Economia

EDP em força nas renováveis, mas só 0,3% são em Portugal

Elétrica tem em construção 2 gigawatts de capacidade eólica e solar, dos quais apenas 6 megawatts no mercado doméstico

Tiago Miranda

A EDP fechou o primeiro semestre com um dos mais elevados registos de nova capacidade renovável em construção. São 2 gigawatts (GW) que o grupo está a desenvolver para instalar nos próximos meses numa dezena de países e que mostram que, apesar da pandemia, o grupo está a aproveitar as oportunidades de negócio para expandir os seus ativos.

Mas deste volume de capacidade eólica e solar em construção só 6 megawatts (MW) estão em Portugal (0,3% do total). A maior parte dos projetos em execução está nos Estados Unidos da América (EUA), com 1093 MW em construção. No Brasil estão a ser construídos 260 MW, no México 200 MW, na Polónia 107 MW e no Canadá 100 MW.

O reduzido peso de Portugal na carteira de novos projetos da EDP estará relacionado com o diminuto leque de oportunidades de expansão num país em que o potencial de crescimento eólico já está muito limitado e em que as oportunidades de investimento em grandes centrais solares parecem estar a escapar ao grupo EDP.

No negócio da produção de eletricidade o mercado doméstico tem sido de desinvestimento para a elétrica, que está em processo de venda de seis barragens (1,7 GW) e que no próximo ano encerrará a central termoelétrica de Sines (1,2 GW).

Das geografias em que a EDP opera só uma não tem qualquer projeto em construção (a Roménia).

No caso de Portugal, e depois de na última rotação de ativos ter alienado 191 MW, a EDP tem agora 1164 MW de capacidade instalada eólica e solar. O mercado nacional pesa menos de 11% no seu parque global nestas duas tecnologias, que continua a ser dominado pelos EUA, com um peso de 54%.

A recomposição da carteira de ativos do grupo liderado interinamente por Miguel Stilwell deverá reduzir a quota de mercado que a EDP tem na produção de eletricidade em Portugal e que dentro de alguns anos deverá ficar dispersa por um maior número de operadores.

Esta recomposição está alinhada com a estratégia da empresa de acelerar a rotação de ativos. Ao vender um elevado volume de ativos, a empresa capta recursos para investir mais rapidamente em novos parques eólicos e solares, que poderá ficar a operar ou alienar, consoante as oportunidades que surjam.

A estratégia tem o senão de reduzir os resultados operacionais do tradicional negócio de produção de eletricidade. Isso foi visível no primeiro semestre: com menos capacidade operacional, a produção da EDP Renováveis baixou e também o EBITDA (resultado antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) encolheu 8%, para €1,16 mil milhões.

Lucro desce 22%

No primeiro semestre o lucro do grupo EDP baixou 22%, para €315 milhões, enquanto o EBITDA recuou 3%, para €1,87 mil milhões. Este resultado, ainda assim, ficou 4% acima das previsões dos analistas que acompanham as ações, segundo notou uma nota de análise do banco Goldman Sachs divulgada esta quinta-feira.

Numa base recorrente, sem efeitos extraordinários, o lucro da EDP até junho teria ascendido a €509 milhões, mais 8% que no período homólogo.

A elétrica encerrou o primeiro semestre com uma dívida líquida de €14,1 mil milhões, mais 2% do que em dezembro.