Economia

Covid-19: como os comboios, o metro, os autocarros e os barcos de Lisboa e do Porto se estão a adaptar ao estado de emergência

A CP voltou a reduzir o número de comboios e limitou a venda de lugares nos Alfa Pendulares e Intercidades. Metros e autocarros de Lisboa e Porto também ajustaram oferta. A procura caiu a pique e há transportes a circular vazios

Francisco Seco

Há ajustamentos na oferta da generalidade dos transportes públicos em Portugal, e o maior impacto sentiu-se a partir do momento em que foi decretado o estado de emergência. Há menos oferta de transportes e há alguns a circularem vazios. A quebra da procura já atingiu os 95%.

No serviço ferroviário houve uma nova redução da oferta esta semana: a CP anunciou que a partir desta quarta-feira já só vai realizar 12 comboios Alfa Pendular e 40 Intercidades por dia na sequência da redução da procura de comboios nos últimos dias por causa da pandemia de Covid-19.

Na semana passada tinha sido anunciada a redução de 16 Alfa e Intercidades a partir de 18 de março. Agora, a partir desta quarta-feira, foram suprimidos mais 18.

Com a declaração de estado de emergência em Portugal pelo Presidente da República, na semana passada, o governo determinou que a lotação nos transportes teria de ser limitada. E por isso a CP decidiu também limitar as vendas nos seus comboios de longa distância, em que há reserva de bilhetes, para um terço da sua capacidade. Com isso garante, diz a empresa em comunicado, “a distância de segurança entre os clientes durante a sua viagem”.

A procura pelos passageiros caiu brutalmente nos últimos dias: “no caso dos comboios Alfa Pendular a quebra é de cerca de 85% e nos comboios Intercidades de cerca de 90%, tendo sido já registadas situações de procura inexistente para alguns destes comboios”, refere a empresa em comunicado.

No caso dos comboios urbanos, “registam-se quebras de procura na ordem dos 70%”, acrescenta a empresa. E aqui, como não há reserva de lugares, a empresa “mantém a monitorização permanente das suas taxas de ocupação, para avaliação contínua da necessidade de proceder a eventuais novos ajustamentos que se revelem necessários e possíveis, no contexto dos recursos humanos e materiais disponíveis”.

A CP refere que, “no caso dos comboios Alfa Pendular a quebra é de cerca de 85% e nos comboios Intercidades de cerca de 90%, tendo sido já registadas situações de procura inexistente para alguns destes comboios. Já nos comboios urbanos, registam-se quebras de procura na ordem dos 70%”.

Menos 350 comboios na semana passada em todo o país

Na semana passada a CP já tinha anunciado uma redução significativa do número de comboios. No total foram suprimidos cerca de 350 comboios em todas as linhas (longo curso, inter-regionais, regionais e urbanos de Lisboa, Porto e Coimbra). A que se juntam agora os 18 dos Alfa e Intercidades.

A generalidade dos comboios têm estado vazios ao longo do dia, à exceção da Linha de Sintra, onde se tem verificado alguma pressão do lado da procura logo nos primeiros comboios da manhã. Tal leva a situações em que a distância mínima de segurança entre as pessoas que por ali se deslocam não é respeitada.

No caso dos outros serviços urbanos da CP na zona de Lisboa ou nos do Porto, essa questão não se tem colocado: os comboios vêm regra geral vazios. Por exemplo na Linha de Cascais, que liga esta vila a Lisboa, o Expresso comprovou que por carruagem não há mais do que 3 ou 4 passageiros nos comboios ao longo do dia.

Se no lado dos urbanos é mais difícil controlar a lotação, nos comboios de longo curso é mais fácil porque o número de bilhetes é controlado já que só há lugares sentados.

Nos transportes públicos de Lisboa e do Porto também já foram feitos ajustamentos.

No caso de Lisboa foram alterados esta segunda-feira nos horários e ofertas da Carris, Transtejo e Metro. A Transtejo apresentou uma forte quebra da procura na primeira manhã em estado de emergência, na quinta-feira, dia em que a procura caiu a pique, recuando 95%. Houve cacilheiros a cruzar o Tejo na hora de ponta vazios. E há autocarros e elétricos a percorrer Lisboa sem passageiros. A Carris também fez ajustamentos mas pontuais, e não estritamente relacionados com a procura, mantendo a oferta acima desta. O Metro de Lisboa adotou o horário de fim de semana e fechou alguns átrios secundários.

Transtejo: quebras vertiginosas da procura​

Desde segunda-feira há novos horários em todas as cinco ligações fluviais - Barreiro, Cacilhas, Montijo, Seixal e Trafaria -, resultantes do ajustamento da oferta ao atual estado de emergência do país, disse ao Expresso fonte oficial da Transtejo. A quebra da procura tem sido acentuada na generalidade das ligações. O Barreiro é o destino que mantém uma procura mais elevada: caqiu 78% face ao início do mês, contra os 95% dos restantes quatro destinos. E é por isso também o trajeto que tem a oferta mais estabilizada.​

"Os novos horários foram definidos tendo em conta o cumprimento do limite de passageiros transportados em cada viagem. Uma medida que visa garantir a indispensável distância social de segurança entre passageiros e tripulações", explica a transportadora.​

A redução da procura é acentuada na Transtejo, e aprofundou-se depois de declarado o estado de emergência na passada quarta-feira, com maiores restrições na circulação e uma grande parte das pessoas em teletrabalho. "Na primeira manhã de oferta em estado de emergência, manteve-se o cenário de decréscimo acentuado da procura (- 95% face ao início do mês), não tendo sido registada qualquer irregularidade ou ocorrência no normal funcionamento do serviço de transporte público fluvial, em qualquer uma das cinco ligações".

A Transtejo esclarece que "no horário de ponta da manhã, foram realizadas inúmeras viagens sem passageiros". Por ter uma quebra menos acentuada, a oferta específica da ligação Barreiro – Terreiro do Paço "encontra-se estabilizada com uma maior frequência entre viagens, especialmente nos designados horários de ponta (início da manhã e final da tarde), onde os intervalos entre viagens são de 10-10 minutos e de 15-15 minutos", detalha a Transtejo.

Carris: ajustamentos pontuais​

Na Carris os ajustamentos são pontuais. E já está em vigor desde segunda-feira o horário de verão nos autocarros e horário de novembro-fevereiro nos elétricos. A empresa disse ao Expresso que "têm sido feitos ajustes, com o objetivo de garantir que mantemos condições de operacionalidade durante o tempo que esta situação durar. A oferta da Carris tem sido garantida de forma eficaz e acima da procura existente", assegura fonte oficial. A Carris não pode avançar com números da procura, porque deixou de ter validações.​

As carreiras de bairro, esclarece ainda a Carris, estão suspensas desde este sábado, 21 de Março, com exceção de cinco que se mantêm a funcionar: a 26B, 34B, 40B, 41B. ​

Metro de Lisboa a funcionar em horário de fim de semana​

Segunda-feira foi também o dia em que o Metro de Lisboa fez ajustamentos adicionais à oferta e ao funcionamento de serviços e passou a adotar o horário de fim de semana. Fê-lo "tendo em conta a redução que se tem verificado na procura na sua rede".

"O Metropolitano de Lisboa passará, assim, a funcionar, em todas as linhas, em horário de fim de semana, mantendo a circulação com comboios de seis carruagens, circulando, no período noturno, com comboios de três carruagens", avançou fonte oficial. E empresa esclarece que "a oferta está adequada às medidas de segurança e à distância entre clientes", por forma "a assegurar o transporte de todos os que se encontram a trabalhar e que necessitam de se deslocar em transportes públicos".​

Metro do Porto opta por reduzir horários e alargar o espaço

Menos veículos, mas sempre com mais espaço. Esta é a síntese da política seguida pelo Metro do Porto na adaptação ao estado de emergência e consequentes quebras na procura.

Diariamente, das 6h às 20h, a regra é as composições circularem sempre em dupla, juntando dois veículos para aumentar a área útil disponibilizada aos passageiros. Entre as 20h e a 1h, circulam apenas veículos simples.

Combinando isto com os novos horários, há uma redução de 60% da capacidade máxima, mas a quebra da procura passa os 80%.

“Se em condições normais, transportávamos 280 mil passageiros, no passado dia 17, o último dia de validações, contamos apenas 50 mil passageiros”, refere fonte da empresa ao Expresso.

Quanto aos horários, a linha amarela (Hospital de S. João – Santo Ovídeo), que responde por um terço da procura, viu os intervalos de tempo entre a passagem do metro mais do que duplicar, de seis minutos e meio para 15 minutos. Nas outras linhas, os intervalos de 10 a 15 minutos passaram a ser de 30 minutos.

STCP adotou horários de sábado

A oferta da STCP - Sociedade de Transportes Colectivos do Porto foi alterada na segunda-feira. A empresa passou a funcionar com o horário de “sábado” nos dias úteis, mantendo sem qualquer alteração, os horários de domingos e feriados.

Em algumas linhas, a STCP vai prolongar os horários de nos dias úteis, de forma a reduzir o transbordo de passageiros. É o caso das Linhas 207 (Campanhã-Mercado Foz), 302 (circular Aliados-Damião de Góis), 303 (Circular Pç. Liberdade-Constituição) e 804 (Hosp. S. João-S. Pedro da Cova).

A Linha 907 (Boavista-Vila d’Este) será também reforçada entre Sto. Ovídio e Vila d’Este, em Vila Nova de Gaia, nas horas de ponta.

Adicionalmente, a STCP aloca viaturas de maior capacidade (articulados) nas linhas em que existe expectativa de ter lotação próxima dos máximos definidos em determinadas viagens (1/3 da lotação dos autocarros).

Mas a empresa compromete-se a continuar a acompanhar o comportamento da procura, de modo a fazer os ajustes necessários de forma a garantir a lotação de segurança em todas as suas linhas.

A STCP, o maior operador de transportes públicos da área metropolitana do Porto, opera 73 linhas que circulam em seis concelhos - Gaia, Gondomar, Maia, Matosinhos, Porto e Valongo – tendo admitido ao Expresso que a afluência, no final da semana passada tinha caído 80% face a 2019 em muitos períodos do dia.