Bolsa e Mercados

Portugal emitiu €1,5 mil milhões em dívida de curto prazo a juros mais altos

Na primeira operação de emissão de dívida de curto prazo após as eleições legislativas, o Estado pagou, esta quarta-feira, juros mais altos do que nos leilões anteriores de Bilhetes do Tesouro

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Portugal regressou esta quarta-feira ao mercado da dívida tendo colocado 1,5 mil milhões de euros em Bilhetes do Tesouro a 6 e 12 meses. Nos dois leilões pagou taxas mais elevadas do que nas emissões anteriores. No prazo a vencer em setembro de 2024 pagou, agora, 3,736%, superior a 3,646% em 21 de fevereiro. No título a vencer em março de 2025 pagou, esta quarta-feira, 3,443%, acima de 3,27% pagos em leilão anterior.

É a segunda operação de emissão depois das eleições legislativas de 10 de março, cujos resultados finais só serão conhecidos esta quarta-feira. A 13 de março, o Tesouro foi ao mercado colocar 1001 milhões de euros em obrigações a vencer em 2031 e 2042, tendo pago, então, taxas mais baixas do que em operações similares anteriores.

Uma característica que permanece no mercado é o facto de se continuar “com uma curva de taxas de juro invertida, com as taxas para os prazos mais curtos mais altas que as de prazo mais longo”, refere Filipe Silva, diretor de investimentos do Banco Carregosa.

“Continuamos num regime de taxas onde o curto prazo tem prémios de risco superiores ao longo prazo”, acrescenta. Esta situação é observada na zona euro, que indicia risco futuro de recessão, segundo algumas correntes de economistas.

Na operação desta quarta-feira, o Tesouro colocou 500 milhões de euros em Bilhetes a vencer em setembro de 2024, com uma procura significativa, 3,55 vezes superior à oferta, e 1000 milhões de euros nos títulos a vencer em outubro de 2025, com uma procura 2,13 vezes superior à oferta.

Apesar das taxas mais elevadas pagas nestas operações de curto prazo, Portugal continua a beneficiar da melhoria recente de rating por parte da S&P, que permitiu à dívida do país ter, agora, um pleno de notações no escalão A.

Em relação a Espanha, Portugal pagou mais na emissão a 6 de meses e menos no prazo a 1 ano. O Tesouro espanhol pagou a 5 de março uma taxa de 3,715% no leilão de títulos a vencer em setembro de 2024 e 3,516% nos títulos a vencer em março de 2025..

A perspetiva global, na zona euro, de início de um ciclo de corte dos juros pelo Banco Central Europeu (BCE), eventualmente a começar na reunião de junho, está a beneficiar a emissão de dívida na zona euro.

Ainda esta quarta-feira, Philip Lane, o economista-chefe do BCE, no encontro “The ECB and its Watchers”, organizado pelo Institute for Monetary and Financial Stability em Frankfurt, chamou a atenção para a trajetória descendente da curva dos futuros da taxa de curto prazo de 3,9% atuais para perto de 3% no final de 2024, 2,5% em 2025, e um pouco acima de 2% em 2026.

No entanto, como refere Filipe Silva, “as expetativas relativamente ao número de cortes [nos juros em 2024] tem vindo a baixar, o que tem feito subir as taxas”. Christine Lagarde, a presidente do BCE, também esta quarta-feira no encontro referido, voltou a sublinhar que as decisões de descida dos juros dependem dos dados macroeconómicos e serão avaliadas reunião a reunião. Acrescentou que “mesmo depois de um primeiro corte de juros”, o BCE “não pode comprometer-se, de antemão, com uma trajetória concreta para os juros”.