dezembro.

O conselho reuniu os 26 membros, mas cinco governadores de bancos centrais nacionais não votaram nesta primeira reunião do ano, entre eles Mário Centeno, do Banco de Portugal, em virtude de uma regra de rotatividade. O conselho é formado por seis membros da comissão executiva, entre eles a presidente e o vice-presidente, e vinte governadores dos 20 bancos centrais nacionais da zona euro.

Christine Lagarde, a presidente do BCE, realizará dentro de meia hora uma conferência de imprensa onde explicará em detalhe as decisões da reunião e será, certamente, confrontada com o impacto das suas declarações em Davos, em entrevista à Bloomberg, onde admitiu a possibilidade da política monetária ser alterada no verão.