Numa rara aparição, Patrick Drahi, o dono da Altice Internacional, casa mãe da Altice Portugal, abriu a conferência de imprensa de apresentação dos resultados do grupo esta segunda-feira, falando das investigações do Ministério Público em Portugal aos negócios com fornecedores ligados ao antigo acionista Armando Pereira, afirmando-se “chocado” e com “profunda desilusão”. Drahi declara-se inclusive "traído" se se vier a provar que as investigações que estão a ser feitas a Armando Pereira são fundadas.
O português Armando Pereira, antigo acionista da Altice, tem apenas agora cerca de 20% do "interesse económico pessoal" de Patrick Drahi na Altice, mas para já empresário franco-israelita não quer explicar exatamente o que é que isso significa, remetendo declarações para mais tarde.
Patrick Drahi explicou na conferência de analistas que "a grande maioria da Altice International é detida pela Next", a sua "holding familiar pessoal" e na qual detém 100% das ações e dos direitos de voto".
O empresário esclarece que a participação de Armando Pereira foi sempre reduzida, e que o português não entrou desde a fase zero, conforme se tem noticiado. "Fundei a Altice em 2001. E criei uma equipa de gestão na primeira aquisição, onde em 2003 contratei, entre outros, Armando Pereira. Era o responsável pelas operações técnicas, incluindo o aprovisionamento técnico", afirmou.
Drahi acrescentou que então, no âmbito desta função, e "à semelhança de muitos outros gestores do grupo, Armando Pereira fez um pequeno investimento na primeira aquisição da Altice, o que representou menos de 1% do capital". Com esse investimento tornou-se investidor de private equity da Altice, com esses interesses económicos.
"Ao longo do tempo, a interesse económico foi evoluindo e, desde 2005, não detém uma única ação ou direito em nenhuma das entidades da Altice", frisou.
Armando Pereira saiu das operações Internacionais após compra da PT
Drahi esclarece que Armando Pereira foi afastado das operações internacionais da Altice Internacional em 2016, ou seja, pouco tempo após a compra da Portugal Telecom, onde foi presidente do Conselho de Administração. A Altice concluiu a compra do operador histórico português em junho de 2015.
"Depois de ter estado envolvido na reestruturação da nossa atividade na República Dominicana em 2014, e depois da entrada em Portugal, entre 2015 e 2016, Armando Pereira não esteve envolvido na operação de nenhuma das subsidiárias da Altice International", explicou o empresário, que também já tem nacionalidade portuguesa.
Separar as águas
“Foi um choque e uma profunda desilusão para mim. Se essas alegações forem verdadeiras, sinto-me traído por um pequeno grupo de indivíduos, incluindo um dos nossos colegas mais antigos“, afirmou Patrick Drahi, logo na abertura da conferência, referindo-se a Armando Pereira.
O multimilionário francês afasta-se do processo e alega desconhecer quaisquer ações fraudulentas envolvendo as compras. "Alguns quadros, especialmente parte da equipa de compras, esconderam cuidadosamente de mim, dos seus colegas e do grupo as suas práticas", afirmou. E prosseguiu. "se as alegações forem provadas, [estas pessoas] tiraram partido da sua posição em detrimento do grupo e, consequentemente, também à minha custa pessoal".
Drahi explicou aos investidores e aos obrigacionistas que a Altice está a levar o "assunto muito a sério". E avançou com ações para que se perceba "rapidamente" a "verdade" no sentido de proteger o grupo de quaisquer eventuais danos para o caso das alegações serem confirmadas.
Investigações para já cingidas a Portugal
"Depois de tomarmos conhecimento da investigação das autoridades portuguesas, a 13 de julho, atuámos imediatamente. Em Portugal, estamos a cooperar plenamente com as autoridades portuguesas", clarificou. E explicou que a Altice avançou com investigações internacionais em vários países, onde está a trabalhar com sociedades de advogados "reputadas, para efetuar uma análise independente". Foram ainda contratados consultores externos, incluindo contabilistas forenses.
Para já, avançou Drahi, tanto quanto se sabe, a investigação judicial está limitada a Portugal. Não obstante, revela que foram "identificadas entidades da Altice fora de Portugal que fizeram alguns negócios com os fornecedores" identificados pelas autoridades portuguesas.
O magnata franco-israelita afirmou ainda que a Altice colocou cerca de 15 trabalhadores em licença em Portugal, em França e nos EUA. "Solicitámos a todos os nossos presidentes da comissão executiva que implementassem uma série de medidas, que incluem suspensão de pagamentos e compras a entidades potencialmente implicados", explicou.
Atualizado com mais informação às 14:30