Economia

Criptomoedas e renmimbi podem disputar supremacia do dólar, avisa o FMI

O aviso é da vice-diretora-geral do Fundo Monetário Internaciona, Gita Gopinath, que alerta que a invasão da Ucrânia pela Rússia pode significar uma fragmentação do mundo em áreas dominadas por moedas diferentes

Gita Gopinath. Foto: FMI

O papel do dólar como moeda dominante no sistema financeiro internacional pode sofrer uma erosão devido às sanções aplicadas à Rússia, alertou em entrevista ao "Financial Times" a vice-diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Gita Gopinath. O mundo poderá reorganizar-se em blocos separados nos quais uma moeda é dominante, fragmentando o que antes era dominado pela moeda norte-americana. E o renmimbi (moeda chinesa) e as criptomoedas poderão ver a sua adopção acelerada com a guerra.

As sanções, que implicam congelamentos de reservas do banco central russo no exterior, podem estar a "empurrar" países para outra moeda de reserva, disse. A Rússia tinha um quinto dos ativos de reserva denominados em dólar, e grande parte deles em países como França e Reino Unido, neste momento a impor sanções ao país.

"O dólar continuaria a ser a principal moeda global, mesmo nesse panorama. Mas uma fragmentação a um nível mais pequeno claro que é possível (...). Já estamos a ver que em alguns países estão a renegociar a moeda na qual são pagos no comércio que fazem", disse ao jornal britânico numa entrevista publicada esta quinta-feira, 31 de março.

Sobre as criptomoedas e a criação de moedas digitais pelos bancos centrais, conhecidas como CBDCs, estas “estão a ter cada vez mais atenção devido a casos recentes, o que nos leva à questão da regulação internacional, uma falha a ser preenchida", disse, aludindo ao uso das criptomoedas por parte de cidadãos russos para contornar sanções.

“Os países tendem a acumular reservas em moedas com as quais fazem comércio no resto do mundo, e nas quais pedem crédito ao resto do mundo", o que fará com que moedas como o dólar australiano e o renmimbi chinês possam passar a ser utilizadas como moeda de reserva pelos bancos centrais de todo o mundo. Porém, apesar da percentagem de reservas internacionais em dólares ter caído de 70% para 60% em 20 anos, a quota em renmimbis era abaixo dos 3%. O que indicava que era improvável que o dólar perdesse o seu estatuto nos próximos tempos, segundo Gopinath.

O renmimbi teria, para ser mais dominante do que o dólar, de assegurar “total convertibilidade da moeda, ter mercados de capitais abertos e instituições que os suportem”, argumentou.