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Vinhos: Uma Falua avança Douro acima

Empresa do grupo Roullier quer “multiplicar negócio do vinho” em Portugal e assume ambição de “ser uma referência” no sector

Na Quinta do Mourão há vinhos em stock com 150 anos
Photo : Emmanuel Pain

A Falua, filial portuguesa do grupo Roullier para a atividade vitivinícola, acaba de comprar a Quinta do Mourão, a sua segunda propriedade no Douro, anunciou a empresa esta terça-feira.

O negócio, cujo valor não foi divulgado, surge um mês depois da compra da Quinta de São José, dá à empresa 100 hectares no Alto Douro Vinhateiro e permite reforçar a sua presença na região e no sector, onde assume “a ambição de ser uma referência em Portugal”, diz ao Expresso Antonina Barbosa, diretora-geral e enóloga.

Com um volume de negócios de 10 milhões de euros nos vinhos em Portugal antes de entrar no Douro, e as exportações já a rondar os 85%, distribuídas por 30 países, a empresa quer “multiplicar o negócio", o que na prática significa "duplicar ou até triplicar” e acredita que esta aquisição “num projeto diferenciador, com vinhos do Porto em stock já com 150 anos dará um contributo de peso para isso”, acrescenta.

Com uma história secular, já representada no “Map of the Douro” do Barão de Forrester, de 1843, a mais recente aquisição do grupo junta cinco propriedades entre o Baixo Corgo e o Cima Corgo, combinando no seu portfólio vinhos tranquilos e Porto.

Do Tejo, aos Verdes e ao Douro

A operação do grupo Roullier nos vinhos em Portugal começou em 1994, no Tejo, com a compra da Falua à João Portugal Ramos, expandiu-se para os Vinhos Verdes, com a aquisição da Quinta do Hospital, em 2020, e chega, agora, ao Douro, “a confirmar a aposta do grupo no sector vitivinícola português, em diferentes regiões”.

No futuro, a Falua espera consolidar a operação atual, sem fechar a porta a novas oportunidades, mas em vez de falar em regiões, prefere falar em “projetos diferenciadores”. “Estamos atentos a oportunidades que apareçam, mas não olhamos para as regiões. O nosso foco está mesmo nos projetos e na diferenciação”, afirma Antonina Barbosa.

No caso da Quinta do Mourão, por exemplo, pode cruzar vinhos com história e literatura: em 1885, nas Farpas, Ramalho Ortigão escreveu na casa principal desta quinta, em Cambres, Lamego sobre “um deslumbramento”. “Debaixo da varanda, voltada ao norte, estende em doce declive um largo talhão de vinha baixa, cerrada, espessa, em todos os tons do verde, desde o mais vivo ao mais escuro, rajado das tintas maduras do Outono em manchas cor de âmbar e cor de fogo, louras, vermelhas, calcinadas. Em baixo, o rio Douro, espraiado, descreve um enorme S em toda a extensão do vale, reluzindo entre rasgões de olivedos e pomares, por detrás das ramas viçosas, dos choupos e dos amieiros”, descreve o escritor.

O grupo francês Roullier tem um volume de negócios de 4,1 mil milhões de euros e mais de 10 mil trabalhadores em 131 países em áreas como a nutrição de solos e plantas, algologia, extração de minerais, agroalimentar e produção de energia a partir de biomassa.