Economia

Procura de bens e serviços desce com crescimento de soluções alternativas

Projetos Expresso. O ajuste dos níveis de riqueza, o aumento de pressão sobre os preços e a procura de métodos alternativos que fujam ao consumo fazem parte da terceira de seis tendências que pode conhecer ao longo desta semana com o projeto "Portugal 20/21", que junta o Expresso à Deloitte

TEK IMAGE/SCIENCE PHOTO LIBRARY

A crise económica provocada pela pandemia e o encerramento (temporário ou definitivo) de muitas empresas diminuiu o ímpeto de consumo de uma parte substancial da sociedade portuguesa, após alguns anos de crescimento sustentado de dinheiro disponível e, sobretudo, vontade de o gastar nos mais diversos produtos. A quebra de rendimento tem-se acentuado nos últimos meses e a opinião consensual no seio das estruturas económicas é que tal vai traduzir-se num aumento de pressão sobre os preços e na reaprendizagem de competências que permitam poupar na carteira e resolver os problemas do dia a dia sem recorrer tanto às compras.

"A pandemia reduziu o rendimento disponível, o que, aliado à incerteza generalizada, impactou negativamente o consumo em vários sectores", resume o partner da Deloitte, Sérgio do Monte Lee. No "Portugal 20/21: Reshaping the future" - estudo feito pela consultora e que o Expresso vai divulgar ao longo desta semana - uma das seis tendências identificadas é precisamente o efeito negativo da covid-19 em várias áreas associadas a bens ou serviços supérfluos, o que pode resultar numa maior importãncia de opções como o "faça você mesmo", por exemplo (return of the “90s”). Prevê-se que esta queda na procura provoque uma pressão generalizada sobre os preços.

Um dos sectores mais afetados tem sido o da indústria, com a diminuição das exportações a a quebra nos mercados internacionais a originarem uma descida generalizada que, apesar de tudo, revela tendência para abrandar, segundo os dados mais recentes. Os preços na produção industrial baixarem 4,6% em setembro, face a igual mês de 2019, enquanto a queda homóloga foi de 5% no mês prévio, divulgou esta terça-feira o INE. Paralelamente, o mercado de arrendamento também sofreu um impacto negativo, com os valores das rendas a diminuírem drasticamente em Lisboa, sobretudo nas freguesias históricas (muito associadas ao alojamento local), e os preços das casas a revelaram uma tendência para descer. Será uma quebra de 0,6% este ano, segundo um relatório divulgado pela Standard & Poor's.

Menos luxo

De acordo com informações do Governo português, é expectável também uma redução geral dos preços da maioria dos produtos alimentares, por causa do excesso de oferta existente no contexto da pandemia, que em muitos casos fez diminuir a procura. "O consumidor de hoje é um consumidor mais informado e exigente. Por isso, quer soluções cómodas, inovadoras que simplifiquem a sua vida e o acesso aos melhores produtos, adequados às suas necessidades e características, com respeito pela sustentabilidade, mas sempre com garantia do melhor preço", informa Pedro Cid, diretor geral do Auchan Retail Portugal. Se é algo que acontece "independentemente da pandemia", é claro que os ensinamentos dos últimos meses tornam ainda mais importante desenvolver uma "experiência personalizada e inovadora, adaptada às necessidades e contextos" dos consumidores.

Torna-se cada vez mais claro que as mudanças no estilo de vida impostas pela pandemia tiveram um efeito visível na redução da procura de bens supérfluos ou de luxo. É o que diz um estudo da Vogue, que mostra como diversas marcas de “luxo acessível” já declararam falência desde o início do confinamento, enquanto que muitas das marcas do segmento superior registam quebras de vendas significativas, por vezes de dois dígitos.

Por outro lado, assiste-se a um maior foco em fazer, pelas próprias mãos, reparações de equipamentos, pinturas e outras atividades realizadas autonomamente, quer por motivos de redução de custos, quer por razões de mitigação de risco. Não é por acaso que empresas como a Ikea ou a Lowe’s têm apostado na partilha de ideias online com o intuito de acompanhar as tendências e o novo comportamento dos consumidores. Para Sérgio do Monte Lee, "a fragilidade financeira da grande maioria das empresas certamente não ajuda, o que desencadeia ações mais orientadas à sobrevivência que ao exercício mais estratégico a prazo. Os dados recolhidos confirmam uma abordagem tática às novas tendências".

Conheça as restantes três tendências ao longo desta semana no site do Expresso e também na edição em papel de 31 de outubro