Finanças pessoais

Juros dos novos créditos à habitação subiram em julho, mas com o menor agravamento do último ano e meio

Há dez meses que a banca portuguesa impõe juros mais elevados nos novos créditos à habitação que a média da zona euro. Prestação média agravou-se em 100 euros no espaço de um ano

NUNO BOTELHO

Os juros dos novos créditos à habitação em Portugal aumentaram, em julho, pelo 18.º mês consecutivo. Ainda assim, o crescimento registado entre junho e julho é o mais baixo em todo este período, significando um segundo abrandamento mensal seguido. Uma evolução que acontece num momento em que as taxas variáveis perdem peso para as taxas fixas nos novos empréstimos que são concedidos.

A subida dos juros nos novos créditos iniciou-se em janeiro de 2021, altura em que estava em 0,81%, e chegou a junho do corrente ano nos 4,23%, sendo que passou depois para 4,24% em julho, segundo os dados do Banco de Portugal que foram divulgados esta sexta-feira, 1 de setembro. Uma subida muito tímida, que não se tinha registado ainda neste período.

A banca portuguesa cobra mais do que a média da zona euro: em julho, a taxa dos novos créditos era de 3,79%, e no mês anterior estava em 3,75%. Desde outubro de 2022 que a banca nacional cobra mais que a média da região em que se integra.

O abrandamento dos créditos acontece quando as Euribor, a que estão indexados, também estão já a dar sinais de que a escalada pode estar próxima do fim. Além disso, também os juros nos depósitos marcam essa tendência de abrandamento, ainda que a sua subida tenha começado muito mais tarde que nos créditos.

A taxa de juro do BCE está em 4,25%, quando em julho do ano passado seguia nos zero. Em setembro, há uma nova reunião do Banco Central Europeu (BCE) para decidir se há mexidas na taxa de juro.

Apesar de esta subida abrandar, a reavaliação dos empréstimos dos portugueses não será imediata e pode ainda demorar uns meses – aliás, tendo em conta que há indexantes a 12 meses, só nos primeiros meses de 2024 é que os banqueiros acreditam que acabará esse repricing da carteira.

Com este agravamento, o crescimento do volume de crédito à habitação caiu em julho face ao ano anterior, pela primeira vez em cinco anos.

Prestação média sobe 100 euros num ano

Segundo os dados do BCE, e olhando para outro indicador, Portugal é um dos países europeus onde o custo da carteira de empréstimos à habitação (toda a carteira, seja novos ou antigos) é dos mais elevados. É o quinto com taxa mais elevada nos créditos com taxas variáveis e com prazo acima de cinco anos (4,2%) face aos 2,26% de média da zona euro.

A prestação média da carteira dos empréstimos à habitação própria permanente subiu de 391 euros mensais em junho para 399 euros em julho, revela o Banco de Portugal. Um ano antes, a prestação média estava nos 294 euros mensais, o que significa um agravamento médio de 100 euros por crédito existente.

Metade dos novos créditos já não evolui ao sabor das Euribor

Esta desaceleração dos juros nos novos créditos em Portugal ocorre no mês em que a taxa variável (que evolui à boleia das Euribor) perde força. “Em julho, os novos empréstimos à habitação com taxa mista (isto é, empréstimos com taxa de juro fixa num período inicial do contrato, seguido de um período em que a taxa de juro é variável) ou taxa fixa representaram, em conjunto, 49% do total de novos empréstimos à habitação”, de acordo com o Banco de Portugal.

“O peso dos empréstimos com taxa de juro fixa ou mista tem aumentado de forma muito evidente ao longo do último ano: de um valor que historicamente rondava os 15%, passou para quase metade das novas operações de crédito. A subida tem ocorrido sobretudo nos contratos com taxa mista”, continua o supervisor da banca.

Por exemplo, em julho de 2022, a taxa variável era utilizada em mais de 85% dos novos empréstimos para a compra de casa, e agora passou a 51%. A taxa fixa significava 10% há um ano, seguindo agora com uma proporção de 39%.

Uma proteção que os consumidores estão a procurar para não sofrerem com a Euribor, e que se segue às novas regras que obrigam os bancos a anunciar, na hora de conceder créditos, quais as várias projeções de evolução de taxas nos seus vários tipos: mista, fixa e variável.

Porém, estes são dados sobre os novos empréstimos, mas a carteira de crédito continua a ser dominada por créditos a taxas variáveis. Aliás, uma das questões que o Governo pretende reforçar é facilitar a passagem destes empréstimos com Euribor para a taxa fixa apenas por um determinado período de tempo (dois anos, por exemplo). Uma medida que o ministro das Finanças, Fernando Medina, prometeu para setembro.