Os portugueses estão a tirar dinheiro que têm nas contas à ordem, e a colocar a maior parte em depósitos a prazo, para tentar aproveitar a subida tardia dos juros. Porém, nem todo o dinheiro tem sido aplicado na banca, pelo que o volume total de depósitos deslizou em setembro.
Quem o conta são os dados que o Banco de Portugal divulgou esta quarta-feira, 25 de outubro: “Continuou a verificar-se a tendência de substituição de depósitos à ordem por depósitos a prazo. Em setembro, os depósitos à ordem reduziram-se 1,7 mil milhões de euros, enquanto os depósitos a prazo (que incluem os depósitos com prazo acordado e os depósitos com pré-aviso) aumentaram 1,5 mil milhões de euros”.
Os bancos têm vindo a aumentar a remuneração dos depósitos a prazo (deixando que os depósitos à ordem nada rendam), o que pode justificar a mobilização por parte de alguns clientes. Porém, nem todo o dinheiro é canalizado para os depósitos a prazo, ainda que não haja explicações do Banco de Portugal para a utilização de tais verbas, num momento em que o custo de vida tem efetivamente aumentado (o que tem feito a poupança cair).
Aliás, é por essa diferença entre aplicações bancárias a ordem e a prazo que a carteira total de depósitos na banca portuguesa cedeu em setembro. Ao todo, “o stock de depósitos de particulares nos bancos residentes totalizava 174,7 mil milhões de euros, menos 0,1 mil milhões de euros do que em agosto, o que representa um decréscimo de 3,6% relativamente a setembro de 2022”, segundo o comunicado enviado pelo supervisor bancário.
Maior quebra no ano
Desde março deste ano que os depósitos têm vindo a subir e descer em torno dos mesmos montantes, depois de os primeiros três meses de 2023 terem sido marcados por uma quebra intensa, com os clientes bancários a transferirem-se para certificados de aforro, que então tinham uma taxa de juro mais atrativa. O Governo baixou essa remuneração dos certificados, e os bancos foram depois subindo a taxa de juro (dados mais recentes sobre os juros bancários serão divulgados esta sexta-feira).
Aliás, há sete meses que a evolução da carteira é negativa quando se compara o volume mensal de 2023 com os mesmos meses de 2022. A quebra homóloga de setembro (-3,6%) é a mais intensa do período.
Já na zona euro, a tendência tem sido de um abrandamento na carteira de depósitos, mas não quebra. A evolução anual foi de um crescimento de 0,2% em setembro, inferior aos 0,4% de agosto.
Queda no crédito a particulares inédita em seis anos
O crédito a particulares (habitação, consumo, outros) também tem vindo a recuar, reflexo da política monetária empreendida pelo Banco Central Europeu que, com a subida de juros, tenta arrefecer a economia (para conter a inflação).
“No final de setembro de 2023, o montante total de empréstimos a particulares registou, pela primeira vez desde fevereiro de 2018, um decréscimo em termos anuais (-0,3%)”, assinala o Banco de Portugal, cujos dados mostram que é preciso recuar a outubro de 2017 para encontrar uma quebra dessa dimensão. São seis anos.
“O montante total de empréstimos para habitação era de 99,2 mil milhões de euros, tal como no mês anterior, o que representa um decréscimo de 0,7% relativamente a setembro de 2022. Este decréscimo reflete o aumento das amortizações antecipadas e o abrandamento na procura de crédito à habitação”, explica a autoridade presidida por Mário Centeno.
O Orçamento do Estado para o próximo ano prevê que possa haver amortizações antecipadas sem pagamento de comissões e imposto no próximo ano, tal como já ocorreu este ano.
Empresas com evoluções distintas
No que diz respeito às empresas, o supervisor mostra que o montante de crédito deslizou 2,8% em relação a setembro de 2022, mas aumentou ligeiramente face a agosto.
A evolução contrária verifica-se nos depósitos: deslizaram face a agosto, mas cresceram em relação a setembro de 2022.