Os tripulantes de cabina não têm dúvidas: querem que as negociações do plano de reestruturação da TAP com os sindicatos sejam conduzidas pelo ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, e seja ele o mediador com a administração da empresa. Quem o diz ao Expresso é o presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), Henrique Louro Martins. “O sindicato sente-se excluído, e tudo isto é também responsabilidade do Governo. O senhor ministro tem de tomar conta do dossiê das negociações”, defende o sindicalista. “Já passou tempo de mais, há uma enorme ansiedade nos trabalhadores. É preferível que seja o senhor ministro a mediar este processo. É preciso uma voz mais forte, alguém que assuma um compromisso, porque o objetivo é que a TAP saia vencedora.” E vai mais longe: diz que gostaria de ver o primeiro-ministro, António Costa, em Bruxelas a defender que a TAP tem de ser reestruturada ao abrigo das regras de exceção por causa da covid, e não fora do quadro temporário de auxílio, como está a acontecer.
Para o SNPVAC, a prioridade é preservar os postos de trabalho. Algo que para já não será conseguido, dado que vão sair até março cerca de mil tripulantes com contrato a prazo. “A TAP está a poupar muito em massa salarial com os tripulantes”, atira. Louro Martins defende que os cortes, a existirem, têm de ser transversais e equitativos.
Repisa a ideia de falta de capacidade de comunicação da administração da TAP. “Temos aqui problemas sociais muito graves. Há tripulantes que perderam dois terços do salário e estão assim há meses”, lamenta. Defende ainda que o problema da TAP é de dívida, e não de viabilidade. “A situação da TAP terá de ser resolvida com mais dívida”, admitiu. Considerando que ela será paga no futuro, quando a TAP voltar à normalidade.
É muito provável que o desejo do SNPVAC se torne realidade. Pedro Nuno Santos disse esta semana no Parlamento que a primeira fase da reestruturação da TAP está concluída e que irão começar desde já as negociações com os sindicatos. Os contactos ainda estão a ser feitos. O governante deixou, porém, uma mensagem: o plano de reestruturação “vai ser exigente” e terá de ser feito com “responsabilidade”. “Temos uma companhia sobredimensionada para a realidade atual e temos de conseguir um plano de reestruturação que garanta que a companhia será viável e sustentável.” É um plano a 10 anos.