A administração da Global Media voltou a falhar o pagamento dos salários na data prevista. Numa comunicação interna a que o Expresso teve acesso, a comissão executiva refere que “apesar dos esforços desenvolvidos ao longo das últimas semanas no sentido de assegurar em tempo útil o processamento dos salários referentes ao mês de dezembro, vê-se obrigada a informar todos os trabalhadores do Global Media Group não existirem, à data de hoje, condições que permitam o pagamento dos salários deste mês”.
Adianta mesmo que “não pode adiantar nem se comprometer com qualquer data para o pagamento dos salários de dezembro, podendo unicamente garantir estar a fazer todos os esforços para que o atraso desse pagamento seja o menor possível”.
Na mesma comunicação, a comissão executiva refere que indicou esta manhã aos diretores editoriais que a situação financeira do grupo “é extremamente grave, em particular após o inesperado recuo do Estado português no negócio já concluído para a aquisição das participações que o grupo possui na agência Lusa, da injustificada suspensão da utilização de uma conta caucionada existente no Banco Atlântico Europa há cerca de 6 anos, bem como de todo o aproveitamento político-partidário que, em época pré-eleitoral, tem sido feito em redor do grupo”. E pede a “compreensão possível por parte de todos os funcionários, solicitando-lhes o empenho possível durante este período que pretendemos ser o mais breve possível”.
Garante também que “está a adotar um conjunto de medidas que garantam a sobrevivência e normalização de procedimentos para que, a partir de janeiro, possam salvaguardar a viabilização e a salvação das diferentes marcas e do próprio Global Media – um processo que só terá êxito, se contar com a participação e o esforço de todos”.
Não é a primeira vez que há atrasos no pagamento dos salários. Aconteceu no final de outubro e a administração disse que tal ficou a dever-se a uma alteração de procedimentos mas que a situação estava ultrapassada. Voltou a acontecer no final de novembro e na altura a administração justificou o atraso com dificuldades no processamento da transferência internacional do dinheiro, situação que, assegurou, tinha ficado resolvida. Em causa está o facto de ter passado a ser o fundo World Opoortunity Fund, que passou a controlar 50.25% do grupo em setembro, a assegurar o pagamento dos salários.
A 18 de dezembro, segundo informação prestada então pelas delegadas sindicais do ‘Jornal de Notícias’, o presidente executivo do grupo garantiu que os salários de dezembro não estavam em causa. João Paulo Fafe assumiu então o compromisso de alertar os trabalhadores até esta quarta-feira, dia 27, caso houvesse atrasos no pagamento.
No início do mês a administração confirmou que o plano de reestruturação do grupo passará pela saída de bastantes trabalhadores – serão entre 150 e 200 – primeiro pela via negocial e depois, se a negociação não resultar, por via de um despedimento coletivo. Na altura indicou também que o pagamento do subsídio de Natal será feito em duodécimos ao longo de 2024. Medidas que alegou serem necessárias para evitar “a mais do que previsível falência do grupo” mas que têm sido contestadas pelos trabalhadores dos vários meios de comunicação social da Global Media.
No Jornal de Notícias houve inclusivamente uma greve de dois dias e uma ação solidária na redação para apoiar os trabalhadores com menores rendimentos, que depois alastrou a jornalistas de outros meios e permitiu angariar mais de 10 mil euros, tendo o dinheiro sido distribuído por 38 dos colaboradores a recibos verdes mais precários, que continuam sem receber os pagamentos devidos de outubro e sem ter respostas da empresa.