Num ano particularmente difícil para as famílias portuguesas, com a inflação a escalar e, consequentemente, também os juros, a procura por imóveis parece não ter recuado, segundo um relatório da Engel & Völkers, que indica que nas zonas onde esta mediadora imobiliária tem atividade, em quase nenhum local a procura foi afetada, e os preços também não.
Contudo, a imobiliária reconhece que, no início de 2023 já se observa algum “abrandamento da procura, com o agravamento dos custos da habitação, o aumento das taxas de juro num contexto da perda de poder de compra das famílias associada ao aumento da inflação”. Isto porque a situação económica atual “canalizou uma parte dos potenciais compradores de habitação para o mercado de arrendamento, com as rendas a atingirem máximos históricos”.
Mas não foi só essa a razão da subida das rendas. Segundo o estudo, a “popularidade de algumas cidades portuguesas junto dos nómadas digitais tem sido também um importante contributo para este aumento dos preços das rendas”.
E no meio deste cenário, os jovens “estão numa situação particularmente difícil, com os seus rendimentos muito desfasados das novas prestações de crédito à habitação ou das rendas”.
Preços que teimam em não baixar
Entre os mercados analisados pela Engel & Völkers, é visível que os preços não baixaram. Com a procura ainda em alta - apesar do abrandamento sentido só em 2023 - os preços também continuam elevados.
Por exemplo, em Braga e Guimarães os preços não pararam de subir, sendo que o maior aumento se deu entre o segundo e o terceiro trimestre do ano passado. No final de 2022, o preço do metro quadrado atingiu os 1375 euros em Braga e os 1141 euros em Guimarães.
A imobiliária nota também que “a pandemia e mais recentemente o aumento das taxas de juro e diminuição do poder de compra das famílias não interromperam a subida continuada dos preços de habitação no concelho do Porto, com um aumento de 50% desde 2019”. “Os preços de habitação no Porto aumentaram 16% durante o ano 2022”, acrescenta a Engel & Völkers.
Mas lemos o mesmo para o concelho de Cascais (aumento de 47% desde 2019, e 19% em 2022), em Lisboa (subida de 28% desde 2019 e 14% durante o ano de 2022) e para todos os concelhos algarvios onde a empresa está presente - exceto em Almancil, freguesia onde o preço do metro quadrado diminuiu entre o terceiro trimestre o último trimestre do ano passado, para 3829 euros por m2.
E se olharmos para a freguesia da Comporta, ainda mais expressivos são os aumentos: mais de 165% desde 2019 e 67% em 2022.
Já em Sintra e na Zona Oeste os preços aumentaram 22% e 25% em 2022.
Apesar deste aumento, atualmente “os preços estão numa tendência de estabilização (...) ,o crescimento que temos observado ao longo dos anos não se vai prolongar”, revelou, na apresentação do relatório, Vanessa Moreira, diretora de vendas da Engel & Völkers, sublinhando que ainda é precoce falar em possíveis descidas de preços. E conclui: “estamos muito otimistas para 2023”.
Costa Algarvia e Alentejana: o amor dos estrangeiros
O Algarve e a costa alentejana são dois casos muito particulares, como nota a imobiliária no seu relatório. “O Algarve tem algumas zonas em que os estrangeiros chegam a representar 90% da compra”, disse Vanessa Moreira, destacando o mercado norte-americano.
Em média os compradores internacionais (não residentes em Portugal), segundo dados do INE, representam cerca de 22% do total das compras de habitação no concelho de Faro, 34% em Tavira, 40% em Quarteira (50% se olharmos apenas para Vilamoura), 32% em Albufeira, 22% em Portimão, 48% em Lagos, 43% em Aljezur e 56% em Vila do Bispo. A percentagem chega a ser maior se forem analisados apenas os clientes da imobiliária.
Mas há uma zona particularmente luxuosa e preferida dos estrangeiros no Algarve: a Quinta do Lago, zona também conhecida como ‘triângulo dourado’. “Na agência da E&V Quinta do Lago, os compradores internacionais representam cerca de 90% do total das compras de habitação, com os compradores internacionais britânicos, norte-americanos, alemães e holandeses a liderarem as compras de habitação”, lê-se no relatório.
Há outro caso muito particular, já nas praias do Alentejo, que teve um “crescimento exponencial” e é “um dos sítios mais procurados”, como caracterizou Margarita Oltra, gestora regional da imobiliária, e como observamos pelo aumento dos preços previamente referido.
No concreto, na Engel & Völkers, 60% das transações da imobiliária envolvem estrangeiros, com destaque para os alemães, suíços, britânicos e belgas.
Em média os compradores internacionais representam cerca de 48% do total das compras de habitação no concelho de Lagos, enquanto em Aljezur e Vila do Bispo o peso das compras por estrangeiros é maior, com cerca de 43% e 56% respetivamente.
Por outro lado, em Lisboa os estrangeiros representam apenas 13%. Ainda assim, na carteira da imobiliária representam 30% e concentram-se nas zonas mais luxuosas da capital, explicou Vanessa Moreira. De notar, contudo, que a cidade tem vindo a atrair nómadas digitais de todo o mundo. “De acordo com a Nomad List, no ano 2022, Lisboa era a nona cidade mundial com maior procura por parte dos nómadas digitais”, indica o relatório. Em parte, são estes os fatores para a subida dos preços, das casas e das rendas.
E no Porto, para a imobiliária, os compradores internacionais chegam a ser 50% revelou Margarida Oltra (12% no geral). “Também no Porto, os nómadas digitais têm-se revelado uma tendência. Estão presentes [na cidade] cinco mil nómadas digitais”, disse.