A relação é quase sempre vitalícia: o banco onde abriu conta pela primeira vez é, provavelmente, ainda uma das instituições financeiras com quem trabalha. Dizem os estudos que é preciso uma razão muito forte para mudar de banco. A contratação de um crédito à habitação é dos poucos acontecimentos que pode levá-lo a mudar. Contudo, cerca de metade dos inquiridos pela consultora Neves de Almeida afirmaram que celebraram o financiamento para compra de casa no seu banco de sempre.
Uma das razões apontadas pelos especialistas para a baixa taxa de mudança de banco está na reduzida transparência do sector bancário em Portugal. O Banco de Portugal tem consciência deste problema. Aliás, Vítor Constâncio, o governador da instituição a quem compete "velar pela estabilidade do sistema financeiro nacional", prometeu recentemente duas medidas para responder a essa falta de transparência: um portal na internet onde os clientes dos bancos poderão obter toda a informação sobre produtos financeiros e um código de conduta para todo o sector.
Não fique à espera do portal do Banco de Portugal: o sítio na internet até pode ajudá-lo muito, mas não aguarde milagres. A verdade é que a escolha do banco certo para as suas finanças é quase tão importante como escolher com quem quer passar o resto da vida, qual a casa que deve comprar e a profissão capaz de satisfazer os seus desejos nos próximos anos. Ficar ligado ao banco de sempre pode custar-lhe muitos milhares de euros. Está na altura de mudar de atitude e, quem sabe, de banco.
Para não partir na sua busca pelo melhor banco com as mãos vazias, a Carteira investigou as 10 instituições financeiras que mais crédito concederam aos portugueses: Caixa Geral de Depósitos, Millennium bcp, Banco Espírito Santo, Santander Totta, Banco BPI, Montepio, Banif, Crédito Agrícola, Banco Popular e Banco Português de Negócios. Juntos, estes 10 bancos são responsáveis por quase 300 mil milhões de euros de créditos, mais de 80 por cento de todo o valor concedido por instituições financeiras em Portugal. Provavelmente, o seu crédito à habitação tem sede num deles. E é por aí que deve começar.
Transferir crédito à habitação
É aborrecido transferir o crédito à habitação para outro banco ou contratar um novo empréstimo numa instituição com quem nunca teve contacto. É por isso que apenas 4,5 por cento dos clientes bancários transferiu o seu empréstimo nos últimos 2 anos, segundo a consultora Neves de Almeida. Contudo, é provável que muitos estejam a perder por ainda não terem saltado para outro banco. Actualmente, é possível receber um spread entre 0,29 por cento e 1 por cento na concessão de um crédito nas mesmas condições: um casal de 35 anos com rendimentos brutos anuais de 65 mil euros que queira comprar um apartamento de 150 mil euros recorrendo ao financiamento de 120 mil euros durante 30 anos. Essa diferença pode representar uma poupança de 20 mil euros no final de 30 anos. No primeiro mês, a poupança pode ser logo de 50 euros.
A crise do crédito hipotecário norte-americano chegou à Europa e a Portugal: as necessidades de capital que os bancos sentem leva-os esticar os spreads. Isso não é uma boa notícia para quem quer comprar casa ou transferir o crédito à habitação: em Janeiro, os novos empréstimos concedidos tiveram uma taxa de juro efectiva média de 5,81 por cento, um valor que não se registava há mais de 5 anos.
As simulações que a Carteira efectuou no início de Abril junto das 10 maiores instituições credoras reflectem taxas ligeiramente superiores já a rondar os 6 por cento. Aliás, em alguns casos mais complicados (financiamento da totalidade do valor escriturado ou reduzidos rendimentos dos mutuários) muitos bancos já propõem spreads em torno dos 2 por cento ou mesmo superiores. É o caso do Santander Totta, cujos spreads vão até 2,5 por cento, ou o Millennium bcp, onde podem atingir os 2 por cento, segundos os seus preçários.
O Banco Comercial Português, que opera sob a marca Millennium bcp, pode ser a instituição que tem mais necessidades de capital, já que é o que propõe o spread mais elevado no caso investigado pela Carteira: 1 por cento. Todos os outros oferecem valores entre 0,49 por cento e 0,95 por cento, à excepção do Banco Popular, detido na totalidade pelo Banco Popular Espanõl, que propõe um spread de 0,29 por cento ao casal de 35 anos que necessita de 120 mil euros durante 30 anos para completar a aquisição do seu apartamento.
Antes de contratar um crédito novo ou de transferir o antigo, não se esqueça que as prestações não são tudo. É normal os bancos exigirem que tenha alguns produtos. As conta-ordenado, as domiciliação de pagamentos, os cartões de crédito e de débito e os seguros de vida e multirriscos são os mais usuais. É importante que faça as suas contas incluindo estes elementos. Por exemplo, embora o Banco Popular tenha o spread mais baixo, é também a instituição que mais cobra pelos seguros. No caso simulado, os seguros somavam cerca de 53 euros por mês, quase o dobro da média da concorrência. Além dos seguros, há bancos que cobram para processarem as prestações. Mais uma vez, o Banco Popular é o mais caro. Para não ficar com qualquer dúvida, exija o cálculo da taxa anual efectiva. Por imposição legal, a TAE tem de incluir todos os elementos associados ao empréstimo, nomeadamente as comissões bancárias, os juros, as despesas de avaliação e de análise do processo, além do montante e do prazo do crédito. Assim, analisando a TAE, a proposta do Crédito Agrícola, com um spread de 0,49 por cento, fica mais em conta do que a oferta do Banco Popular.
No investir é que está o ganho
O banco não serve apenas para emprestar dinheiro. É também através dele que a maioria das pessoas procura capitalizar as suas poupanças. Se precisa de ajuda para acumular dinheiro, então não vá mais longe que um balcão do Santander Totta ou do Banco BPI, se tiver de optar entre as 10 maiores instituições financeiras em Portugal. Analisando a performance de um portefólio diversificado de fundos - acções, obrigações e tesouraria -, as sociedades gestoras destes bancos foram as únicas capazes de acumular um ganho anual líquido superior a 8 por cento nos últimos 5 anos.
A Santander Asset Management destaca-se entre os fundos de acções portuguesas: o Santander Acções Portugal ganhou 150 por cento nos últimos 5 anos, mais 40 pontos percentuais do que o pior fundo da classe, o Caixagest Acções Portugal. Além disso, o Santander Acções Europa e o Santander Multibond Premium, um fundo de obrigações de taxa variável, também se salientam entre os concorrentes.
A BPI Gestão de Activos já é reconhecida pelo BPI Reestruturações (que não entrou nas simulações efectuadas), o fundo que tem sido mais recomendado pela Carteira. Contudo, outros fundos se destacam na oferta do Banco BPI, como o BPI Euro Taxa Fixa, o fundo de obrigações europeias de taxa fixa que mais rendeu nos últimos cinco anos, mais de 15 por cento em termos acumulados.
Não menospreze a diferença de 1,75 por cento por ano de rendibilidade entre os fundos do Santander Totta e da Caixa Geral de Depósitos: numa aplicação de 25 000 euros, isso representa um ganho inferior em cerca de 3200 euros em 5 anos. Ou visto de outro prisma: se pensar em investir 10 000 euros num fundo de acções europeias durante 20 anos para preparar a reforma e se os fundos mantiverem o desempenho dos últimos 5 anos, então se escolher o Montepio Acções Europa, o melhor, conseguirá 97 850 euros, quase mais 40 000 euros do que obterá apostando no Espírito Santo Acções Europa, o pior entre as gestoras dos 10 maiores bancos.
Factores secundários
Não são as vantagens da conta-ordenado que conduzem alguém à mudança de banco, mas podem dar um empurrãozinho. Se está à procura da conta-ordenado certa, então concentre nos seguintes elementos: possibilidade de antecipação do vencimento, isenção do pagamento de comissões de manutenção de conta, domiciliação gratuita de pagamentos periódicos, autorização de crédito gratuito (ou seja, um descoberto bancário autorizado) e ofertas das anuidades de cartões de débito e de crédito. A maioria dos banco cumpre os requisitos mínimos, por isso tem de procurar algo que diferencie a sua futura conta-ordenado. Por exemplo, o Montepio é o único a oferecer o seguro automóvel, embora imponha várias restrições que nem todos podem cumprir. Contudo, pode ser mais importante ter o saldo da sua conta a pingar alguns juros. Se é isso que lhe interessa, procure a conta Banif Triplus ou as contas-ordenado do BPN. Neste último caso, consegue uma taxa anual líquida de 0,4 por cento se tiver 500 euros ou mais de saldo. Sempre é qualquer coisa... O Santander Totta tem agora uma campanha que, associada à conta-ordenado, oferece uma poupança à taxa anual bruta de 10 por cento durante 1 ano. Porém, o pagamento de juros é efectuado no final de 1 ano e, se necessitar retirar capital, perde a totalidade dos juros.
Quantas vezes vai a museus ou aluga automóveis por ano? Quatro vezes, talvez. Então, porque é que paga mais de 50 euros por ano por um cartão de crédito que lhe dá acesso aos museus portugueses ou lhe reduz o preço do aluguer do carro? Quando adquirir um cartão de crédito, a primeira preocupação deve ser a anuidade e garantir que não acumula dívidas após o prazo de isenção de juros. Não olhe apenas para a primeira anuidade, normalmente de borla. Analise também as anuidades seguintes e as do segundo titular. No artigo "Custo da Ignorância", publicado na passada edição de Março, sugerimos cinco cartões: o Millennium bcp Mastercard, o BPN Classic, o Crédito Agrícola Visa Classic, o Caixa Classic e o BPI Gold. São um bom ponto de partida para pesquisa do cartão certo para si.
A maioria das pessoas não liga muito, mas os pequenos gastos bancários somam algumas dezenas de euros por ano. Por isso, antes de pedir um cartão Multibanco, uma caderneta de cheques, realizar uma transferência bancária ou uma operação de bolsa, analise muito bem quanto vai pagar. Por exemplo, enquanto a Caixa Geral de Depósitos e o Banco BPI não cobram nas transferências interbancárias realizadas pela internet, o Banco Espírito Santo exige 1,12 euros, o que mesmo assim é menos do que pagaria ao balcão (3,75 euros) no mesmo banco.